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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

A Economia de Bragança em 1721


A economia do concelho de Bragança, durante séculos, manteve características próprias de uma economia de Antigo Regime, baseada, portanto, numa agricultura rotineira e arcaica e na criação de gado, atividade económica, complementada pela sericicultura e pela indústria da seda, a qual lhe deu alguns períodos de significativa prosperidade.
A economia rural deste Município, como aliás da Terra Fria trasmontana, assentava numa agricultura de cereais e na criação de gado – “a seara de centeio e o lameiro são, por isso, as notas típicas da paisagem”, como escreveu Virgílio Taborda –, a que, a partir de inícios do século XIX se associou a batata.
Predominava a cultura do centeio, seguindo-se o trigo e, excepcionalmente, a cevada e o milho. A batata, ao contrário do que se tem escrito, embora não sendo desconhecida em Trás-os-Montes no século XVIII, apenas se generalizou em Bragança e por todo o nordeste trasmontano a partir das invasões francesas.
Cardoso Borges, em 1721-1724, muito pouco se refere quanto à realidade económica de Bragança, limitando-se a referir as produções agrícolas e pecuárias mais comuns no município e, quanto à indústria, um pequeno texto sobre a “fábrica da seda”.
Assim, apenas indica que o pão era “abundante”, os vinhos “excelentes”, as hortaliças “boas”, frutas “de guarda”, muita castanha, algum azeite, legumes e lacticínios.
Menciona, ainda, carnes “gostosas”, sobretudo a de porco; caça – perdizes, lebres, coelhos, corças e javalis – nos montes; e trutas, bogas, barbos e enguias nos rios, embora refira que, “sempre que o tempo o permite, o peixe do mar também chega a Bragança”.
Nas suas quatro praças vendiam-se hortaliças, legumes e fruta de Mirandela, e azeite e melões da Vilariça. O seu comércio era alimentado basicamente por tais produtos e pela seda.
Quanto ao sector da indústria, para além das atividades artesanais típicas da estrutura socioeconómica do Antigo Regime, apenas merece referência particular, devido à sua importância e difusão no concelho, a indústria das sedas.
A indústria das sedas na cidade de Bragança, que remonta ao século XV, foi objeto de sucessivas tentativas de modernização nos séculos XVII e XVIII. Em 1678, mestres estrangeiros, nomeadamente de Itália, são chamados a Portugal para o aperfeiçoamento das manufaturas das sedas, incluindo as de Bragança. Com efeito, a fábrica da seda da capital do Nordeste Trasmontano, que se encontrava “quase extinta”, foi restabelecida por Pedro II, que mandou vir de Toledo oficiais e o mestre Eugénio Gomes, a quem deu tença, pondo-lhe naquela cidade “casa pública para ensino dos naturais”.
Carvalho da Costa, na sua Corografia Portuguesa, escrita no que diz respeito a Trás- os-Montes entre 1695-1700, dá-nos conta, relativamente a Bragança, que na cidade se fabricavam veludos, damascos, pinhoelas e gorgorões, e que tivera uma “casa por conta de sua majestade, em que se obravam excelentes veludos lavrados”.
Por 1721-1724, José Cardoso Borges, na sua Descrição topográfica da cidade de Bragança, dá conta da produção de “excelentes sedas”, no termo da cidade, e de “um honesto trato na fábrica da seda”, conhecida no passado pelo número dos seus operários – na cidade e seu distrito, segundo a tradição, “constava a fábrica da seda de cinco mil teares” –, localizando-se as casas da fábrica, segundo os tombos do Almoxarifado de Bragança, na rua dos Oleiros.
Constava, então, “somente”, de 30 tornos e 350 teares, ocupando-se a maioria em “mantos de peso” e nela se lavravam roupas lisas de todo o género, damascos, pinhoelas, veludos lisos e lavrados.
O que José Cardoso Borges não refere – como não podia referir – é que a indústria das sedas de Bragança, como do Nordeste Trasmontano, se encontrava arruinada, devido fundamentalmente à Inquisição. A “sinistra” ação do Tribunal da Inquisição, só por si, é mais que suficiente para explicar a anemia e mesmo a interrupção temporária de que indústria das sedas foi objeto, por várias vezes, durante aquele período. Só Bragança, entre 1580-1755, soma 1 451 processados pela Inquisição de Coimbra, 1 601 se a estes juntarmos as pessoas naturais daquela cidade processadas pela Inquisição de Évora.
As perseguições exercidas pela Inquisição durante a sua existência abateram-se fundamentalmente sobre os “homens de negócio”, sinónimo, no século XVII, de “cristãos-novos” e “gente de nação”, isto é, sobre a burguesia de negócios. Sob o pretexto de que os “cristãos-novos” eram judeus, a Inquisição exerceu uma perseguição impiedosa e sangrenta sobre a burguesia mercantil, industrial e financeira, perseguição tanto mais implacável quanto os bens dos processados eram confiscados.

in: Memórias de Bragança
Publicação da C.M.B.

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