domingo, 29 de abril de 2012

De onde viemos?


Uma das teorias correntes da evolução humana, defende que somos todos filhos da mesma mãe, um antepassado africano com mais de 100 mil anos. Curioso? Venha descobrir mais sobre o seu passado, neste artigo sobre as origens do Homem moderno.
Actualmente, duas teorias antagónicas explicam a origem do homem moderno: a Teoria da Eva Negra e a Teoria Multi-regional.
A Teoria da Eva Negra (ou “Out of Africa”) foi enunciada no final dos anos 80, pela equipa de Allan Wilson e Mark Stoneking. Segundo esta teoria, todos os seres humanos partilham um antepassado africano comum – uma mulher – à qual se deu o nome de Eva. Esta teoria admite duas saídas do continente africano para povoar o resto da Terra. A primeira, há 2 milhões de anos, pelo Homo erectus, que entretanto se extinguiu. A segunda, do homem moderno (Homo sapiens), entre 200 mil a 100 mil anos atrás, para diferentes zonas do planeta. Aí chegado teria substituído a população existente devido, talvez, a alguma vantagem evolutiva. Esta teoria tem conquistado o maior número de adeptos entre a comunidade científica, não só devido à grande homogeneidade genética entre as diferentes populações mundiais, mas também por a África Oriental ser o local com maior diversidade genética humana. 
No entanto, neste início de ano têm sido publicados trabalhos que parecem tornar mais forte a teoria Multi-regional. Esta propõe que o homem moderno tenha evoluído gradualmente, em diversas regiões do Globo, a partir do Homo erectus, que teria deixado África há 2 milhões de anos. Assim, hominídeos considerados de espécies diferentes poderão ter-se cruzado e produzido descendência fértil, até se chegar ao homem moderno.
Neste ponto, convém fazer uma paragem nesta “história”, para esclarecer alguns dos mais comuns mecanismos genéticos que interferem na evolução humana.
Os seres vivos transmitem as suas características à geração seguinte através dos cromossomas, veículo através do qual a informação genética se processa. Na espécie humana existem 23 pares de cromossomas, localizados no núcleo de cada célula, à excepção das células sexuais que possuem apenas 23 cromossomas. Aquando da união do óvulo com o espermatozóide, forma-se com ovo com os normais 23 pares de cromossomas, sendo que, em cada par, um é proveniente da mãe e outro pai. Deste modo, nesta nova célula irá estar presente a informação dos dois progenitores, para além de nova informação, resultante da recombinação genética (troca de informação) que ocorre entre os cromossomas do mesmo par. Na espécie humana, embora todos os cromossomas sejam idênticos nos dois sexos, existe um cromossoma Y no homem, que não se encontra na mulher, e que determina o sexo.
Cada cromossoma é constituído por genes, unidades de ADN (Ácido Desoxirribonucleico), que comandam a expressão de determinada proteína, que pode inibir ou activar um determinado comportamento nas células. O ADN é formado por quatro compostos azotados – Adenina, Guanina, Citosina e Tiamina, que se arranjam nos mais diversos modos, formando sequências únicas em cada indivíduo.
Para além do ADN que existe no núcleo, podemos encontrar ADN em pequenos organelos da célula, nomeadamente nas mitocôndrias - o ADN mitocondrial (ADNmt). Este ADN só é transmitido pela parte materna, pois além das mitocôndrias se encontrarem em reduzido número nos espermatozóides, mesmo essas não persistem na descendência. Desta forma, o ADN mitocondrial não sofre recombinação genética e as suas mutações (que ocorrem a uma taxa superior à do AND nuclear) podem ser seguidas ao longo de gerações.
A Teoria da Eva Negra
Na década de 80, pesquisadores da Universidade de Berkeley acreditaram ter descoberto o antepassado comum ao homem moderno. Os estudos tiveram por base o ADNmt, devido à ausência de recombinação genética neste material. Conhecida a sua taxa de mutação, ele poderia funcionar como um “relógio molecular”, que permitiria datar os acontecimentos. Quanto mais perto no tempo, menores seriam as diferenças nas sequências do ADN entre os indivíduos, e as distâncias genéticas encontradas entre os vários hominídeos não seriam mais do que o reflexo das suas localizações geográficas. Assim, acreditaram ter encontrado a mulher (porque o ADNmt só é transmitido por via materna) que em África teria dado origem ao homem actual Homo sapiens sapiens.
A análise do cromossoma Y feita posteriormente por investigadores norte-americanos confirmou esta teoria, mostrando também que este cromossoma podia ser utilizado para traçar a origem do homem moderno. Os estudos incidiram em 100 homens de diferentes áreas geográficas. Foram usados marcadores genéticos, que permitem determinar com precisão a localização dos genes nos cromossomas e assim determinar os genes que sofreram mutações.
Estudos feitos na Suiça com ADNmt apontam também no sentido do homem moderno ter saído de África há mais de 50 mil anos. A análise do ADNmt de 53 indivíduos de diferentes regiões e etnias mostrou que, mais uma vez, a raiz da árvore genealógica do homem moderno se situa em África, há 120 mil a 220 mil anos atrás.
Esta teoria foi recentemente corroborada por pesquisas chinesas. Após o estudo dos marcadores de ADN em 28 grupos étnicos chineses, as diferenças genéticas foram muito pequenas, o que pode mostrar que estes grupos tiveram pouco tempo para divergir uns dos outros.
As críticas aos estudos com ADNmt asseguram que ao ser utilizada apenas uma pequena percentagem deste, a distância genética entre os indivíduos pode estar a ser mal calculada. O pressuposto de que o ADNmt não é transferido do pai para a descendência é uma hipótese fulcral, pois caso contrário, o “relógio estaria avariado”. No entanto, estudos publicados na revista Science, realizados por pesquisadores ingleses e escoceses em homens e chimpanzés, apontam para a transferência de informação genética do pai através do ADNmt.
Nestes primeiros dias do milénio, dois estudos independentes deram a conhecer novos dados, que tornam a Teoria da Eva Negra menos credível, em benefício da Teoria Multi-regional. 
A Teoria Multi-regional
Um estudo de cientistas australianos, a publicar este mês na revista Proccedings of the National Academy of Sciences (PNAS), veio reforçar esta teoria com novas provas. O estudo incidiu num fóssil de um homem anatomicamente moderno, que terá vivido na Austrália há 60 mil ou 40 mil anos. Este fóssil - Homem de Mungo - encontrado no Lago Mungo, na Austrália, em 1974, parece ter muita coisa a revelar-nos. Senão vejamos: apesar de aparentemente poder ser confundido com um homem moderno, a análise do genoma mitocondrial mostrou que este é diferente do do homem actual e do africano. Os dados apontam para que este seja de uma linhagem mais antiga que a nossa. Tal só se poderá explicar se provier de uma primeira saída do H. erectus do continente africano, mais antiga que a nossa, consubstanciando a teoria Multi-regional.
Só que os críticos destes cientistas australianos não concordam. Para além de duvidarem da fiabilidade da análise de ADNmt tão antigo, afirmam que o Homem de Mungo é um ramo da segunda saída de África que não terá deixado descendentes.
Na revista Science deste mês, outro estudo, desta vez de investigadores norte-americanos, aponta também no sentido da confirmação da teoria Multi-regional. O estudo baseou-se numa análise estatística comparativa entre as características morfológicas de 25 crânios encontrados no sudeste da Austrália e na República Checa, com idades entre 20 mil e 30 mil anos, com as características de crânios mais velhos encontrados na mesma região e as de crânios de África e do Médio Oriente. Se a teoria da Eva Negra se verificasse, os crânios australianos e europeus seriam mais parecidos com os de África e do Médio Oriente, uma vez que estes seriam os seus antepassados. A teoria Multi-regional originaria uma maior parecença entre os crânios australianos e europeus relativamente aos crânios mais antigos do mesmo local, provando os cruzamentos entre as diferentes populações da mesma zona. Os testes estatísticos efectuados mostraram que a ascendência múltipla não podia ser rejeitada para os crânios australianos e europeus modernos. As parecenças eram maiores no caso dos fósseis australianos e europeus com as respectivas populações arcaicas, do que com os fósseis de África e Médio Oriente. Assim, a teoria da substituição completa era rejeitada, bem como a ideia de que as populações locais arcaicas representariam espécies humanas agora extintas.
Alguns antropólogos desconfiam de todos estes estudos essencialmente genéticos. Para eles, a raiz está demasiado perto no tempo. Só o mais recente fóssil humano tem cerca de 150 mil anos. Segundo eles, todas as conclusões serão diferentes se as taxas de mutações consideradas forem outras.
Parece, pois, relançada a discussão sobre a origem do Homem. 
Aguardemos o que o novo milénio nos trará sobre o nosso passado.


in:naturlink.sapo.pt

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