(na foto, o falecido Júlio do Nascimento Tronco, em Tinhela em 87) |
São quase seis da manhã
Ainda se vê a estrela do pastor
Tenho sete anos
O pai morreu no principio do inverno
Pneumonia
Dizem que ja havia medicamentos
Mas como poderia
Ter pago o médico
E a farmácia
Sem tirar o pão da boca
Dos meus cinco irmãos mais novos?
O mais velho, o Julio, que tinha então
9 anos
Ficou com o rebanho
Andava pelo monte
Entre penedos e lobos
A noite inteira.
Agora ia-lhe levar, à Cotovia
Uma codea de centeio
Uma "mãoecheia" de figos
E uma pinga
Enquanto o Julio dormia,
Era eu que cuidava do gado
Se fosse, chegaria atrasado
A escola;
Assim, tirei apenas a terceira classe
Depois...
O Senhor Padre bem queria
Que fosse para Alcobaça
Dizia que não teria
Qualquer dificuldade mais tarde
Para entrar no seminario
Mas,
Com o Julio atraz das ovelhas
E a mãe com cinco crianças ao colo
Quem iria sachar as batatas
Amanhar a vinha
E cegar o pão?
A noitinha,
Depois de tocar as vacas do lameiro,
Passarei pela capela
Do Senhor dos Aflitos.
Pedirei apenas que arranje algum fardo
para levar até Feces de Abajo
Dizem que a Guardia Civil
Atira sem prevenir
No entanto,
Sempre será melhor
Morrer no contrabando
Que morrer de fome.
Carlos Tronco
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