terça-feira, 29 de junho de 2021

SECTOR DOS EVENTOS AINDA LONGE DA RECUPERAÇÃO

 Depois de, no primeiro Verão condicionado pela pandemia, muitas festas de casamento, baptizados ou outros eventos familiares terem sido adiados, havia a expectativa de que o sector iria recuperar e que muitas das festas iriam acontecer este ano, mas tendo em conta que as condições sanitárias ainda não permitem que estas celebrações decorram como antes, muitas estão a ser novamente adiadas.
A incerteza quanto à evolução da pandemia, as regras de restrição de lotação dos espaços ou a obrigatoriedade de realização de testes são alguns dos factores que têm levado a desmarcação ou adiamento destes eventos. 
Carlos Sá e a noiva tinham pensado casar em 2020, mas com a pandemia adiaram para este ano, estando reagendado para meados de Agosto. “Já tínhamos a data marcada para o ano passado, mas como estava ainda mais complicado do que agora, decidimos adiar para este ano, agora voltamos a pensar em anulá-lo, não sei”, afirma, porque “depende de como as coisas evoluírem nos próximos dias”. Também a necessidade de realização de testes está a levar o casal a ponderar adiar a boda mais uma vez. “Vamos ter 100 pessoas no casamento, se cada teste custa 30 a 50 euros, não compensa, não vale a pena estar a fazer um evento com este custo acrescido”, refere e queixa-se de falta de informação em relação ao processo. “Não sabemos que testes têm de ser feitos, se é à chegada à igreja, acho que deviam ser mais claros nessa matéria”, sublinhou. 
Naturais de Bragança, os noivos moram em França e já estão vacinados, bem como a maioria dos convidados, nomeadamente os que também vêm do estrangeiro, tendo ficado, por isso, mais tranquilos com a decisão de implementação em breve de um passe sanitário. Mas a lotação do espaço é outra das preocupações, porque “entre estar a retirar pessoas convidadas ou adiar, é preferível adiar” para o próximo ano, afirma. Carlos diz que já têm tudo organizado há muito tempo e conta que se forem obrigados a adiar mais um ano “aquela vontade de realizar o casamento já passa um bocadinho”. 
Viriato Lico, proprietário da Quinta Pata da Moura, no concelho de Bragança, conta que muitos clientes “já marcaram do ano passado para este e já estão a remarcar para o próximo ano”, porque “ainda não sentem confiança para fazer o evento”. Este Verão há poucas marcações, mas diz que tem tido muitas reservas para 2022. “Há mais de seis meses que estão a marcar é para o próximo ano, estão a abdicar deste e a marcar para o próximo. As pessoas querem estar à vontade com a família e amigos e não sentem ainda confiança para isso”, sublinhou o empresário. Este ano, ainda só fez um evento na quinta localizada na freguesia de Meixedo, mas com apenas cerca de duas dezenas de pessoas. Nos meses de Julho e Agosto costuma ter a agenda cheia, com mais de 20 marcações, mas nos próximos meses tem cerca de 6 a 7 eventos, por isso, agora está a apostar noutra vertente do negócio, o turismo rural, que garante “está a pegar moda”. “Nessa parte, as coisas vão funcionando, é o que me tem de pé, porque a vertente dos eventos continua a ser um fiasco”, refere. 
O empresário conta que algumas das marcações não estão certas. Ainda recentemente, Viriato viu adiado mais uma vez um evento. “Ia ter um casamento no dia 8 de Agosto e acabaram por desmarcar há uns dias, porque os padrinhos tinham as vacinas marcadas para dois ou três dias depois, na Suíça, e havia muitos convidados que não podiam vir por razões relacionados com a covid”, conta. Noutro caso foi mesmo cancelado um casamento que seria realizado juntamente com um baptizado. “Entretanto, decidiram fazer o baptizado em casa, só com as pessoas da família e abdicaram do casamento, porque só iriam fazer o casamento porque iam juntar ao baptizado”, contou. Quanto à necessidade de realizar testes em eventos familiares, como casamentos e baptizados, com mais de 10 pessoas, refere que ainda não está bem a par do que terá de ser feito, mas garante que se vai informar para saber quais as exigências, mas se o processo for demasiado complexo admite que prefere não realizar os eventos. “Vamos cumprir as regras, mas não vou arriscar”, referiu. 
Paulo Gomes, da Quinta das Queimadas em Bragança, confirma que, no último ano, no espaço que gere se realizaram menos eventos e “mais pequenos”, alguns “de 50 a 80 pessoas passaram para 15 a 20 pessoas”. “Os que não quiseram adiar, viram o evento ser muito mais pequeno”, referiu, dizendo que “são os próprios convidados que muitas vezes acabam por não se sentirem prontos para irem a determinadas festas familiares”. Segundo o empresário, este ainda não é o ano de recuperação do sector. “Em 30 anos de actividade nunca passei por uma crise como esta”, frisa. “Houve no início alguma esperança que este ano fosse melhor que o anterior, o que acabou por suceder é que praticamente não mudou muito. Os eventos continuam a ser pequenos e poucos”, referiu. 
Paulo Gomes conta também que alguns casamentos remarcados do ano passado voltaram este ano a ser adiados para 2022. “Acabam por ver que não estão reunidas as condições ideias para fazer a festa e adiam”, constata. Também aqui a vertente do alojamento cresceu, “houve uma afluência bastante grande de turistas que vieram para Bragança passar umas férias”, mas em termos de eventos “houve realmente muito menos e as marcações que tinha foram adiadas”. 
Quanto aos testes, entende que não devem ser obrigatórios nestas festas. “Acho que as pessoas têm de ter alguma responsabilidade, quando vão a determinados eventos têm de ter consciência que para estarem presentes têm de tomar algumas precauções”, referiu. Também o fotógrafo Rui Pereira diz que a tendência é o adiamento das festas por mais um ano. “O ano passado houve uns três casamentos, os outros foram cancelados. Este ano estão a adiar outra vez e ninguém está a marcar de novo”, conta. Alguns do ano passado estão marcados, mas ainda há incerteza de que se vão realizar. 
“Já há alguma recuperação, alguns vão realizar-se, agora outros estão com medo e a adiar”, avança. Uma decisão que se prende com o facto de os familiares não virem. Por outro lado, afirma que tem agendados trabalhos para muitos baptizados. “Nestes casos, os convidados são poucos, por isso estão a marcar mais”, o que significa uma facturação mais baixa. 
“A nível de trabalho ocupa quase o dia todo e claro que os lucros são muito menores”, referiu.

Jornalista: 
Olga Telo Cordeiro

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