Boa noite Maria Eugénia.
Eu compreendo-te porque sou o teu marido e o teu companheiro há 25 anos, com os 5 de namoro (outros tempos) já lá vão 30 anos. Nunca fizemos grandes projectos porque sempre entendemos que a vida nos reserva algumas surpresas. Optámos por viver o dia a dia.
Tu foste sempre uma sonhadora eu, mais pragmático porque não acredito, nem nunca acreditei numa classe política que se perpétua.
Vês porque não adiantava fazermos "grandes" projectos?
Eles continuam aí.
Mas o que eu te queria dizer era mesmo uma coisa que não tive coragem de te dizer ontem à noite à uma da manhã.
Levantaste-te às 6 da manhã, mas aí não difere muito do que fizeste toda a vida porque (grande ciumenta) nunca quiseste nem precisaste de uma funcionária doméstica. Sempre com a "mania" que conseguias fazer tudo. saiste às 7 e meia da manhã...no teu carro, percorreste 125 quilómetros para "LÁ" e mais 125 para regressares à nossa casa. Chegaste às 9 e meia da noite. Eu sei que é assim todos os dias mas enquanto que tu já estás a encontrar, como fizeste toda a vida, o fio que te segura ano após ano à vida, eu estou a ficar desesperado. Ontem durante o jantar já começaste a falar "dos teus garotos".
Eu ouvi...atentamente, mas sinceramente não estava a gostar da conversa. Já estavas com aquele brilhozinho os olhos. Não fiz grandes comentários, quase me limitei a ouvir-te porque te conheço e sei que depois da revolta que manifestas quando te fazem mal...revigoras e vais buscar energias, sei lá onde...
Depois de teres falado no messenger com os nossos filhos vais-te deitar e eu fico a falar com eles um pouco. Mas ontem ficaste no sofá a olhar para o tecto. Os nossos garotos foram-se deitar...eu ia desligar o computador e tu disseste-me para não o desligar porque tinhas de fazer umas "coisas".
Ok! disse eu e trocámos de lugar. Tu para o computador e eu para o sofá.
Gena...não gostei nada quando te vi começar a abrir as pastas...teatrinhos, músicas de natal, canções, poemas...
Custou-me respeitar a tua eterna sabedoria que te faz distinguir entre a revolta que sentes e a tua noção perfeita do que é SER PROFESSORA. Estive mesmo para te dizer...cumpre o horário BURRA nunca mais aprendes. Mas tu sabes que o teu dever (mais que não seja para contigo) é ensinar.
Já sei...continuação da lição anterior. Cá estarei como sempre, para te levar à urgência do hospital quando o teu corpo cansado não acompanhar a capacidade do teu espírito e do teu coração que só sabem DAR.
HM
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(Henrique Martins)
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