Os agricultores e pastores da região afetada pelo grande incêndio que percorreu a região do Douro Superior em julho andam com "o credo na boca" devido as marcas "irreparáveis" em amendoais e olivais tradicionais e áreas de pasto.
"Está tudo destruído. Está tudo negro. Já deveríamos estar a negociar a amêndoa, mas o fogo não deixou nenhuma. Há amendoais destruídos e a produção de azeitona para conserva foi também muito afetada. Arderam-me 10 hectares de culturas e só espero que haja ajudas para voltar a produzir", contou António Cordeiro.
O incêndio de julho consumiu uma área estimada em 14.912 hectares de terreno, dos quais 11.980 em espaços florestais e agrícolas, afetando localidades dos concelhos de Alfândega da Fé, Mogadouro, Freixo de Espada à Cinta e Torre de Moncorvo. O concelho de Mogadouro "foi o mais afetado pelas chamas", tendo ardido 6.850 hectares de florestas e diversas culturas agrícolas.
Passados quase cinco meses, os proprietários agrícolas fazem contas à vida, garantindo que há zonas que nem daqui a 15 anos voltam a dar flor ou fruto dada a violência com que as chamas afetaram as culturas à qual se juntou agora a erosão dos terrenos.
"Há perdas de culturas que são irreparáveis devido às condições do terreno, como são as ladeiras ou as encostas do rio Sabor que dificilmente voltam a ser replantadas", acrescentou o agricultor.
O olival e o amendoal representam cerca de 18% da área ardida, numa zona onde esta cultura tem um "forte potencial económico" para a agricultura da região do Douro Superior.
"A produção de azeitona de conserva ficou reduzida a um terço, numa área de forte implantação do fruto. Há forte sentimento de perda, o lucro da amêndoa já não se viu e o mesmo vai acontecer com o olival", destacou Luís Fernandes, presidente da Junta de Meirinhos, uma das localidades mais afetadas pelo incêndio.
Nas aldeias dos Estevais, Quintas das Quebradas (Mogadouro) ou Carviçais (Torre de Moncorvo) o sentimento é idêntico ao dos seus vizinhos. As perdas, em alguns casos, rondam praticamente a totalidade das culturas.
in:rba.pt
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