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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 18 de julho de 2023

Os Famosos Bailes de Páscoa na “Bila”

Por: António Pires 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

A máxima pessoana, segundo a qual “o valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem…”, faz-me recuar ao início dos anos 60 do século passado, quando morei na “Bila”, 5 memoráveis anos. Foi aqui que tive pela primeira vez a noção da verdadeira amizade, desinteressada, do sentido comunitário e de pertença. Apesar de ter saído de lá com dez anos, a Bila nunca deixou de me pertencer e tenho plena consciência de que também lhe pertenço. Tenho por ela um amor incondicional, uma ligação visceral.
Porque andaram comigo ao colo, porque me deram rebuçados e muitos beijos, porque me levavam a passear até à cidade, não poderia deixar de evocar aquelas meninas que marcaram a minha infância e por quem tenho uma venerada consideração e uma impagável dívida de gratidão: a Carolina Eiras, a Laila Vieira, a Dina e a Armanda Sena.
Dando continuidade ao texto anterior, importa relevar a minha precocidade para os “bailaricos do pó na cabeça”, onde me iniciei, apenas com 7 anos, dentro das muralhas do Castelo.
A Bila de então era, por assim dizer, a Meca dos bailes da cidade.  O baile mais afamado das redondezas era realizado na Bila, no dia de Páscoa, impreterivelmente no largo do Pelourinho, da Porca, em frente à casa do clã Sena. O dito era abrilhantado pela aparelhagem sonora do velho Tangerina (presença habitual, durante muitos anos, na festa de S. Joanico), vulgo, altifalantes.
Enquanto, nesse dia festivo, os meus amigos de infância, o Nando Potchinho, o Tã Sena, o Fernando Correia, o Guto, o António Luis “Terrão”, o Toninho Martiniano ( irmão do Zé Preto), o Vitor Mexugas e outros, andavam a brincar ó  “está – quieto”, ó “esconde – esconde, a jogar à bola na Parada e ao “arranca trigo”, eu dançava, qual adulto, todo entusiasmado, desde o início ao fim do arraial.
Como todos os miúdos, apreciava muito os doces, os rebuçados (da Régua), os licores e as laranjadas do Senhor Daniel Gonçalves, (tudo de fabrico caseiro), que algumas senhoras ali dispunham p´ra venda. A tia Cândida Tremoceira, genuína bileira, que morava na primeira casa à direita, depois do arco principal, marcava presença com o seu enorme alguidar azul cheio de tremoços.
Recordo, como se fosse hoje, as músicas que ressoavam a partir dos gira – discos. Entre muitas outras em voga, não havia par apaixonado que dispensasse um “Receba as flores que eu lhe dou”, ou, no mesmo ritmo, “ Lady Laura”. O “ E viva la España” era o passo -  doble que provocava intensas nuvens de poeira.
A “minha” dama e insubstituível par de dança era a sempre graciosa e simpática Aida Sena, a minha primeira paixão. Havia o hábito de, como forma de angariar dinheiro para pagar as despesas, a Comissão de Festas enviar “embaixadores” para o meio do recinto de baile, “cravando” um chocolate ou uma rosa ao cavalheiro para oferecer à ladie.  Foi num desses momentos que me senti adulto, ainda que cronológica e mentalmente fosse uma criança - teria uns 8 anos. Como era um petiz, e porque, naquelas circunstâncias, só entregavam o chocolate aos homens de barba rija, enquanto bailava, ousei, com o dedo indicador, requerer a presença do “chocolateiro/a”, para ter a oportunidade de botar figura perante a Aidinha. Saquei duma moedita e, com grande jactância e um umbigo que não me cabia na barriga, obsequiei-a com um chocolatinho e uma rosa vermelha.
São as boas memórias que guardo com emocionada satisfação. Como “bileiro”, gostaria de ver retomados estes bailaricos, se possível com o mesmo figurino. Porque ainda há doceiras e tremoceiras, ainda há chocolates e rosas, ainda há licores e rebuçados da Régua, ainda há gira -discos e altifalantes…

António Pires


António Pires
, natural de Vale de Frades/S. Joanico, Vimioso.
Residente em Bragança.
Liceu Nacional de Bragança, FLUP, DRAPN.

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