Bispo do Porto. Nasceu em Vila Franca de Lampazes, concelho de Bragança, a 9 de Janeiro de 1543 e faleceu a 20 de Outubro de 1617 pelas doze horas do dia. Era filho de António Borges de Morais, natural da referida Vila de Lampazes, e de D. Francisca de Morais, natural de Bragança, ambos parentes, pessoas nobres de geração conhecida.
Apenas estiveram casados quatro anos, indo depois a viúva, pela morte do marido, residir para Ansiães com seus três filhos; aí aprendeu gramática Gonçalo de Morais, e tendo catorze anos de idade foi receber o hábito de S. Bento no convento de Refojos de Basto a 29 de Dezembro de 1558.
Foi mandado pela sua ordem a estudar teologia à Universidade de Coimbra, depois do que exerceu várias prelazias na mesma ordem e na Congregação Geral feita em Tibães em 1585 foi eleito geral, para o que muito cooperou a recomendação de el-rei Filipe II. Ficou assinalado o seu generalato pelas sábias medidas que tomou; mesmo depois de concluído o seu triénio prestou à ordem um relevante serviço: era o caso que se tinha introduzido o abuso de entregar a administração económica dos mosteiros a comandatários que, não lhes prestando serviço algum, os exploravam escandalosamente. Eram umas verdadeiras sanguessugas refasteladas em proventosas sinecuras. Em vão gritavam os frades que muitas vezes passavam fome, enquanto os comandatários impavam de fartos. Gonçalo de Morais foi comissionado pela ordem à corte de Madrid dizer da sua justiça e conseguiu que o rei cedesse da corruptela de apresentar comandatários nos conventos beneditinos, facto de grande importância para o progresso da ordem e que foi grandemente celebrado.
Fundou em Santarém o convento beneditino chamado do Milagre em uma ermida que a infanta D.Maria Manuel lhe cedeu, nele foi por alguns anos prior, e depois, sendo bispo, dotou-o com rendas suficientes para prosseguirem as suas obras.
A então vila de Santarém, hoje cidade, receava muito da cólera de Filipe II pela notável parte que tomara na aclamação de D. António, Prior do Crato; mas o caridoso padre tanto instou que conseguiu desarmar as iras do sombrio fundador do Escorial, em memória do que a vila espontaneamente forneceu ao seu protector três mil pedras lavradas para a fundação do convento.
Vagando o arcebispado de Lisboa pela morte de D. Jorge de Almeida, Filipe II concedeu a Gonçalo de Morais uma pensão de quatrocentos cruzados nas rendas deste arcebispado, que ele desfrutou até ao fim da vida, mesmo quando já era bispo do Porto. Cunha e Florez dizem que a virtude de Frei Gonçalo foi o motor que influiu no régio ânimo para tal generosidade; se assim é, parece-nos que não deve entender-se a patriótica.
Terminada a prelazia de Santarém, foi Gonçalo de Morais viver para o convento de Lisboa, de onde foi eleito para bispo do Porto em Janeiro de 1602 e consagrado a 25 de Abril seguinte, tomando posse a 16 de Maio do mesmo ano. Visitou pessoalmente a diocese, assinalando-se pela sua extrema caridade, que muitas vezes o levou a distribuir pelos pobres a cruz peitoral e o anel prelatício à míngua de outros recursos.Mandou fazer de novo a sacristia e a capela-mor da Sé, obra grandiosa que bem mostra a generosidade do seu ânimo, e a pintura do retábulo da mesma incumbiu-a o magnânimo bispo aos artistas mais distintos que no género havia em Portugal. O altar-mor é obra do italiano Valentim, discípulo de Miguel Ângelo, que traçou o desenho.
Também mandou vir do estrangeiro a estante do coro e grades da capela-mor em bronze de grande valor e fez construir de jaspe o púlpito, em que a arte excede muito a matéria, diz D. Rodrigo da Cunha.
Além destas obras, outras de somenos valor fez na mesma Sé, rasgando friestas para maior divisão de luz e enriquecendo-a de muitos ornatos de prata, ouro e outros guizamentos.Mandou edificar defronte do aljube, ou prisão eclesiástica, uma capela dedicada a S. Gregório para que os presos pudessem ouvir missa, e para a sua fábrica bem como para a da capela-mor da Sé comprou uma renda de 120$000 réis de juro, de que constituiu administrador o cabido.
O brasão de armas do Ilustríssimo Senhor Dom Frei Gonçalo de Morais : pedra de armas da capela da casa de Selores : Carrazeda de Anciães |
Acabou a capela de Nossa Senhora da Saúde, começada pelo bispo D. Frei Marcos no claustro da Sé, e em nichos especiais mandou recolher os restos mortais dos bispos seus antecessores, que repousavam em diversos locais daquele templo, colocando-lhe epitáfios indicativos dos nomes de cada um em lâminas de bronze.
Estes trabalhos materiais não lhe impediam a suma vigilância espiritual que sempre lhe mereceu a diocese. À hora da morte mandou distribuir pelos pobres tudo quanto tinha, sem reservar coisa alguma.
Escreveu: Dois catálogos dos bispos do Porto, obra que forneceu a D. Rodrigo da Cunha muitos subsídios para a sua História.
O Portugal – Dicionário histórico, artigo «Morais», diz que este bispo deixou escrito um tratado em latim e vinte e cinco sermões pregados até ao ano de 1610, quando era bispo.
Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança
O Bispo Gonçalo de Morais é meu "avoengo".
ResponderEliminarGrato pelo artigo.
EmIliano Rodrigues dos Santos