RITUAIS E SIMBOLOGIA DA MÁSCARA
Os rituais festivos da máscara no Nordeste Transmontano ocorrem em dois momentos fundamentais do inverno: o primeiro é o chamado ‘ciclo dos doze dias’, compreendido entre o Natal e os Reis (com as festas dos Rapazes, de Santo Estêvão, de São João Evangelista, do Ano Novo e dos Reis); o segundo é o Carnaval, de sábado à Quarta-feira de Cinzas. Nestas celebrações, os mascarados assumem papéis diversificados, cada um deles com a sua simbologia específica; em todo o caso, e por se tratar de atos sagrados na sua génese, as máscaras cumprem uma finalidade cultural.
Os mascarados são os protagonistas destes rituais festivos, pelo que, a máscara se constituiu o elemento imprescindível das celebrações. Os trajes, os chocalhos, os tridentes, as tenazes e outros adereços completam a indumentária necessária à metamorfose que eleva simples mortais ao estatuto de titãs – entidades superiores que desafiam os deuses ou celebram rituais sagrados em benefício do povo.
Na antiga Ibéria, tratava-se de ritos agrários de fertilidade; talvez por isso, ainda hoje, as máscaras ostentam elementos relacionados com esta simbologia. A expulsão dos males da comunidade ou profilaxia social pode constatar-se na crítica social, nos castigos (simbólicos) corporais, nas fogueiras ou na queima do Entrudo ou mesmo na luta dos opostos. Os ritos de iniciação ou de passagem dos jovens à idade adulta constituem um aspeto fundamental da simbologia das festas dos Rapazes na nossa região e em outras partes (centro e norte) da Península Ibérica.
Para a compreensão destes factos culturais torna-se necessário recuar no tempo – o da Antiguidade Celta, Grega e Romana e, em certos casos, a Idade Média. Contudo, toda a simbologia contida nos rituais festivos com máscara permanece vigente nos nossos dias; esta circunstância permite-nos considerar as mascaradas como elementos identitários das comunidades que as celebram, condição sine qua non para a sua classificação como Património Cultural Imaterial. Com esta amostra, o Centro de Interpretação do Território de Sambade presta um valioso contributo para a valorização deste Património.
António Pinelo Tiza
Academia Ibérica da Máscara
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