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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

O ATREVIMENTO NÃO TEM LIMITE

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas..."
Quando frequentava o liceu Alexandre Herculano, no Porto, tinha como companheiro, rapaz de olhos tímidos, que se isolava da restante turma.
Mal a sineta tocava, indicando que era hora de recreio, saia, calmamente, e logo se encostava ao balcão do vestuário, a conversar, ou melhor, a ouvir, a senhora Olívia, mulher baixinha, de meia-idade, responsável pela roupa, e demais utensílios dos alunos.
Era, na ocasião, o “urso” da turma. Sempre tinha resposta pronta, na ponta da língua, e indicador alçado ao céu de estuque, da sala.
Mais tarde, inexplicavelmente, foi decaindo, chegando a reprovar, uma ou duas vezes, o mesmo ano.
Lembrei-me desse infeliz ao falar com o amigo Zé; e no que me disse, em dia de confidências: “ - Raras vezes aceitam as minhas ideias! …”
É que, muitos anos depois de ter deixado os bancos liceais, encontrei-o, como balconista, numa livraria da minha cidade.
A fisionomia era a mesma, assim como o aspecto físico, mas logo pressenti, que dentro daquele corpo franzino, de olhos tristes e acabrunhados, havia espírito de invulgar capacidade.
Durante a curta conversa que travamos, disse-me: que ninguém o levava a sério, porque: “ humilde trabalhador, nunca tem razão…”
Até descobrir meio eficaz de ser escutado, com atenção, e com muito respeito.
- Como? - Perguntei, curioso.
- “ A maioria das pessoas, são como livros encadernados, de folhas brancas: bonitos por fora, ocos por dentro; mas prezam-se de serem considerados cultos…Quando se quer impor opinião, sempre se deve, esclarecer: que a ideia não é nossa, mas de iminente figura: filósofo famoso; teólogo sapiente; político considerado; economista reconhecido; ou psicólogo iminente.”
E prosseguiu:
- ” Ao citar frases inteiras (falsas) e opiniões de homens célebres (que apenas se conhece o nome), sobre este ou aquele assunto, o interlocutor, que não quer ser considerado ignorante, engole em seco, e “ acredita”, admirando o saber e a cultura do amigo ou subordinado.”
Assim, segundo disse, passou de néscio, a sapiente; de “analfabeto” a “doutor”.
Não sei se a esperteza do meu antigo condiscípulo, é original; mas receio, que haja “eruditos” de cafetaria, que empreguem o estratagema com sucesso.
A fraude, só pode ser descoberta – julgo eu, – se a citação é escrita, e acompanhada do nome da obra, onde se encontra inserida.
O atrevimento não tem limites… 

Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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