quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A Província de Trás-os-Montes no século XVIII

GEOGRAFIA

A Província de Trás-os-Montes tem características singulares que a distinguem do ponto de vista morfológico e geográfico no território nacional. E o traço essencial que caracteriza deste ponto de vista a zona transmontana é em grande medida a orientação das suas formações morfológicas que lhe criam uma espaço próprio de vida, de política e até de cultura. Como se lhe refere Amorim Girão, a zona transmontana «situada a Oriente de uma corda de relevo que se dispõe ao Norte do Douro quase no sentido dos meridianos (do Gerês ao Marão) e ao sul do Douro corta em diagonal, de NW. para SE. (desde o Montemuro à Serra de Mesa)», distingue-se do resto do território nacional que «constitui vasto anfiteatro voltado ao Atlântico». Vista do alto da Serra de Bornes (1212 metros), o melhor miradouro da Província de Trás-os-Montes, o que se patenteia, são as «depressões profundas e os vales alinhados, as formas planálticas, de relevos adoçados e quasi uniformes», compondo altas superfícies de erosão que dão à paisagem a sua «feição inconfundível de monótona grandiosidade». 
Tal paisagem estende-se para sul do Douro, pela região a que se aplica o nome de Beira Transmontana, que constitui o prolongamento no nosso País do Planalto Central de Castela Velha.
Do ponto de vista hidrográfico a Província Transmontana é cortada pela bacia hipsométrica do Douro, de grande influência na articulação da Província transmontana com os núcleos urbanos, o Porto à cabeça, o litoral e a economia atlântica. Os afluentes da margem direita – o Sabor, o Tua, o Corgo, o Tâmega e Sousa – que correm de NE para SW, seguindo as orientações das linhas de relevo, rios de planalto, com grandes quedas de nível, têm notavel poder erosivo, vão ter muita importância em termos de aproveitamento hidro-eléctrico, mas tem pouco valor económico em termos de transporte e acessibilidades à Província. 
A navegabilidade do Douro, a principal via de penetração no território vai ser um dos maiores investimentos da Época Moderna, praticamente resolvida até ao Cachão de Valeira nos finais do século XVIII. Mas só o elevado valor comercial do vinho do Alto Douro (depois vinho do Porto) e os grandes interesses político-económicos que geram é que justificarão os elevados gastos e investimentos que se farão na melhoria da sua navegabilidade, mas também os esforços de articulação viária da Província aos locais de embarque no Douro.
O relevo exerce aqui uma acentuada influência sobre o clima e a vegetação. O perfil montanhoso da Província dá o tónus geral mais frio e húmido à região; a barreira das montanhas limita a influência atlântica, constituindo importante condicionante climática. Trás-os-Montes sofre os rigores do frio de Inverno. As isotérmicas mais baixas de Janeiro do território metropolitano são as que percorrem a região de Bragança (7º), as que ligam Montalegre, Mirandela, Moncorvo (8º). No Verão, pelo contrário, as isotérmicas de Julho ligam Trás-os-Montes a todo o interior do País, de Trás-os-Montes, passando pelas Beiras interiores ao interior Alentejano, ligando entre si e entre os 23º e os 28º, Montalegre, Bragança, Mirandela e Moncorvo, a Guarda, Castelo Branco, Évora e Beja. 
As chuvas são por regra escassas nas terras do Nordeste e por isso o solo apresenta os maiores índices de aridez, com uma ou outra faixa importante de zona húmida.
Trás-os-Montes, integrará assim o que os geógrafos têm classificado como a Zona de Nordeste ou Terra Fria, que se continua pelas Beiras – também chamada Região Continental do Norte – mas também a parte que integra a Zona Quente, delimitada pelo lado do Minho, pela Zona Litoral Norte ou Região Atlântica do Norte.
Do ponto de vista da cobertura vegetal a Província é a zona por excelência da implantação do castanheiro, do carvalho negral, do carvalho português e nas terras mais húmidas, da oliveira e amendoeira.

Memórias Paroquiais 1758

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