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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

O Grito de Uma Sem Terra...

PARA RELEMBRAR O ANO DE 2006.

Chamo-me Maria Eugénia Rodrigues de Sampaio e Melo, sou Professora do Quadro da Zona Pedagógica de Bragança, com 26 anos de serviço completados em 22 de Janeiro de 2006! FUI APUNHALHADA PELAS COSTAS!
Durante anos a fio calcorreei a pé, à boleia, de carro, de comboio as Escolas do Distrito?26 ANOS! Neste momento a minha vida é um deserto onde o próximo poço com água, a escola onde fui colocada, se situa a cento e muitos quilómetros da minha casa? DA MINHA CASA.
Sou Professora, Mãe, Esposa e uma cidadã exemplar pois tenho cumprido com brio e uma dedicação extrema a profissão que abracei com ânimo. O País deve-me muito mais do que me paga. É com um brilhozinho nos olhos que recebo em minha casa os meus antigos alunos, já homens e mulheres com filhos?aos quais eu ajudei a acreditar que vivíamos num País justo e fraterno e que era preciso acreditar que o trabalho e a dedicação são recompensados. Eles e Elas não esqueceram as minhas palavras.
Abracei a minha profissão com, agora entendo exacerbado, amor, carinho e dedicação. Hoje, estou desiludida e FARTA deste País que nada me dá em troca.
Vou fazer 50 anos de idade e durante estes anos todos tenho-me deslocado a pé, de carro, de autocarro de comboio com os meus filhos às costas, para poder ajudar a dar uma vida digna aos meus filhos e aos filhos dos outros.
Como prémio pela minha dedicação, nunca tive possibilidades de gozar as minhas férias como qualquer funcionário o faz, com a tranquilidade que me permitisse "descansar":
- Onde será que vou "parar" no próximo ano?
Uma vida inteira a aguardar com impaciência, sofrimento, angústia e nervosismo a minha sentença (colocação). O ambiente familiar sempre dependente da sentença que me seria imputada pelos meus crimes?
Passados 27 anos, a minha angústia transformou-se no pior dos pesadelos. A sentença está ditada e a pena pelos meus crimes (a minha culpa) foi o desterro a cento e muito quilómetros durante 3 anos sem poder apelar a qualquer instância:
- De que me acusam?
- É crime neste País ser professor ou Professora do 1º Ciclo do Ensino
Básico e ter 26 anos de serviço?
- É crime ter ajudado centenas de crianças a transformarem-se em cidadãos de corpo inteiro letrados e responsáveis?
- É crime ser velha?
- De que me acusaaaammmmmm, sem sequer me ouvirem?
- Quero ajuda psicológica JÁ!
- Será que me condenaram por ser Professora do 1º Ciclo, uma das que nada faz, que ganha bem e está de férias todo o ano? As dezenas de escolas, as centenas de alunos que sempre amei e amo poderão responder por mim.
- Se é por sermos "todos" uns vadios e uns parasitas porque é que os pais (eu também souuuu) continuam a enviar os filhos para as mãos destes parasitas como eu?
- Será que o Juiz que me condenou e lavrou em acta a sentença sabe ou saberá um dia quantas cabeças cheias de piolhos lavei? Quantos quilómetros de unhas sujas e imundas cortei? Quantos livros para os meus alunos comprei do meu bolso?.quantos lápis quantas borrachas quantas canetas?quantos alunos trouxe ao médico no meu carro e voltei a levar à aldeia fora de horas?.sempre fora de horas?
- Não fui só Professora, fui médica, enfermeira, conselheira, amiga, jardineira de espaços degradados, fui palhaço, fui técnica de informática, por vezes?muitas vezes Mãe e confidente dos meus alunos. Nunca pedi a ninguém que me desse formação sobre aquilo que eu implicitamente sabia que devia fazer.
- Estou destroçada, um farrapo humano, estou indignada com este País ao qual tenho dado todo o meu esforço, toda a minha capacidade de trabalho, todo o meu voluntarismo toda a minha dedicação.
- Estou cansada de fazer sofrer ano após ano a minha família, de a ter abandonado quando mais precisaram de mim.
- Estou farta de, ao contrário das famílias que não sabem o que hão-de fazer aos filhos nas pausas lectivas, eu não saber o que hei-de fazer durante os espaços lectivos.
- Estou farta de andar a reboque das vontades políticas deste país e de ser carneirinho obediente.
- Estou farta de pagar as crises para as quais não contribui.
- Estou farta de ser humilhada na comunicação social e pelos "mandantes" deste país.
- Em todas as profissões há maus e BONS profissionais. Mas qual é prémio por tentar ser boa? O DESTERRO!
- Com que forças, com que motivação vou enfrentar os meus alunos se estou doente, triste, amargurada e desiludida com tudo e todos?
- Acabaram todas as minhas ilusões?EU NÃO SOU NINGUÉM, sou um farrapo que tem de pagar as "crises" que os outros criam e fazem.
- Votamos em quem? Nos que nos pisam, aniquilam, humilham MATAM. Vós não sois nada? NADA!
Peço uma explicação, uma justificação para o pesadelo que estou a viver, eu e a minha família. Quero acordar um dia e ver que o sol brilha para mim também, que voltei a ser um ser humano respeitado e com direitos e que valeu a pena ter-me dedicado uma vida à minha profissão.
100 Quilómetros de estrada em Lisboa não são 100 quilómetros de estrada em Bragança.
Eu não sou uma criminosa, sou PROFESSORA DO 1º CICLO!

1 comentário:

  1. Tantos debates televisivos se fazem neste País, e esta alma de dádiva de entrega e muitas outras que infelizmente existem por este País fora, deveriam ter a oportunidade de o fazer publicamente e de preferência com os ditos ministrinhos cara a cara, perante todo o Portugal para vêr de uma vez por todas eles ganham um pingo de vergonha, e mudem o que realmente está mal. Eu não tenho a honra de a conhecer pessoalmente, mas daqui envio os meus sinceros votos de um obrigado por tudo o que fez, e um grande Bem-haja.

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