Francisco do Vale Martins, tem 74 anos de idade, nasceu em Carção, mas foi criado em Vila Nova. Foi soldado, cabo e sargento da guarda fiscal e após a reforma foi, durante 7 anos, taxista na cidade de Bragança.
O Tio Martins tem ainda um passatempo de campeão no jogo do fito. Tem dezenas e dezenas de taças expostas em sua casa, que representam os prémios conquistados desde 1975.
Há 20 anos, em 1996, o Tio Martins ambicionava ir a Expo 98 para mostrar a vida do campo. Começou então a construir peças em miniatura que reproduzem os cenários encontrados no campo, tudo pacientemente esculpido em madeira. As madeiras usadas são maioritariamente o freixo – que por ser a mais dura é também a mais difícil de manobrar –, o carrasco, o negrilho e o carvalho. Acabou por não ir à Expo 98 pois era uma exigência pagar o assento e comercializar as peças. O Tio Martins diz-nos, com orgulho genuíno, que não há dinheiro que pague aquilo que ele, com empenho, construiu ao longo dos anos.
Os detalhes são de uma precisão incrível e é unicamente com a sua faca e formão que o Tio Martins transforma os blocos de madeira em verdadeiras obras de arte não havendo lugar para colas e outras artificialidades!
O que começou por ser um passatempo é agora uma paixão na vida do Tio Martins, que faz tudo inspirado na salutar vida do campo.
A sua colecção conta com inúmeras peças. Tem um carro de bois com todos os utensílios, desde as caniças aos estadulhos, trilhos, etc. que demorou 400 horas a ser completado.
A chega de touros que tantos seguidores têm na nossa região também está retratadanos seus trabalhos
Tem animais – galinhas, porcos e os repectitivos leitões, bois, burritos... Tem moínhos, tem pombais, lagares numa inigualável colecção que guarda com orgulho nos seus aposentos.
A peça que classificamos como a cereja no topo do bolo é aquela que mais tempo demorou a fazer:
A capela de São Jorge, em Vila Nova (Bragança) que contou com 680 horas de dedicação ao longo de 5 anos. Só visto! O pormenor, o muito que deu de si transbordam em cada relevo, em cada curva daquela tão impressionante obra de arte!
Qualquer trabalho que o Tio Martins faz demora no mínimo 20-30 horas. O primeiro trabalho que ele fez foi um burrico e uma pessoa que representou o sogro e o seu animal. Conta-nos que o fez para o homenagear o sogro que “andava muitas vezes d’a cavalo”.
O Tio Martins não comercializa a sua colecção pois reconhece-lhe um valor que não pode ser pago com dinheiro mas com admiração! Recentemente esse valor foi-lhe reconhecido pois foi convidado para expor o seu espólio no museu da mascara no castelo em Bragança. O trabalho do Tio Martins é realmente muito bem feito e exige muitas horas e muita concentração, empenho e dedicação. Talvez a autarquia possa encontrar uma forma de perpetuar a obra e arte do Tio Martins – que representa nada mais nada menos que o modo de vida dos nossos antepassados – num local onde a nossa história possa ser contada vezes sem conta às gerações vindouras ao longo dos anos.
in:jornalnordeste.com
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(Henrique Martins)
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