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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

PASCOELA

Nos idos da meninice e adolescência a Pascoela no meu sentir e sentidos era a continuação da Páscoa, mais florida, mais garrida nas tonalidades, embora no referente à aldeia dos prodígios, Lagarelhos para o leitor desprevenido tomar nota, as pascoelas e as violetas ganhassem em número no bordar as bordas dos caminhos.
No dia de Pascoela abria-se o último folar, rotundo, as carnes gordas durante a espera soltavam babas a humedecerem a massa transformando-a em paparreta deleitosa porque acrescida de uma rodela de salpicão, de chouriça ou bocado de presunto.
Nalguns anos a bênção das casas calhava na Pascoela, o calendário do Sr. Padre Aurélio o determinava. Vinha de Vilar de Ossos (ursos há centenas de anos deambulavam naquelas paragens) montado não numa alimária qual besta de bufarinheiro, sim numa égua rabuda, sempre em trote lento, nunca a vi a galopar.
O Padre Aurélio Vaz esteve nas trincheiras da guerra de 14-18, vicissitudes resultantes da dupla acção de Afonso Costa (a lei da separação, e o envio de tropas portuguesas para o terrível conflito). Na altura de entrar na casa da minha avó paterna, e até ao regresso do meu avô a viver no Brasil, recordava o terem sido camaradas de guerra, bebia um cálice de vinho fino, mordiscava um palito doce, o Chico retirava as moedas do pires, o resto dos mordomos comiam folar e bebiam vinho translúcido servido em copos usados nos dias de festa. À saída o bondoso pároco indagava sobre os meus progressos escolares, respondia titubeando, sorria ele despedindo-se fazendo-me uma festa no cabelo. Eu gostava deste sacerdote antigo pedagogo no Seminário de Vinhais.
E, os sinos? A minha perdição. Há anos escrevi uma crónica dedicada aos sinos do concelho de Vinhais, aludi ao seu valor como activo turístico tal como se comprova noutras paragens. A ideia era é incorporá-los como estuante activo vinhaense no sentido de provocar atracção de públicos de públicos vinculados às denominadas culturas clássicas e eruditas por um lado, por outro recuperar os filamentos da cultura popular para construir conteúdos de múltiplos tons e sons.
Os sinos terão sido inventados pelos egípcios (não adianto mais porque o espaço é curto), na Pascoela continuava a funçanata de os balouçar incessantemente, não faltavam especialistas no exercício de vários toques, repiques e repenicados, um autêntico bródio até ao toque das Trindades.
O sentido do tacto expandia-se num ápice nos jogos de «partir cacharros), no entanto, a cousa ganhava alento no decurso do baile onde era notória a selecção etária por os garotos ainda não terem catarro.
Não queria lembrar-me da Pascoela! Mas lembro.


Armando Fernandes
in:mdb.pt

PS. No dia 31 de Março, na Livraria Ferin (Lisboa), teve lugar a apresentação do mais recente livro de Ernesto Rodrigues, Uma Bondade Perfeita. Aos presentes ao acto o autor ofereceu notável composição literária em português cristalino a realçar as figuras do xadrez vivencial da obra. Saboroso presente.

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