Desde o século XIX até à atualidade, vários etnógrafos portugueses destacaram-se pelos seus contributos inestimáveis para a compreensão da cultura popular e das identidades regionais do país.
Entre os mais reconhecidos, podemos mencionar José Leite de Vasconcelos, Jorge Dias, Michel Giacometti, Ernesto Veiga de Oliveira, Benjamim Enes Pereira, Manuel Viegas Guerreiro e Fernando Galhano.
José Leite de Vasconcelos (1858-1941) é frequentemente considerado o pai da etnografia portuguesa. Filólogo, arqueólogo e etnógrafo, foi um dos primeiros a sistematizar o estudo da cultura popular portuguesa.
Fundou o Museu Etnológico Português (hoje Museu Nacional de Arqueologia) e realizou extensas investigações sobre o folclore, as tradições orais, a linguística e os costumes do povo português.
Entre as suas obras mais relevantes destacam-se “Etnografia Portuguesa“, onde compilou um vasto conjunto de informações sobre a vida rural, as festas populares, as crenças e os rituais de várias regiões do país.
Jorge Dias (1907-1973) foi um dos mais influentes etnógrafos portugueses do século XX. A sua abordagem foi profundamente influenciada pela antropologia social e pela etnografia germânica, tendo estudado em profundidade a cultura material e imaterial do país.
Uma das suas investigações mais notáveis incidiu sobre os Macondes de Moçambique, o que fez dele uma referência internacional nos estudos africanos. No entanto, também dedicou grande parte do seu trabalho ao estudo da cultura portuguesa, particularmente à análise da ruralidade e da organização social das comunidades do Norte de Portugal.
A sua obra “Os Arados Portugueses” constitui um exemplo da sua abordagem minuciosa ao estudo das práticas agrícolas tradicionais.
Michel Giacometti (1929-1990) foi um etnógrafo e musicólogo corso que se radicou em Portugal e desempenhou um papel crucial na recolha e preservação da música tradicional portuguesa. Percorreu o país gravando e documentando canções, práticas musicais e rituais populares que estavam em risco de desaparecer.
A sua colaboração com o realizador Alfredo Tropa na série “Povo que Canta” da RTP tornou-o uma figura icónica da cultura popular portuguesa. O seu trabalho influenciou gerações de investigadores e artistas, como José Mário Branco e Fausto Bordalo Dias, que incorporaram nas suas músicas os sons e histórias recolhidos por Giacometti.
Ernesto Veiga de Oliveira (1910-1990) destacou-se pelo seu trabalho na etnografia material, estudando objetos, utensílios, instrumentos e práticas tradicionais portuguesas.
Foi um dos principais colaboradores do Centro de Estudos de Etnologia Peninsular e dedicou-se a uma investigação detalhada sobre o quotidiano das populações rurais, particularmente sobre a arquitetura vernacular, os transportes tradicionais, a cestaria, a cerâmica e as técnicas agrícolas.
A sua obra “Instrumentos Musicais Populares Portugueses“, escrita em coautoria com Benjamim Pereira e Joaquim Nogueira, é um dos estudos mais completos sobre a cultura musical popular portuguesa.
Benjamim Enes Pereira (n. 1928) é outro nome incontornável da etnografia portuguesa, com um trabalho focado na cultura material e nas manifestações culturais do povo português.
Colaborou com Ernesto Veiga de Oliveira em várias investigações e publicou estudos detalhados sobre a cultura popular, a arquitetura tradicional e as técnicas artesanais.
A sua obra “Estudos de Etnologia” reúne uma parte significativa da sua pesquisa, sendo uma referência essencial para qualquer estudioso da etnografia portuguesa.
Manuel Viegas Guerreiro (1912-1997) foi um etnógrafo e antropólogo que estudou extensivamente as culturas africanas e a tradição oral portuguesa. A sua pesquisa incidiu sobre os povos de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, documentando aspetos linguísticos e culturais fundamentais para a compreensão das sociedades africanas e da sua ligação a Portugal.
Foi professor na Universidade de Lisboa e um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento dos estudos etnográficos em Portugal.
Fernando Galhano (1904-1995) dedicou-se ao estudo da cultura material portuguesa, com especial enfoque na arquitetura popular e nos instrumentos agrícolas e de pesca. O seu trabalho ajudou a documentar e preservar práticas tradicionais que estavam em risco de desaparecer.
Publicou numerosos estudos sobre a etnografia portuguesa, colaborando com outros investigadores para a valorização do património cultural do país.
Além destes nomes, há muitos outros investigadores que contribuíram significativamente para o estudo e preservação da cultura popular portuguesa.
O trabalho dos etnógrafos portugueses tem sido fundamental para a valorização das tradições e para a compreensão das dinâmicas socioculturais do país. As suas investigações continuam a influenciar estudiosos, artistas e decisores políticos na promoção e salvaguarda do património cultural português.
Sem comentários:
Enviar um comentário