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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

A Feira de Bragança ao Longo dos Tempos (4) - A TRADIÇÃO DE VIR À FEIRA PARA VIR À CIDADE

Ao longo de séculos em Trás-os-Montes, com fracas vias de comunicação, a província com a mais extensa fronteira terrestre, as feiras desempenhavam papel fundamental na atividade económica. Os homens do campo deslocavam-se às feiras levando animais e produtos da lavoura para venda, fazer as compras necessárias às suas atividades domésticas e do campo, adquirir ou trocar produtos. A situação evoluiu muito, à medida que as vias de comunicação foram rompendo o isolamento dos territórios e evolução dos meios de transporte.
Muitos dos bens deixaram de ser transacionados nas feiras e nas aldeias, onde também se faziam trocas de produtos, surgiram pequenos comércios, logo de seguida ganha maior expressão a venda ambulante, não tardou surgiram as médias e grandes superfícies comerciais. Em Bragança, na década de noventa instalaram-se quatro médias superfícies comerciais. Em menos de meio século, o abastecimento público alterou-se quase de forma radical, assim como a relação entre produtores e consumidores. 
O transporte por tração animal que permitia aos agricultores transportar os seus produtos para os locais de venda nas feiras, foi sendo substituído pelo transporte em camionetas e autocarros que, para além de transportarem passageiros, transportavam alguma carga por cima do tejadilho e no compartimento inferior onde também eram transportados pequenos animais. Nas camionetas, veículos de transporte de carga e de passageiros, eram transportadas mercadorias diversas e também pessoas. Alguns camionistas dispunham de licença específica para o transporte de passageiros, adaptando as carroçarias, colocando nq parte da frente, coberturas amovíveis onde eram colocados bancos corridos para os passageiros, a parte de trás era destinada ao transporte de carga e de animais.
Com a evolução dos meios de transporte, os agricultores deixaram de fazer longas jornadas a pé conduzindo os animais à feira, passaram a transportá-los em tratores e camionetas. Também os carros de bois carregados com produtos da terra deixaram de fazer o lento e longo percurso das aldeias para a cidade. Das aldeias vizinhas de Espanha, em particular da zona da Sanábria, vários agricultores conduziam os seus animais à feira de Bragança.
Virgílio Taborda refere que já durante o século XIX, as feiras de Bragança se tinham especializado na comercialização de gado e cereais, embora se transacionassem outros produtos da economia local e regional, que na década de 1930, as feiras da Terra Fria, nomeadamente a de Bragança e dos Chãos se tinham praticamente transformado em mercados de gado. 
A criação de gado de todas as espécies reduziu muito, em particular o bovino, que prestava importantes serviços na lavoura, nos transportes de mercadorias, fornecia matéria primas para a indústria e carne para alimentação. Nas últimas três décadas no concelho, o número de animais reduziu de cerca de 6000 animais para pouco mais de 2000. Tudo mudou a um ritmo muito acelerado, isso não significa que a economia da região tivesse baixado. A evolução do comércio, dos serviços, da indústria, tem permitido à região progredir em termos de rendimento médio per capita, aproximando-se da média nacional, apesar de continuar a ser preciso percorrer um longo e difícil caminho para reduzir as assimetrias que persistem e combater o acelerado despovoamento do território.
O abastecimento público de bens mudou muito rapidamente, o sistema comercial disponibiliza diariamente todos os produtos, apoiado numa rede que cobre o território, o que veio a diminuir a importância das feiras, hoje reduzidas a uma pequena componente de produtos da terra e à venda de roupa e objetos variados. Mantém-se ainda a tradição, em particular dos mais idosos das aldeias, de ir à feira, como que um pretexto para vir à cidade.
A Feira está agora instalada em espaço central em termos urbanos, com boa acessibilidade, para vendedores e feirantes, aí se podendo aceder a pé a partir de qualquer ponto da cidade, ocupa uma área contígua ao Mercado Municipal, à Catedral, e aos edifícios sede do Município.
De destacar que os concursos de bovinos de raça mirandesa se iniciaram no ano de 1865, concurso que teve interrupções. A partir do ano de 1998, passou a realizar-se no dia 21 de agosto, dia principal das festas da cidade, dedicado aos agricultores do concelho, realizando-se no recinto do anfiteatro do IPB, junto às cantinas escolares, recinto com boas condições de segurança para centenas de pessoas assistirem ao desfile e classificação dos animais das várias secções a concurso. Após a entrega dos troféus, segue-se o almoço convívio com os agricultores, enquanto se prepara a tradicional luta de touros, à qual assistem milhares de pessoas. A luta de touros decorria em campo improvisado contíguo ao campo de futebol do Trinta, ocorrendo por vezes acidentes graves com a fuga dos touros.
As condições de segurança no espaço improvisado do Trinta eram insuficientes, os agricultores pediam melhores condições, por isso se decidiu assumir a construção de um Recinto de Promoção e Valorização das Raças Autóctones, com plenas condições sanitárias e de segurança, em recinto definitivo e licenciado para o efeito, onde se pudessem realizar os concursos de animais, a luta de touros e reiniciar as feiras de gado. O local escolhido foi na envolvente do estádio municipal, com um moderno e funcional projeto de arquitetura, bons acessos e estacionamento. O recinto foi concluído a 21 de agosto de 2013, aí se fez a festa que os agricultores aguardavam.
Atualmente, na cidade, para além da feira semanal, realiza-se a feira das cantarinhas, a feira do artesanato e a feira “Norcaça/ Norpesca/Norcastanha”.
Na área rural realizam-se algumas feiras. Em Izeda, realiza-se a feira dia 8 e 26 de cada mês e a feira do folar no domingo de Ramos, teve a sua primeira edição no ano de 2000. Na aldeia de Parada a feira mensal deixou de se realizar há cerca de 15 anos, realiza-se agora uma feira anual de artesanato e produtos regionais, tendo ocorrido a 1.ª edição em dezembro de 2007 no pavilhão multiusos, inaugurado no mês de dezembro de 2005. Em S. Pedro dos Serracenos, realiza-se a feira das Cebolas, com a 1.ª edição no ano de 2000. Em Samil realizou-se a 1.ª edição da feira do Pão a 25 de abril de 2014; Em Rabal, realiza-se no dia 15 de agosto, desde o ano de 2002, a feira dos produtos da terra, em espaço construído para a realização de feiras e festividades, inaugurado a 15 de agosto de 2012. Na aldeia de Coelhoso realiza-se desde o ano de 2010, a feira do Cordeiro, no pavilhão multiusos, inaugurado no mês de agosto de 2009.
Em cerca de década e meia foi assegurada a construção de um matadouro municipal, a construção do novo mercado municipal, com a valência de feira dos produtos da terra, a instalação da feira em espaço central e condigno, a construção de espaço próprio para os concursos de gado e de luta de touros, o apoio ao lançamento de algumas feiras anuais, iniciativas que contribuem para a valorização de recursos endógenos, em particular da atividade agrícola,  pecuária e florestal. Na era do comércio electrónico, do comércio e logística globais, importa valorizar o que está próximo, é distintivo, seja os recursos endógenos, a identidade, os valores culturais as pessoas o mais valioso recurso de um território.
Jorge Nunes

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