Brunhoso, freguesia do concelho de Mogadouro, distrito de Bragança, com uma área geográfica de 20,8 quilómetros quadrados, localiza-se no nordeste transmontano, na margem esquerda do Rio Sabor, tendo como freguesias limítrofes Paradela, Castro Vicente, Porrais, Soutelo, Remondes, Vale da Madre e a vila de Mogadouro.
Tudo leva a crer que aqui existiu um povoamento pré-histórico. O povo romano também terá passado por esta freguesia, visto que foram encontrados restos arqueológicos, provavelmente romanos, de uma via militar e de um castro. No entanto, não há vestígios definidos que confirmem esse período.
A herança deixada pelos romanos no concelho de Mogadouro foi significativa: formaram novos povoamentos, introduziram novas técnicas de construção de habitações e novas técnicas agrícolas, abriram estradas e fizeram pontes e, ao nível económico, trouxeram alterações ao regime fiscal. Por esta razão, é possível que este povo tenha marcado a sua presença também em Brunhoso. Os habitantes desta freguesia acreditam na existência de uma cidade morta e de uma moura encantada, referida numa lenda.
Supõe-se que, quando ocorreu a fundação da nacionalidade, esta área se encontrava despovoada, mas rapidamente recuperou população.
Brunhoso chegou a estar sob o senhorio da nobre família dos Távoras.
Brunhoso em 1908
“XXIV Está situada esta freguezia em terreno baixo, junto a un pequeno ribeiro que fereliza seus terrenos; distante 5,3 Km da villa de Mogadouro; 50 ou 59 de Mirandella; 47 da estação do Cachão, 50 do Pocinho ou Côa, 222 do Porto e 565 ao N. de Lisboa. Orago S. Lourenço. O cura era da apresentação do real padroado, e tinha de rendimento 40$000 réis e o pé d’altar.
É bem boa freguesia. Tem uma boa egreja matriz e duas capelas: uma no cimo da povoação com a invocação de Santa Bárbara, e outra ao fundo, de Nossa Senhora das Dores. Nesta última venera-se S.Leão, cuja imagem é n’esta freguesia objecto de muita devoção.
Tem 520 habitantes, segundo o censo de 1900, quasi todos agricultores.
Os seus productos dominantes são: trigo, centeio, batata, castanha, azeite, cortiça, fructa, legumes, hortaliça, etc. Cria bastante gado vaccum, cavallar, asinino, lanígero e caprino, e nos seus montados caça miúda.
No seu termo produzem bem todas as árvores fructíferas, como em todos os termos das margens do Sabor. Devido ao seu clima previligiado muito há a esperar d’estes terrenos, quando chegarem a ter vias de comunicaão por onde possam com rapidez transportar seus productos para os bons centros consumidore.
Em questão de melhoramentos modernos, Brunhoso não tem nenhum; os seus caminhos; os seus caminhos são os do tempo de Adão e Eva, pois aos poderes públicos nada devem.”
Extracto do Livro "As Terras De Entre Douro E Sabor"
De:José Manuel Martins Pereira (Pagina 161) - 1908
Os tempos, a terra e as gentes
Nesta gesta não entram poetas, nem prelados, nem façanhudos militares. É uma aventura de cavadores e guardadores de ovelhas.
Nascemos no Cabeço do Crasto, onde erguemos choça e valado escorraçados por sanguinários vândalos, celtas ou mouros.
Timidamente, fomos descendo à Canadinha e ao Fundão. Não faltavam bolotas de sobreiro e carrasco. Nas embelgas mais frescas semeámos o linho. Montámos oficina de oleiro e instalámos rudimentar tear. Deixámos de ser horda. Largámos lanças, azagaias e fueiros e pegámos no sarrão e no cajado.
Logo descobrimos que a terra era boa e fomos plantando oliveiras nas abrigadas das ribeiras.
Montámos no ribeiro do Fundão um rudimentar engenho para extracção do azeite, e logo lhe chamámos ribeira da Lagariça.
Arroteando leiras, desbravando, arrancando touças de carrascos e estevas conquistámos algumas jeiras de terra para semear centeio e cevada. Primeiro no Zimbro mas logo chegámos à Lameira e Avessadas.
Cada vez mais afoitos, plantámos hortas no Caneiro, no Pereiro, na Faceira e nos Olmos. E, como os tempos iam de calmia, construímos casa de pedra e colmo. Primeiro no Fundão, depois no Solheiro e Fontainha. Abandonámos de vez o Cabeço do Crasto com poucos trastes e algumas cabeçadas de gado.
Sempre ao correr das ribeiras, enterrando estacas, enxertando zambulhos que cresciam a ermo, e plantando aqui e ali uma latada de parreiras, chegámos ao rio.
Já não havia terra junto às ribeiras e começámos a surribar as encostas. A roubar terra às fragas, a arrancar touças, a construir safardas e a abrir carreirões. Sacralizámos a ladeira.
Sem grandes conflitos assentámos as extremas dos nossos baldios com Remondes e Paradela.
Do lado nascente havia bons pastos. Arrancámos carvalheiras e freixos e semeámos trigo. Chegámos a Milhares e à Azenia e aí enterrámos marcos e marras.
Tomámo-nos do sentir pátrio e combatemos e morremos nas guerras.
Com impostos, fintas, jugadas e congruas contribuímos para o fausto da Corte e para a sustentação do clero.
Encomendámo-nos a S. Lourenço e dedicámos-lhe a igreja. Erigimos Irmandades e Confrarias e levantámos capelas a Santa Bárbara e à Senhora das Dores.
Amerceou-se da nossa ignorância o poder e dotou-nos de posto escolar em 1873. Direito a fontanário e a estrada só há bem pouco tempo nos foi reconhecido.
Aqui apenas foi gerada gente humilde, que lavrou a terra, ordenhou ovelhas, teceu o linho, limpou oliveiras e ensinou os filhos a rezar. Mas, foi também com gente que aqui nasceu, que foram construídas auto estradas e arranha céus em França e Espanha, que foi extraído minério nas Astúrias, que foi desbravada floresta nas Áfricas e se comerciou no Brasil.
E é gente aqui nascida que moureja ainda hoje por esse Portugal todo, roída de vontade de regressar de vez.
Honra às gentes de Brunhoso.
Texto de Francisco Ribeiro
Fotofrafias de Xo_oX
27-07-2006
in:bragancanet.pt
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Foi com muito agrado que li este belo texto! Parabéns Francisco
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