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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Trabalhos arqueológicos realizados em Bragança no âmbito do G.T.L.: subsídios para a História do espaço urbano.

Fragmento de pequeno pote
com decoração incisa, do período baixo-medieval/moderno,
 recolhido na sondagem 1-A da rua Abílio Beça
Rua Abílio Beça
Com sentido nascente-poente, a rua Abílio Beça é um dos arruamentos estruturantes do centro histórico de Bragança, e, juntamente com a rua Combatentes da Grande Guerra (antiga rua Direita) estabelece a ligação entre a Praça da Sé e o Largo de S. Vicente (antiga Praça de S. Vicente, praça Velha ou de Baixo e posterior largo do Principal), onde se localiza a igreja de S. Vicente (já referida nas Inquirições de Afonso III), centro cívico e económico mais relevante da cidade no séc. XVIII (RODRIGUES, 1997: 32). Esta artéria tem continuidade pela rua Eng. José Beça (antiga rua da Alfândega), até à desaparecida praça de S. João2 e, daqui, pela rua de S. Francisco que permitia o acesso à cidadela através da porta do Sol (RODRIGUES, 1997: 32).
Nos documentos do século XVII, a actual Abílio Beça aparece denominada por rua da Corredoura e rua do Espírito Santo; já nos do século seguinte é designada por rua da Carreira, rua do Espírito Santo e, ainda, rua de Trás (RODRIGUES, 1997: 51).
Nela se situam edifícios como a Casa do Arco ou solar dos Pimentéis, a casa dos Sá Vargas e o antigo Paço Episcopal, actual Museu do Abade de Baçal.
Em consequência do acompanhamento arqueológico realizado neste arruamento, no âmbito das obras executadas ao abrigo do PROCOM, verificou-se que a abertura de uma vala central, no sentido longitudinal da rua, para instalação de novas infra-estruturas coincidia com a implantação de uma conduta em pedra, de secção rectangular (larg.média = 50 cm; alt. média = 40 cm), cujos lados (alt. = 40-50 cm) eram constituídos por lajes de xisto de dimensões variáveis sobrepostas, sem elementos de ligação (argamassa) entre elas. A cobertura era feita por lajes colocadas transversalmente.
Observámos, ainda, a continuidade desta estrutura na rua Almirante Reis, passando pela Praça da Sé.
Na Travessa Luís Lopes4 — que liga a Abílio Beça à Combatentes da Grande Guerra -  apenas restava um dos lados: haviam sido já sido aí colocadas manilhas de grés, provocando a sua destruição parcial.
Estas condutas destinadas a solucionar os problemas de saneamento da cidade provavelmente, serão de construção posterior a 1829, ano a partir do qual as ruas da cidade seriam objecto de uma intervenção de vulto aos níveis da pavimentação e da construção de canos de escoamento (RODRIGUES, 1997: 57), reflexo de uma época em que as preocupações de natureza higiénica e de saúde pública estão mais divulgadas (JACOB, 1997: 60).
Das observações realizadas neste arruamento, registou-se, ainda, o facto de que alguns edifícios assentam directamente no afloramento.
Para além do acompanhamento arqueológico em fase de obra, também foram realizadas sondagens.
Fragmento de taça em terra sigillata,
recolhida na sondagem 3 da rua Abílio Beça
Dos resultados da sondagem 1-A, que tinha como limite norte parte da parede do edifício n.º 37, destaca-se um troço de muro e vestígios de um provável pavimento em argila assente sobre o afloramento. Quanto ao espólio, revelou grande quantidade de cerâmica de construção e cerâmicas domésticas de uso comum, provavelmente de época baixo-medieval/moderna.
A sondagem 2 realizou-se na sequência do aparecimento de ossadas aquando da abertura, por meios mecânicos, de uma vala no lado norte da igreja de S. Vicente, próximo da entrada para a sacristia. Nesta sondagem foram identificados dois enterramentos, um dos quais destruído na sua quase totalidade aquando da instalação de anteriores tubagens da rede de água. O outro, em decúbito supino numa fossa simples, e sobre o qual se encontrava um ossário, certamente estaria completo, tendo sido em parte destruído pela retroescavadora. São, obviamente, inumações da necrópole da igreja de S. Vicente, junto das quais não foi recolhido qualquer indicador cronológico.
Neste arruamento foi ainda realizada uma outra sondagem — sondagem 3 — cujo lado norte é parte da fachada principal do Museu do Abade de Baçal.
Esta sondagem assume particular importância pelo facto de ter permitido que, pela primeira vez, na cidade de Bragança, se identificassem contextos estratigráficos com material do período romano. Nestes níveis recolhemos fragmentos de vidro, de cerâmica de construção (imbrices e tegulae), de cerâmicas domésticas de uso comum e de terra sigillata, de lucerna e de dolium. Numa análise preliminar, os fragmentos de terra sigillata serão hispânicos, oriundos do centro produtor de Tritium Magallum, com cronologia balizada pelos anos de 50-150 d.C5.
Estes níveis foram, em parte, destruídos pela abertura de valas para instalação de infra-estruturas — sucessivamente em pedra seca, grés, ferro e PVC — cujas terras de enchimento albergam também materiais romanos.
As reduzidas dimensões da área escavada não nos permitem adiantar qualquer hipótese quanto à funcionalidade deste espaço, certamente inserido numa área de habitat. Permitem, contudo, afirmar que o local onde se implanta a cidade de Bragança também teve ocupação no período do domínio romano. Esta ocupação foi corroborada pelos vestígios encontrados no âmbito dos trabalhos arqueológicos realizados para minimização de impactes causados pela intervenção Polis, no antigo mercado (Praça Camões).
Rua do Loreto
Localizado no arrabalde da cidade, bifurcando com a rua Fora das Portas (actual rua Alexandre Herculano), este arruamento aparece representado na “Planta da Cidade de Bragança e suas Dependencias…”, de 1801, apenas com edificações do lado do sol, deixando isolado o Convento das Oblatas (JACOB, 1997: 38-39), ainda que numa planta anterior, de 1762 (RODRIGUES, 1997: 1153-1154), e noutra posterior, de 1878 (POTIER, 1944), tenha alguns edifícios no lado oposto. Todo o campo situado entre as duas ruas estava coberto de árvores até à margem do Fervença (JACOB, 1997: 43).
Nesta rua procedemos ao acompanhamento da abertura, por meios mecânicos, das valas para instalação das infraestruturas e à observação dos perfis daí resultantes, tendo-se verificado que também aqui existiam as canalizações de pedra seca, quer a principal, quer ramais de ligação procedentes das casas. O espólio recolhido é datável do século XIX.
Fundo de taça em porcelana chinesa da dinastia Ming,
período Jiajing (1522-1566),
recolhido no antigo Colégio dos Jesuítas
Rua Oróbio de Castro
Neste pequeno arruamento, localizado entre a Praça Camões e a rua dos Combatentes da Grande Guerra, apenas se observou a existência de mais uma canalização construída em pedra de xisto.
Travessa dos Bispos
É uma das ruelas—a segunda no sentido nascente/poente—que transversalmente ligam as ruas Abílio Beça e Combatentes da Grande Guerra. Também aqui se registaram as condutas em pedra semelhantes às observadas noutros arruamentos. À excepção de um fragmento de terra sigillata, o espólio recolhido — fragmentos cerâmicos, vítreos…—cronologicamente inclui-se no século XIX e XX.
Rua 1.º de Dezembro
É uma das ruas que entronca no lado norte da Abílio Beça. Nela se localiza a Santa Casa da Misericórdia de Bragança, fundada em 1518 na igreja então dedicada ao Espírito Santo, que, por sua vez, já tinha aproveitado a antiga Capela de Santa Maria Madalena e respectivo adro para se instalar, muito provavelmente no início do século XIV (JACOB, 1997: 102). O seu adro, apesar de sucessivas cedências para a ampliação da igreja, seus anexos e hospital, serviu sempre para enterrar os pobres falecidos no hospital e os sócios da Casa até à abertura do cemitério municipal, em meados de Oitocentos (JACOB, 1997: 102-103). Neste arruamento, ao lado da igreja, localizou-se o Hospital Civil, conforme testemunha a planta de 1878 (POTIER, 1944).
Tratando-se da envolvente de uma igreja, todos os trabalhos de remoção de terras mereceram especial atenção. Contudo, durante o acompanhamento realizado, não foram detectados quaisquer enterramentos. Tal como nos outros arruamentos, também se registaram as condutas de pedra seca.

in: Bragança um olhar sobre a História
Publicação da C.M.B.

2 comentários:

  1. E pronto, já escrevi para o seu blog! Melhor, ainda você não tinha blog e eu já tinha escrito um post!!! eheheheh
    Mas o título correcto é: Trabalhos arqueológicos realizados em Bragança no âmbito do G.T.L.: subsídios para a História do espaço urbano.

    beijinho
    Clara

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  2. Bem vinda Clara.

    Grato pela correção do título.
    Aproveito o ensejo para te agradecer publicamente, como Bragançano e amigo, todo o esforço e empenho que tens dedicado à Arqueologia que, pese embora, ser a tua área profissional, abraças com um prazer e denodo incomparáveis.

    Um beijo

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