Por: António Pires
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
A máxima pessoana, segundo a qual “o valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem…”, faz-me recuar ao início dos anos 60 do século passado, quando morei na “Bila”, 5 memoráveis anos. Foi aqui que tive pela primeira vez a noção da verdadeira amizade, desinteressada, do sentido comunitário e de pertença. Apesar de ter saído de lá com dez anos, a Bila nunca deixou de me pertencer e tenho plena consciência de que também lhe pertenço. Tenho por ela um amor incondicional, uma ligação visceral.
Porque andaram comigo ao colo, porque me deram rebuçados e muitos beijos, porque me levavam a passear até à cidade, não poderia deixar de evocar aquelas meninas que marcaram a minha infância e por quem tenho uma venerada consideração e uma impagável dívida de gratidão: a Carolina Eiras, a Laila Vieira, a Dina e a Armanda Sena.
Dando continuidade ao texto anterior, importa relevar a minha precocidade para os “bailaricos do pó na cabeça”, onde me iniciei, apenas com 7 anos, dentro das muralhas do Castelo.
A Bila de então era, por assim dizer, a Meca dos bailes da cidade. O baile mais afamado das redondezas era realizado na Bila, no dia de Páscoa, impreterivelmente no largo do Pelourinho, da Porca, em frente à casa do clã Sena. O dito era abrilhantado pela aparelhagem sonora do velho Tangerina (presença habitual, durante muitos anos, na festa de S. Joanico), vulgo, altifalantes.
Enquanto, nesse dia festivo, os meus amigos de infância, o Nando Potchinho, o Tã Sena, o Fernando Correia, o Guto, o António Luis “Terrão”, o Toninho Martiniano ( irmão do Zé Preto), o Vitor Mexugas e outros, andavam a brincar ó “está – quieto”, ó “esconde – esconde, a jogar à bola na Parada e ao “arranca trigo”, eu dançava, qual adulto, todo entusiasmado, desde o início ao fim do arraial.
Como todos os miúdos, apreciava muito os doces, os rebuçados (da Régua), os licores e as laranjadas do Senhor Daniel Gonçalves, (tudo de fabrico caseiro), que algumas senhoras ali dispunham p´ra venda. A tia Cândida Tremoceira, genuína bileira, que morava na primeira casa à direita, depois do arco principal, marcava presença com o seu enorme alguidar azul cheio de tremoços.
Recordo, como se fosse hoje, as músicas que ressoavam a partir dos gira – discos. Entre muitas outras em voga, não havia par apaixonado que dispensasse um “Receba as flores que eu lhe dou”, ou, no mesmo ritmo, “ Lady Laura”. O “ E viva la España” era o passo - doble que provocava intensas nuvens de poeira.
A “minha” dama e insubstituível par de dança era a sempre graciosa e simpática Aida Sena, a minha primeira paixão. Havia o hábito de, como forma de angariar dinheiro para pagar as despesas, a Comissão de Festas enviar “embaixadores” para o meio do recinto de baile, “cravando” um chocolate ou uma rosa ao cavalheiro para oferecer à ladie. Foi num desses momentos que me senti adulto, ainda que cronológica e mentalmente fosse uma criança - teria uns 8 anos. Como era um petiz, e porque, naquelas circunstâncias, só entregavam o chocolate aos homens de barba rija, enquanto bailava, ousei, com o dedo indicador, requerer a presença do “chocolateiro/a”, para ter a oportunidade de botar figura perante a Aidinha. Saquei duma moedita e, com grande jactância e um umbigo que não me cabia na barriga, obsequiei-a com um chocolatinho e uma rosa vermelha.
São as boas memórias que guardo com emocionada satisfação. Como “bileiro”, gostaria de ver retomados estes bailaricos, se possível com o mesmo figurino. Porque ainda há doceiras e tremoceiras, ainda há chocolates e rosas, ainda há licores e rebuçados da Régua, ainda há gira -discos e altifalantes…
Porque andaram comigo ao colo, porque me deram rebuçados e muitos beijos, porque me levavam a passear até à cidade, não poderia deixar de evocar aquelas meninas que marcaram a minha infância e por quem tenho uma venerada consideração e uma impagável dívida de gratidão: a Carolina Eiras, a Laila Vieira, a Dina e a Armanda Sena.
Dando continuidade ao texto anterior, importa relevar a minha precocidade para os “bailaricos do pó na cabeça”, onde me iniciei, apenas com 7 anos, dentro das muralhas do Castelo.
A Bila de então era, por assim dizer, a Meca dos bailes da cidade. O baile mais afamado das redondezas era realizado na Bila, no dia de Páscoa, impreterivelmente no largo do Pelourinho, da Porca, em frente à casa do clã Sena. O dito era abrilhantado pela aparelhagem sonora do velho Tangerina (presença habitual, durante muitos anos, na festa de S. Joanico), vulgo, altifalantes.
Enquanto, nesse dia festivo, os meus amigos de infância, o Nando Potchinho, o Tã Sena, o Fernando Correia, o Guto, o António Luis “Terrão”, o Toninho Martiniano ( irmão do Zé Preto), o Vitor Mexugas e outros, andavam a brincar ó “está – quieto”, ó “esconde – esconde, a jogar à bola na Parada e ao “arranca trigo”, eu dançava, qual adulto, todo entusiasmado, desde o início ao fim do arraial.
Como todos os miúdos, apreciava muito os doces, os rebuçados (da Régua), os licores e as laranjadas do Senhor Daniel Gonçalves, (tudo de fabrico caseiro), que algumas senhoras ali dispunham p´ra venda. A tia Cândida Tremoceira, genuína bileira, que morava na primeira casa à direita, depois do arco principal, marcava presença com o seu enorme alguidar azul cheio de tremoços.
Recordo, como se fosse hoje, as músicas que ressoavam a partir dos gira – discos. Entre muitas outras em voga, não havia par apaixonado que dispensasse um “Receba as flores que eu lhe dou”, ou, no mesmo ritmo, “ Lady Laura”. O “ E viva la España” era o passo - doble que provocava intensas nuvens de poeira.
A “minha” dama e insubstituível par de dança era a sempre graciosa e simpática Aida Sena, a minha primeira paixão. Havia o hábito de, como forma de angariar dinheiro para pagar as despesas, a Comissão de Festas enviar “embaixadores” para o meio do recinto de baile, “cravando” um chocolate ou uma rosa ao cavalheiro para oferecer à ladie. Foi num desses momentos que me senti adulto, ainda que cronológica e mentalmente fosse uma criança - teria uns 8 anos. Como era um petiz, e porque, naquelas circunstâncias, só entregavam o chocolate aos homens de barba rija, enquanto bailava, ousei, com o dedo indicador, requerer a presença do “chocolateiro/a”, para ter a oportunidade de botar figura perante a Aidinha. Saquei duma moedita e, com grande jactância e um umbigo que não me cabia na barriga, obsequiei-a com um chocolatinho e uma rosa vermelha.
São as boas memórias que guardo com emocionada satisfação. Como “bileiro”, gostaria de ver retomados estes bailaricos, se possível com o mesmo figurino. Porque ainda há doceiras e tremoceiras, ainda há chocolates e rosas, ainda há licores e rebuçados da Régua, ainda há gira -discos e altifalantes…
António Pires
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