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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Política e populismo Do regime político ao sistema económico e ao programa de governo

Por: César Urbino Rodrigues
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


Depois do último texto que publiquei aqui, no Facebook, sobre o populismo na política, o caso do deputado ex-Chega, Miguel Arruda, permite-nos reflectir um pouco mais e recordar os pressupostos básicos da vida em sociedade.

1 – A vida em sociedade tem como objectivo estruturante conseguir dar a cada membro o nível de realização pessoal de forma a atingir a sua felicidade, que fora da sociedade, é impossível. Isto equivale a dizer que a sociedade tem de assumir como objectivo a chamada justiça social e que não privilegie uns em relação aos outros, mas os trate a todos na base dos mesmos critérios. Para o efeito, toda a organização política e, por conseguinte, todo o titular de qualquer órgão do aparelho de Estado, têm de se sujeitar a dois princípios incontornáveis: 
- a ética da reciprocidade, que obriga todos os cidadãos e, com maioria de razão, todos os órgãos do aparelho de Estado a lidar com os outros cidadãos ou partidos políticos, de acordo com os mesmos critérios éticos e cognitivos que exige para si. Ninguém tem o direito de exigir, para si, direitos que não reconhece aos outros, nem de impor, aos outros, deveres que não admite para si.
- a defesa intransigente da verdade, sempre que ela seja possível, não a confundindo com opinião ou convicção. Se, no caso da verdade, só pode haver uma e ninguém a pode questionar, no caso da opinião, cada um pode ter a sua e ninguém pode ser molestado ou prejudicado por isso.
2 - Em segundo lugar, para que uma democracia seja saudável, tem que assentar no melhor regime político, no melhor sistema económico e no melhor programa de governo.
2.1 - Em relação ao regime político, e tendo em conta o princípio da ética da reciprocidade, por mais esforços que os ditadores façam para «vender o seu gato por lebre», só é aceitável um regime que respeite o pluripartidarismo, a separação de poderes - legislativo, executivo (governo e presidência da república) e judicial - e o voto popular, sem condicionamentos de qualquer espécie. Ou seja, só é admissível um regime republicano, laico e democrático. 
Não obstante as lacunas e falhas que os regimes democráticos podem deixar transparecer, a sua comparação com qualquer regime de ditadura – à esquerda ou à direita – não deixa dúvidas de que a democracia não tem alternativa, como o caso do Miguel Arruda demonstra cabalmente. De facto, todos sabemos que ele foi eleito pelo Chega, um partido que se tem fartado de criticar a democracia e exaltar o Estado Novo de Salazar, com o argumento de que este era incorruptível, enquanto que, após o 25 de Abril, houve muitos casos de corrupção. Só que, se vivêssemos ainda no Estado Novo e o Ventura fosse o «Salazar» dos nossos dias, o caso do Miguel Arruda nem sequer poderia ser noticiado por causa da «censura de imprensa», nem julgado por causa da subordinação do poder judicial ao poder político, como aconteceu com a morte de Humberto Delgado pela PIDE, cujos autores foram obrigados, por Salazar, a esconder, numa garagem do Estado, o automóvel em que se deslocaram, além de nunca terem sido julgados, antes do 25 de Abril.  
2.2 - Em relação ao sistema económico, direi que, neste momento, existem 3 hipóteses:
- o colectivismo marxista, com a estatização da economia, que perdeu qualquer credibilidade com os estrondosos fracassos nos países ditos comunistas, incluindo a China, um país que só saiu da miséria quando abandonou o colectivismo marxista.
- o socialismo democrático ou social-democracia, em que o Estado e os privados podem e devem coexistir na dinamização e no controlo da actividade económica, sobretudo em áreas fundamentais como a Educação, a Saúde, a Segurança Social, a actividade bancária e a Defesa, por exemplo, sempre de olho nos chico-espertos que gostam de fazer valer os seus interesses particulares, vendendo-os como se fossem os interesses colectivos, como parece estar a acontecer com o projecto do governo em relação à Segurança Social, que pretende privatizar o sistema das pensões, enchendo assim os bolsos de alguns fundos privados, que, ao menor aperto, decretam falência e deixam de as pagar.
- o liberalismo ou neoliberalismo, em que toda a actividade económica do país é entregue ao sector privado, enquanto a economia der lucro aos mais ricos, mas devolvida ao Estado quando houver prejuízos para suportar, como aconteceu na crise de 2008 - em todo o mundo e não só em Portugal - com os abusos e as falcatruas dos Bancos dos países mais desenvolvidos, a começar pelos EUA, desde o Leman Brothers, que faliu, ao Goldman Sachs, que só não faliu porque o governo de George Bush lhe deitou a mão, depois do desastre nacional e internacional do Leman Brothers. Em Portugal, os Bancos mais responsáveis pela crise foram o BPN, autorizado por Cavaco Silva a Dias Loureiro, e o BES, da família Espírito Santo. Nestes casos e noutros de menor dimensão, foi o Estado, ou seja, o contribuinte, quem teve de suportar os custos do desgoverno dos Bancos privados, que atingiu valores superiores a 22 mil milhões de euros.
Eu faço a minha escolha pelo socialismo democrático/social-democracia, tendo em conta dois ditados populares: «pia de muitos, bem comida e mal lavada» e «cada um puxa a brasa à sua sardinha». O primeiro é uma descrição rigorosa do regime colectivista marxista, enquanto que o segundo é uma chamada de atenção sobretudo para o risco do egoísmo subjacente ao neoliberalismo, ainda que também não esteja totalmente escondido no socialismo democrático, embora em menor grau.
2.3 - Quanto ao programa de governo, pode variar não só de partido para partido como de primeiro-ministro para primeiro-ministro do mesmo partido e cabe aos eleitores fazerem a sua escolha, tendo sempre em conta os dois provérbios populares anteriores. 
3 - Em terceiro lugar, permite-nos concluir que a qualidade da acção política de qualquer titular do aparelho de Estado – desde o poder judicial ao poder legislativo e ao poder executivo no governo e na presidência da República - não se mede pelo que dizem os seus titulares sobre a qualidade do seu trabalho, mas pelo controlo que os eleitores têm sobre o aparelho de Estado, coisa que nos regimes autoritários está totalmente fora de hipótese, ainda que nenhum regime político nos possa garantir a 100% esse controlo.  
No caso do Miguel Arruda, por exemplo, apesar de vivermos em democracia, ele cometeu o crime que cometeu e outros mais podem também cair em comportamentos contrários às leis e aos 2 princípios enunciados logo de início deste texto.  
No entanto, esses comportamentos não são uma consequência intrínseca da democracia, mas do carácter e da personalidade dos titulares dos órgãos do aparelho de Estado, independentemente dos partidos a que pertençam, podendo coexistir criminosos e demagogos em todos eles, tanto na política como na justiça. Só que, em democracia, a liberdade de expressão e a independência (teórica, pelo menos) do poder judicial em relação ao poder político dão-nos algumas possibilidades, ainda que limitadas, de os infractores serem responsabilizados criminal e politicamente. E digo limitadas porque, infelizmente, tanto o poder judicial como a comunicação social podem padecer dos mesmos problemas que o poder político, desde a corrupção à incompetência. Pôr procuradores que fizeram parte dum governo da AD a investigar o António Costa é o mesmo que porem o Fernando Madureira do FCP a arbitrar um jogo do Benfica ou do Sporting com outro clube qualquer. E transformar a comunicação social, nas tvs, numa feira de comentadores que, na maior parte dos casos, nada têm que abone a seu favor no desempenho dessa função, é um exercício de manipulação da pior espécie.
 Em todo o caso, os cidadãos eleitores terão sempre a possibilidade de corrigirem alguns desses problemas em eleições seguintes, o que não acontece nas ditaduras. 
4 – Concluindo:
4.1 - Não há alternativa ao regime democrático, embora este possa ter níveis diferentes de democraticidade, havendo sempre o risco de o nosso voto ir parar a pessoas sem qualquer respeito pela verdade e pela ética da reciprocidade. 
4.2 – Quanto ao sistema económico, não podemos aceitar nenhum sistema económico que, sob a capa do dinamismo do sector privado dos mais ricos, contribua para o «empanturramento» de alguns à custa dos menos favorecidos pelo Estado, num desprezo total pela justiça social.   
4.3 - Quanto ao programa de governo, quando votamos é como se estivéssemos sempre a apostar no “totoloto” e nunca sabemos o que nos vai calhar. Compete a cada um despir-se do seu egocentrismo psicológico, do seu egocentrismo cognitivo e do seu egocentrismo ético e votar com a razão e não com o coração.


César Urbino Rodrigues
, natural da aldeia de Peredo dos Castelhanos, concelho de Moncorvo, estudou 9 anos no Seminário de Macau, fez a licenciatura em Filosofia na Universidade do Porto, o Mestrado em Filosofia da Educação na Universidade do Minho, com uma tese sobre «As Coordenadas fundamentais da Educação no Estado Novo», e o doutoramento na Universidade de Valhadolid, em Teoria e História da Educação, com uma tese sobre a «Representação do Outro No Estado Novo. Foi professor no ensino secundário, na Escola do Magistério Primário de Bragança, no ISLA de Bragança, no Instituto Piaget de Mirandela e DAPP na Escola Superior de Educação de Bragança.

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