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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

BRUNHOSO

Brunhoso, freguesia do concelho de Mogadouro, distrito de Bragança, com uma área geográfica de 20,8 quilómetros quadrados, localiza-se no nordeste transmontano, na margem esquerda do Rio Sabor, tendo como freguesias limítrofes Paradela, Castro Vicente, Porrais, Soutelo, Remondes, Vale da Madre e a vila de Mogadouro.
Tudo leva a crer que aqui existiu um povoamento pré-histórico. O povo romano também terá passado por esta freguesia, visto que foram encontrados restos arqueológicos, provavelmente romanos, de uma via militar e de um castro. No entanto, não há vestígios definidos que confirmem esse período.
A herança deixada pelos romanos no concelho de Mogadouro foi significativa: formaram novos povoamentos, introduziram novas técnicas de construção de habitações e novas técnicas agrícolas, abriram estradas e fizeram pontes e, ao nível económico, trouxeram alterações ao regime fiscal. Por esta razão, é possível que este povo tenha marcado a sua presença também em Brunhoso. Os habitantes desta freguesia acreditam na existência de uma cidade morta e de uma moura encantada, referida numa lenda.
Supõe-se que, quando ocorreu a fundação da nacionalidade, esta área se encontrava despovoada, mas rapidamente recuperou população.
Brunhoso chegou a estar sob o senhorio da nobre família dos Távoras.
Brunhoso em 1908
“XXIV  Está situada esta freguezia em terreno baixo, junto a un pequeno ribeiro que fereliza seus terrenos; distante 5,3 Km da villa de Mogadouro; 50 ou 59 de Mirandella; 47 da estação do Cachão, 50 do Pocinho ou Côa, 222 do Porto e 565 ao N. de Lisboa. Orago S. Lourenço. O cura era da apresentação do real padroado, e tinha de rendimento 40$000 réis e o pé d’altar.
É bem boa freguesia. Tem uma boa egreja matriz e duas capelas: uma no cimo da povoação com a invocação de Santa Bárbara, e outra ao fundo, de Nossa Senhora das Dores. Nesta última venera-se S.Leão, cuja imagem é n’esta freguesia objecto de muita devoção.
Tem 520 habitantes, segundo o censo de 1900, quasi todos agricultores.
Os seus productos dominantes são: trigo, centeio, batata, castanha, azeite, cortiça, fructa, legumes, hortaliça, etc. Cria bastante gado vaccum, cavallar, asinino, lanígero e caprino, e nos seus montados caça miúda.
No seu termo produzem bem todas as árvores fructíferas, como em todos os termos das margens do Sabor. Devido ao seu clima previligiado muito há a esperar d’estes terrenos, quando chegarem a ter vias de comunicaão por onde possam com rapidez transportar seus productos para os bons centros consumidore.
Em questão de melhoramentos modernos, Brunhoso não tem nenhum; os seus caminhos; os seus caminhos são os do tempo de Adão e Eva, pois aos poderes públicos nada devem.”
Extracto do Livro "As Terras De Entre Douro E Sabor"
De:José Manuel Martins Pereira (Pagina 161) - 1908
Os tempos, a terra e as gentes
Nesta gesta não entram poetas, nem prelados, nem façanhudos militares. É uma aventura de cavadores e guardadores de ovelhas.
Nascemos no Cabeço do Crasto, onde erguemos choça e valado escorraçados por sanguinários vândalos, celtas ou mouros.
Timidamente, fomos descendo à Canadinha e ao Fundão. Não faltavam bolotas de sobreiro e carrasco. Nas embelgas mais frescas semeámos o linho. Montámos oficina de oleiro e instalámos rudimentar tear. Deixámos de ser horda. Largámos lanças, azagaias e fueiros e pegámos no sarrão e no cajado.
Logo descobrimos que a terra era boa e fomos plantando oliveiras nas abrigadas das ribeiras.
Montámos no ribeiro do Fundão um rudimentar engenho para extracção do azeite, e logo lhe chamámos ribeira da Lagariça.
Arroteando leiras, desbravando, arrancando touças de carrascos e estevas conquistámos algumas jeiras de terra para semear centeio e cevada. Primeiro no Zimbro mas logo chegámos à Lameira e Avessadas.
Cada vez mais afoitos, plantámos hortas no Caneiro, no Pereiro, na Faceira e nos Olmos. E, como os tempos iam de calmia, construímos casa de pedra e colmo. Primeiro no Fundão, depois no Solheiro e Fontainha. Abandonámos de vez o Cabeço do Crasto com poucos trastes e algumas cabeçadas de gado.
Sempre ao correr das ribeiras, enterrando estacas, enxertando zambulhos que cresciam a ermo, e plantando aqui e ali uma latada de parreiras, chegámos ao rio.
Já não havia terra junto às ribeiras e começámos a surribar as encostas. A roubar terra às fragas, a arrancar touças, a construir safardas e a abrir carreirões. Sacralizámos a ladeira.
Sem grandes conflitos assentámos as extremas dos nossos baldios com Remondes e Paradela.
Do lado nascente havia bons pastos. Arrancámos carvalheiras e freixos e semeámos trigo. Chegámos a Milhares e à Azenia e aí enterrámos marcos e marras.
Tomámo-nos do sentir pátrio e combatemos e morremos nas guerras.
Com impostos, fintas, jugadas e congruas contribuímos para o fausto da Corte e para a sustentação do clero.
Encomendámo-nos a S. Lourenço e dedicámos-lhe a igreja. Erigimos Irmandades e Confrarias e levantámos capelas a Santa Bárbara e à Senhora das Dores.
Amerceou-se da nossa ignorância o poder e dotou-nos de posto escolar em 1873. Direito a fontanário e a estrada só há bem pouco tempo nos foi reconhecido.
Aqui apenas foi gerada gente humilde, que lavrou a terra, ordenhou ovelhas, teceu o linho, limpou oliveiras e ensinou os filhos a rezar. Mas, foi também com gente que aqui nasceu, que foram construídas auto estradas e arranha céus em França e Espanha, que foi extraído minério nas  Astúrias, que foi desbravada floresta nas Áfricas e se comerciou no Brasil.
E é gente aqui nascida que moureja ainda hoje por esse Portugal todo, roída de vontade de regressar de vez.
Honra às gentes de Brunhoso.

Texto de Francisco Ribeiro
Fotofrafias de Xo_oX
27-07-2006

in:bragancanet.pt

1 comentário:

  1. Foi com muito agrado que li este belo texto! Parabéns Francisco

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