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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Foz Tua - Movimento Cívico pela Linha do Tua lança duras críticas ao Plano de Mobilidade Turística

No início do mês de Outubro esteve a debate, em Alijó, a viabilidade do novo produto turístico proposto para o Tua (que junta o comboio, funicular e barco), representando um investimento de 40 milhões de euros. Daniel Conde, do Movimento Cívico pela Linha do Tua (MCLT), critica o projecto nos termos em que é apresentado e considera que os problemas ambientais se mantêm. «O que resolveria o problema seria parar-se com o absurdo da barragem», sublinha.
A conferência internacional «Railroads in Historical Context» que decorreu em Alijó no início de Outubro, reuniu investigadores internacionais, operadores turísticos do Douro e responsáveis da EDP, empresa que há dois anos está a construir a Barragem de Foz Tua num território que compreende os concelhos de Alijó (Vila Real) e Carrazeda de Ansiães (Bragança). 

A construção do empreendimento levou à elaboração de um plano de mobilidade turística que está a ser gerido pela Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua (ADRVT) e que consagra um investimento de 40 milhões de euros: dez milhões a cargo da EDP e os restantes 30 através de fundos comunitários (QREN).

Questionado sobre este investimento, Daniel Conde, do MCLT, considera que a questão fulcral do investimento não está na verba em si, mas na sua distribuição pelas várias componentes do plano de mobilidade: «autocarros para o transbordo Tua/Brunheda (componente que tem passado bastante despercebida), os veículos ferroviários que farão os cerca de dois quilómetros da estação do Tua ao paredão, o funicular, os ancoradouros, os barcos, e claro, a recuperação do troço Brunheda/Cachão na Linha do Tua».

Segundo as contas apresentadas no Relatório de Conformidade Ambiental do Projecto de Execução (RECAPE) da barragem do Tua, o investimento requerido para a reabertura do troço Brunheda/Cachão por quilómetro é de 400 mil euros. «Ou seja, o investimento necessário à recuperação da linha propriamente dita neste percurso de 21 quilómetros rondará os 8,4 milhões de euros», vinca aquele responsável.

Por outro lado, o investimento necessário para a recuperação da linha entre a estação do Tua e a barragem, o funicular, os ancoradouros e um barco, foram orçados em 6,5 milhões de euros no RECAPE. «Esta soma não considera os veículos ferroviários para o troço Tua/barragem e mais um barco reflectidos no ulterior protocolo do plano, pelo que o investimento final será mais à volta dos 8,5 milhões de euros – praticamente o mesmo que recuperar a Linha do Tua entre o Cachão e a Brunheda, obra prometida ainda por Ana Paula Vitorino, ex-Secretária de Estado dos Transportes, em 2008», recorda o responsável.

Por esta razão, saliente Daniel Conde, «cada uma destas componentes, sendo a Linha do Tua entre Carvalhais e a Brunheda, do meu ponto de vista, completamente independente da solução proposta para o troço Tua/Brunheda, mas não vice-versa, é, individualmente, pagável apenas pela verba disponibilizada pela EDP, sem a necessidade de se recorrer a fundos comunitários». 
«Mesmo somados, os cerca de 17 milhões de euros necessários são menos de metade dos 40 milhões tantas vezes apregoados pela comunicação social, mas tão pouco analisados a fundo, cabendo à EDP pagar apenas 2,5 milhões de euros em caso de aprovação em candidatura ao QREN», acrescenta.

Contudo, para os promotores da barragem do Tua – EDP e a ADRVT – o troço Brunheda/Cachão «não é uma obrigatoriedade». 

«Como bem têm atestado todas as peças jornalísticas sobre este assunto de há meses a esta data, a sua prioridade é a solução dita “turística”, mas apenas na sua componente entre o Tua e a Brunheda. A Linha do Tua, seja na sua vertente “turística” (resta saber o que querem dizer com turística no caso da Linha do Tua), seja na visão do transporte diário, é completamente relegada para segundo plano. Pior, é sempre conotada como algo muito oneroso e completamente dependente de verbas comunitárias. Não se garantem quaisquer perspectivas nem da continuação da exploração ferroviária, nem tampouco da recuperação do troço Brunheda/Cachão», explica o dirigente do MCLT.

«Dúvida total»:
Este é o aspecto que mais preocupa Daniel Conde já que «o dito protocolo continua a lançar a Linha do Tua em dúvida total, não se sabendo ainda se a circulação ferroviária não será pura e simplesmente extinta e criado um serviço rodoviário, ou se o troço Brunheda/Cachão será de todo recuperado».


E está convicto de que «à vista dos vários casos de serviços de substituição do comboio por autocarros desde a década de 1980 até bem recentemente, os quais duraram apenas um punhado de anos até serem também eles extintos, tudo isto se traduz num desprezível plano da EDP e da ADRVT para pura e simplesmente acabar de vez com a Linha do Tua, de forma silenciosa e discreta».

O responsável vai mais longe afirmando que «não será à toa por isso que a ADRVT terá desprezado este ano uma proposta de pré-estudo de viabilidade para a reabertura do troço Brunheda/Cachão (e até do troço Carvalhais/Macedo de Cavaleiros) que apresentei a um autarca local, o qual a terá feito chegar ao conhecimento do Presidente dessa agência». 

«Não só o estudo aponta para um modelo de exploração rentável e com impactes consideravelmente positivos para a região, como indica que, até Dezembro deste ano, o QREN apresentava um concurso para financiar… ferrovias no Norte», sustenta. 

E questiona: «se a barragem é-lhes uma certeza desde há vários meses, porque não se avançou já para o regresso do comboio à Brunheda, regresso esse que não depende em absolutamente nada da trapalhada proposta para o percurso Tua/Brunheda?».

«Neste sentido, esta falta de discussão à volta tanto do número 40 milhões como da sua aplicação é muito alarmante – e atestatório da falta de transparência que tem patenteado esta obra», vinca.

O investigador do MIT Portugal, Eduardo Beira, considerou naquele encontro sobre o Tua que o plano multimodal proposto para o Tua, que junta o comboio, funicular ao barco, vai «permitir ressuscitar» a linha ferroviária do Tua. 

Contudo, Daniel Conde tem muitas dúvidas: «as afirmações do professor Eduardo Beira revelaram um profundo desconhecimento sobre o que é a Linha do Tua, e sobre o que o Plano de Mobilidade sanciona sobre o seu futuro, e por conseguinte um notório desprezo pelas populações locais e utentes da Linha do Tua».

«Uma dessas afirmações, a do “ressuscitamento” da Linha do Tua, é de facto singular: chamar-se ao retalhamento de uma via-férrea de 126 anos, que viveu os últimos 30 anos sob uma gestão de destruição e asfixia, e que mesmo assim chegou ao cúmulo de em 2008 registar o único serviço regional em Portugal com mais procura que oferta, de “ressuscitar”, não é algo que ocorra a ninguém de bom senso – ou minimamente bem informado sobre o que está a falar», considera.

O responsável daquele Movimento não tem dúvidas: «o que ressuscitará a Linha do Tua será reabri-la da Brunheda a Bragança, e obrigar também a EDP a assumir o que foi registado no Caderno de Encargos e ainda no Estudo de Impacte Ambiental, e que doravante foi sendo completamente desvirtuado: construir uma linha nova entre a Brunheda e o Tua, no caso da barragem do Tua ser concluída».

Por isso adianta que, o que resolveria o «problema» seria, «em primeira instância, parar-se com este absurdo da barragem. Mas, uma vez não estarmos a viver um período da nossa História com uma governação séria e corajosa, e em se concluindo esta barragem, o que resolveria o problema seria a construção de um novo canal entre a estação do Tua e a Brunheda». 
«O desnível entre a estação do Tua e o paredão pode ser vencido com recurso a essas banais técnicas das ferrovias de montanha do século XIX, de entre as quais o traçado em Z ou as chamadas “ferraduras”».

Problemas ambientais e paisagísticos persistem:
Os problemas ambientais e paisagísticos continuam a existir. «A barragem é igual, as medidas de salvaguarda iguais, o rio é o mesmo, a paisagem a mesma, as espécies de fauna e flora locais as mesmas. O resultado final não se alterará de uma devastação económico-social, paisagística e ambiental sem qualquer benefício que o justifique».

Recorde-se que a construção do Aproveitamento Hidroeléctrico de Foz Tua implica a submersão de parte da linha ferroviária do Tua. Para o Tua propõe-se agora um sistema multimodal, que começará pelo transporte ferroviário até à barragem, com subida do paredão através de um elevador panorâmico (funicular) e depois viagem de barco até à Brunheda, onde se entrará novamente no comboio até Mirandela.

Desde que foi anunciada a construção da barragem de Foz Tua, que os defensores da linha ferroviária têm feito tudo para impedir que a mesma avance. Argumentam que tal levará à destruição de paisagem do Douro Vinhateiro, considerada Património da Humanidade pela UNESCO e de uma linha centenária que é, para muitas populações transmontanas, uma via para o desenvolvimento e para a sua mobilidade.

Ana Clara
in:cafeportugal.net

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