História
O povoamento inicial de Corujas costuma ser apontado como muito remoto. A prova dessa antiguidade é o monte de Caúnha, no cimo do qual existiram fortificações mouriscas.
O monte Caúnha que fica perto da freguesia de Ferreira. Nele havia em 1855 muitos vestígios, pois foi em principio uma fortaleza mourisca. Este monte trouxe grandes rivalidades entre Corujas e Ferreira, ficando sempre Corujas vencedora. Nos subterrâneos da fortaleza foram encontradas muitas moedas romanas e mouriscas.
Para além do monte Caúnha existe em Corujas diversos lugares com nomes ligados a factos históricos - as fragas do Viso, Alto da Bandeira e Alto da Peça e o lugar do Viturão.
Fraga do Viso - ponto de vigia donde avistavam grande extensão de território, no caso de ataque.
Alto da Bandeira - fraga alta onde içavam a bandeira no tempo das invasões francesas.
Fraga da Peça - fraga onde colocavam lima peça de artilharia, também no tempo das invasões francesas.
O Viturão - local, onde dizem ter havido uma estalagem onde se alojavam as tropas de Napoleão.
Corujas foi também uma "Estação de Muda" sendo que por esta freguesia passava a estrada nacional, na qual transitava a Mala-Posta (carro dos correios). Corujas era uma "Estação de Muda", mudança dos cavalos da Mala-Posta. A comprová-lo existe uma pia de cantaria antiga e grande onde bebiam os cavalos.
Corujas terra fértil como se comprova pelos lameiros ao fundo da povoação que são célebres pela verdura da erva que mantém durante todo o ano e os castanheiras que o rodeiam.
Criou-se muito bicho-da-seda, desde há mais de 160 anos (isto em 1830) que esta terra era muito conhecida por tal indústria. Tinha muito gado, principalmente cabras e ovelhas. Até 1834 tinha juiz de vintena; dois homens de acórdão; dois jurados e dois quadrilheiros, todos nomeados pela povoação.
Tinha esta terra, o grande privilégio de não pagar finta (multa) que lhe fosse lançada pela Câmara de Bragança ou Macedo, isto por ter sido pertença da real casa de Bragança que a fundou.
Acórdão - que dava sentença nos tribunais civis.
Jurados - membros de tribunal ou júri.
Juiz de vintena - a quem se pagava o tributo (imposto).
O cura de Corujas era apresentado pelo reitor de Lamas de Orelhão e tinha de rendimento anual doze mil réis, quantia pouco significativa que era rectificada, no entanto, por alguns géneros.
Segundo dados dos Censos da primeira metade do século XIX, a freguesia de Corujas pertencia, em 1801, ao concelho de Bragança e, em 1849, ao concelho de Cortiços, não se sabendo ao certo qual a data ou as circunstâncias para a sua anexação ao concelho de Macedo de Cavaleiros, ao qual pertence até aos nossos dias.
O topónimo Corujas provém do substantivo corujeira, que significa, segundo o Abade de Baçal, "pardieiro, povoação vil, sítio penhasco, local próprio para criar corujas".
FESTA DE SANTO AMARO
Um dos momentos mais significativos para a freguesia de Corujas e a Festa Anual de Santo Amaro, que é celebrado no Domingo mais próximo ao dia 15 de Janeiro, e o seu já famoso Leilão do Fumeiro.
Possuindo Corujas a tradição da matança do porco, o fumeiro abunda nesta freguesia. Sendo assim, no dia da festa faz-se um leilão cujo valor monetário final reverterá a favor da comissão de festas de Santo Amaro.
Também aqui se celebra a Festa do Verão, a qual sendo móvel, celebra-se durante o mês de Agosto. Esta festa tem como principal objectivo o convívio dos habitantes de Corujas com os seus emigrantes, visto que estes escolhem geralmente o mês de Agosto para visitarem os seus familiares, passarem as suas férias e, mais importante ainda, matarem as saudades da terra que os viu nascer.
Santo Amaro
Santo Amaro é o Santo milagreiro dos habitantes de Corujas e aldeias vizinhas (Ferreira, Mogrão, Arcas, Comunhas, Edroso...). O dia atribuído ao Santo é 15 de Janeiro, mas festeja-se no terceiro Domingo do mesmo mês; é o advogado dos animais e das pessoas que sofrem de reumatismo.
Quem visita a sua capelinha, encontra nela, muitas bengalas, pés de cera… ofertas dadas em reconhecimento dos benefícios concedidos aos"' mancos". A festa tem início às 9 horas com foguetes e a banda de música que vem ao povo e só depois parte para o Santo Amaro, a pé ou de camioneta. Muitos peregrinos, vão a pé em cumprimento de promessas ou, porque gostam da caminhada e oferecem como sacrifício em honra de Santo Amaro. Às treze horas celebra-se a missa com sermão e procissão onde vai o andar do santo, acompanhado da música e devotos.
Finda a procissão estendem-se os farnéis onde não falta o salpicão assado - característico da festa.
É costume da terra, correrem-se as merendas dos amigos e comer na de todos sem que os chamem.
Faz-se a arrematação do fumeiro (salpicões e linguiça) e a rifa do peru., pelo que todos esperam Dança-se na "sala verde" onde a banda toca duas ou três "modas" e toda a gente dança.
Findo o dia vem-se para Corujas comer o resto das merendas e organizar o baile que vai pela noite dentro. A festa é organizada e dirigida pelos mordomos que são sempre três rapazes e três raparigas ainda solteiros.
Nota: A capela de Santo Amara dista 4 km da aldeia.
Lenda de Sto Amaro I
Havia uma aldeia no termo de Corujas chamada. "Guimbrias". Enquanto os cristãos estavam na missa, vieram os mouros, lançaram fogo, ficando assim despovoada, com alguns vestígios de casas e uma capela, (hoje capela de St. Amaro).
Um dia um Homem encontrou aqui um cordão de ouro que dobou, dobou. Dobou…horas e horas sem lhe ver o fim. Cansado de tanto dobar, porque se fez noite, ou porque lhe fugiu o gado, ou por qualquer outro motivo, entendendo que tinha riqueza bastante para si e seus descendentes, cortou o fio. No mesmo instante houve-se a voz de uma Moura que chamava dolente:
- Ah ladrão que me quebras-te o encanto!
O cordão dobado converteu-se em carvão e nunca mais se viu
Lenda de Santo Amaro II
Conta-se que há anos os habitantes de Ferreira disputavam a posse de Santo Amara com os habitantes de Corujas, chegando a levá-lo para a sua terra mais de uma vez.
Da última vez que o fizeram, fecharam-no bem fechado numa arca, de onde o Santo saiu voltando para o termo de Corujas, local onde ainda hoje se encontra e se festeja anualmente no terceiro Domingo de Janeiro.
Neste local viveram os Mouros onde ainda há vestígios de habitações como a "Quinta das Guimbrias". Ainda se vê, neste local, o assento de uma casa onde se fez baile em dia de festa, chamada de "Sala verde" por se encontrar atapetada de erva e onde a "gentes" dançam
TRADIÇÕES DE S. MARTINHO EM CORUJAS
A tradição de S. Martinho, no que diz respeito à freguesia de Corujas, ou num plano mais abrangente, ao concelho de Macedo de Cavaleiros, está repleta de histórias, costumes, que se contam desde a apanha da castanha, elemento imprescindível característico da região, até ao consumo e celebração do ritual
De acordo com as vozes incontestáveis de alguns habitantes de Corujas as castanhas são apanhadas a partir do dia 20 de Outubro até ao S. Martinho, 11 de Novembro - Reza a tradição que em noite de S. Martinho vai-se à adega e prova-se o vinho, mas a tradição por aqui já não é o que era, tempo houve em que diversão entre os populares era grande, pois todos os habitantes se juntavam, assavam as castanhas e percorriam todas as adegas da aldeia para provar o vinho novo e a jeropiga.
Hoje em dia a união da população para comemorar este dia perdeu-se no tempo, sendo que a celebração é feita essencialmente em família, acompanhados pela castanha, vinho novo e jeropiga.
Prova de alegria e sentido de humor, é o momento partilhado pela D. Aldina Rodrigues, que nos conta que há cerca de 45 anos atrás, em Corujas, na noite de S. Martinho, as pessoas mais antigas da aldeia juntaram todos os carros de burros e colocaram-nos no lugar de Solbeira com a seguinte inscrição - "não foi ninguém, foi o vinho".
Um dos marcos de Corujas é a existência de um castanheira bravo , com mais de quinhentos anos, no vale de Corujas, como é conhecido. Este castanheiro há 35 anos atrás possuía dimensões consideráveis, chegou a dar 14 sacos de 50 kg de castanhas só de uma apanha. Hoje, e devido ao facto de estar no meio de duas propriedades foi-lhe retirada uma pernada, no entanto ainda é capaz de fornecer 10 sacos de 30 kg só de uma apanha. A castanha desta região Transmontana é famosa ereconhecida em todo o país pela qualidade deste fruto seco.
OS SANTOS
...e o Magusto há Vinte Anos Atrás
Recordo hoje o dia de Todos os Santos com saudade, pois já lá vão vinte anos que o senhor padre Diamantino não deixava passar o dia dos Santos em vão. Deslocava-se de Braga à sua terra natal, Corujas. Celebrava a missa na igreja paroquial, no fim da missa convidava todas as pessoas da aldeia a participar no magusto-convívio. Era o dia cm que todas as pessoas eram iguais, ricos, remediados e os mais pobres esqueciam os dias mais difíceis. Por volta das duas horas da tarde toda a aldeia se juntava no terreiro junto à igreja, todos contribuíam, uns levavam castanhas, outros com vinho, outros ainda levavam a lenha, os que não podiam ou não tinham com que participar materialmente, participavam com a sua presença. Na fogueira do magusto queimavam-se todas as diferenças que existiam entre as pessoas da aldeia. A festa durava a tarde inteira, comiam-se as castanhas assadas, bebiam-se uns copos de vinho e jeropiga. Os rapazes levavam a aparelhagem e estava montado o bailarico para finalizar o dia de Santos.
E assim se cumpria mais uma vez a tradição que foi criada pelo padre Diamantino, mas o destino assim quis, morreu o senhor Diamantino e levou com ele a tradição do magusto do dia dos Santos.
Resta-nos apenas como recordação para todos os Corujenses, o largo que foi contemplado com o nome do padre Diamantino.
DANÇAS E CANTARES
Dentro das danças e cantares tradicionais, os habitantes da freguesia de Corujas costumam, na época natalícia, cantarem cânticos de Natal, as Janeiras e os Reis. Este cântico a seguir transcrito é um dos muitos, entoados por toda a freguesia nesta data tão especial:
Cântico ao Menino
Entrai, pastores, entrai
Por esses portais sagrados
Vinde adorar o Menino
Que em palhinhas está deitado.
Entrai, pastores, entrai
Por esses portais adentro
Vinde adorar o Menino
Ao sagrado nascimento.
Nossa Senhora O adora
E nos braços O recebe
Está-lhe beijando as faces
Mais alvas que a pura neve.
E o Menino está na hóstia,
Sem deixar de estar no Céu
E os anjos Lhe estão cantando,
Glória a Deus no Céu!
E ó meu amado Menino,
Convosco é que eu estou bem.
Nada deste mundo quero,
nada me parece bem.
Ó meu amado Menino,
Quem Te deu a casaquinha?
Foi a Minha avó Santa Ana
Com botões de prata fina.
JOGOS
Num espírito de sociabilidade e de convívio, os habitantes desta freguesia juntam-se para praticarem diversos jogos tradicionais.
Destes jogos destacam-se: os jogos do fito, da bilharda, da relha e do ferro, entre outros.
Jogo do Fito
O fito é jogado com malhas de pedra que cada jogador afeiçoará a seu jeito em dimensão e peso. Este é jogado em terreiros a uma distância dos tentos, mecos ou vintes de vinte e cinco metros.
Será colocada uma raia fixa na direcção do outro meco à distância de dois metros e meio do vinte. A raia não poderá ser pisada ou ultrapassada pelo jogador enquanto não cair a pedra jogada.
Os tentos poderão ter qualquer tipo de secção, mas a altura deverá ser, no mínimo, duas vezes e meia a base onde assenta e deverão igualmente ser bem visíveis, e, se possível, pintados de cor que contraste com a terra. Os tentos serão referenciados por um prego e colocados junto do mesmo, mas não em cima, se forem de tubo.
Se a pedra bater no vinte, e este ao saltar der uma cambalhota, mesmo que fique direito, também deverá contar quatro ou seis pontos, consoante ganhe ou não o ponto. A pedra que tombar o vinte e ganhar o ponto, soma seis pontos.
O jogo termina a favor da equipa que primeiro fizer quarenta pontos e passará à eliminatória seguinte a equipa que primeiro ganhar dois jogos. No fito não há empates.
Jogo da Bilharda
Participam neste jogo 2 jogadores. Traça-se uma circunferência no solo, com o raio de 1 metro. São necessárias duas pás de madeira, a que se chama ponteiro e um pequeno pau, aguçado na ponta com a forma de um fuso, a que se chama bilharda.
Um dos jogadores fica no interior do círculo com o ponteiro na mão, em posição de espera. O outro jogador, que está fora da roda, dá uma pancada com o ponteiro na bilharda, procura levantá-la e quando a apanhar no ar, bate-a com força tentando introduzi-la dentro do circulo. Não consegue o seu fim quando o seu defensor com um golpe rápido lhe acerta e atira-a para bem longe. O atacante vai tentar de novo. Bate a bilharda com o ponteiro mas ela não salta, tenta segunda vez e torna a falhar. Só tem três tentativas; se não conseguir tem de se dar por vencido.
Pelo contrário, ganha o jogo aquele que a atira para fora. Depois trocam de lugares, o atacante passa a defensor e vice-versa. Se o atacante falhar as tentativas há, na mesma, troca de lugares; mas, neste caso, o defensor ganha o jogo. Assim, jogam alternadamente; vencerá o jogador que, no fim de um certo tempo ou de um certo número de jogos, tenha alcançado mais vitórias.
Jogo da Relha
Para este jogo são necessários, no mínimo, 2 pessoas. Faz-se uma raia no chão e colocam-se aí os jogadores, atirando um de cada vez a relha o mais longe possível. Cada jogador só pode atirar a relha três vezes. Esta é atirada por baixo (entre as pernas) e ganha o jogador que nas três vezes atirar a relha mais longe.
Jogo da Macaca
Este jogo estava destinado às meninas. Fazia-se no chão uma figura com casas. Atiravam uma pedra lisa da primeira casa para a última e ao pé cochinho, saltavam de casa em casa sem pisar o risco, devendo parar na casa central. Andava na primeira, na segunda, na terceira.
Andava até acabar as casas e passar a andar às espanholas, isto é, recomeçar ao contrário. A que ganhasse, ganhava uma berricana: fazia-se uma cruz na casa central e atirava com a pedra no peito do pé. Enquanto a outra a ia buscar, ela corria ao pé cochinho. A outra vinha apanhá-la, depois de ter posto a pedra na cruz feita. Onde a apanhasse, carregava com ela às costas até à casa central.
ARTESANATO
As artes e ofícios tradicionais vêm fazendo parte da ruralidade da região, integrados na pluri-actividade de muitas famílias, nomeadamente das camponesas, e orientadas para a sua auto-suficiência e para mercados de proximidade.
Os artesãos são, em grande percentagem adultos e velhos, factor que provoca uma certa dificuldade na transmissão de saberes e de continuidade de heranças culturais. No entanto, objectos artísticos e decorativos bem como outros bens utilitários estão ainda presentes na freguesia.
Pode-se, assim, encontrar, um pouco por toda a freguesia de Corujas, artesãos e belos trabalhos como por exemplo: Cobertores, Mantas de Farrapos, Rendas e Bordados regionais.
in:corujas.jfreguesia.com
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