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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 3 de julho de 2023

Igreja de S.Vicente

 
S. Vicente, S. João, Santa Maria e S. Tiago são as quatro paróquias 
antigas em que se dividia Bragança ao tempo das Inquirições de D. Afonso III. S. Vicente era da apresentação real, mas D. Sancho I cedeu desse direito em favor do concelho.
Extinguindo-se a paróquia por falta de moradores, ficou reduzida a um benefício simples com obrigação de duas missas semanais. Em acto de visitação, o bispo de Miranda D. António Pinheiro mandou demolir o corpo da igreja por ameaçar ruína, e como a confraria de Santa Cruz se obrigava a reedificá-la, caso lhe fizessem doação dela, assim lho outorgou o mesmo prelado por escritura de 6 de Setembro de 1569, confirmada pela Nunciatura a 12 de Março de 1571 (546), podendo esta receber todas as esmolas, legados pios, etc., que lhe fossem deixados, e os beneficiados apenas as ofertadas com a expressa declaração a S. Vicente ou Santo Ildefonso, devendo haver sacrário para administração do Viático aos enfermos.
Esta confraria de Santa Cruz teve o piedoso exercício de enterrar os mortos antes da erecção das Misericórdias e estava erecta na antiga capela de Santa Catarina, depois encorporada na igreja de S. Francisco(547). Arruinando-se esta pelos anos de 1641 e suscitando-se dúvidas acerca da sua reedificação, os mesários, valendo-se da concessão do bispo Pinheiro, de que até aí ainda não usaram, transferiram-na para a igreja de S.Vicente.
«O bispo D. Antonio Pinheiro reformou esta confraria com Estatutos, e quasi a fundou de novo como consta do livro antigo da mesma e provisões juntas e lhe deve esta cidade a memoria, tanto da conservação da confraria, como deste templo, pela doação que lhe fez» (548).
Estes Estatutos vigoraram até Agosto de 1754, data daqueles por que agora se rege.
O actual templo foi reedificado pouco depois de 1683, por neste ano se ter arruinado o antigo, devido a cair sobre ele a alta e forte torre «como a das muralhas antigas» que tinha.
Venera-se nesta igreja a imagem chamada Santo Cristo, de extraordinária devoção entre os crentes. É antiquíssima e já veio da capela de Santa Catarina.
Quando o templo estava em reedificação é que António de Morais Colmieiro, cavaleiro do hábito de Cristo, fidalgo da casa real e sua mulher D. Angélica Maria de Sousa, por escritura de 12 de Outubro de 1686, fizeram doação à confraria para nela ser colocada a milagrosa imagem do Santo Cristo «duma capella feita d’abobada e cantaria, com porta em frente da Igreja de S. Vicente» (549). Esta capela faz hoje parte do corpo da igreja, e concluída a reedificação do templo se trasladou o Santo Cristo ao seu lugar na capela-mor,

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(546) BORGES – Descrição Topográfica…
(547) ESPERANÇA – História Seráfica…, livro I, cap. IV, p. 50.
(548) BORGES – Descrição Topográfica…
(549) BORGES – Descrição Topográfica. A Confraria do Divino Jesus de S. Vicente, p. 10.
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obra sumptuosa de talha dourada, a que deu princípio o juiz da confraria Francisco de Figueiredo Sarmento, ficando nela a Senhora do Carmo e sede de sua confraria.
A Senhora de Roncesvales (Rasavales), venerada nesta capela, deixa supor correlação com as propriedades que o seu Santuário de Navarra tinha na cidade de Bragança, segundo apontam as Inquirições de D. Afonso III (550).
Os fundadores da capela haviam casado em Bragança, freguesia de Santa Maria, a 28 de Abril de 1665; foi seu filho o genealogista e escritor Baltasar de Sousa Colmieiro, nascido na mesma freguesia a 30 de Abril de 1693 e não em Vinhais como traz a História Genealógica, tomo VIII, pág. 18 das «Advertencias» (551).
Relativamente ao labor artístico deste templo, diz Borges (552): 
«A capella-mór sem controversia he a mais rica e vistosa que ha nesta cidade toda coberta de entalhado, como tambem o arco e parte exterior com dous altares hum de S. Vicente e outro de S. Braz com Reliquia: e o bem delineado, e magnifico desta obra lhe tem grangeado o nome de Monte de Ouro». E, continuando a memorar as importantes cenas de que o templo tem sido teatro, aponta: nele «se cazou clandestinamente El Rey D. Pedro com D. Ignez de Castro, de que ha tradição constante, e de que foy nesta cidade o diz Faria na Europa, tomo 2.º, parte 2.ª cap. 4. fol. 182,Mendes Silva e outros.
Em hum arco, que está á mão direyta entrando pela porta principal está enterrado Martim Affonso Pimentel irmão de João Affonso Pimentel que foy senhor desta cidade, e passado a Castella o primeiro Conde de Benevente, filhos de Rodrigo Affonso Pimentel comendador mayor da Ordem de Santiago, e de D. Lourença da Fonseca, e netos de João Affonso Pimentel e de D. Constança Rodrigues de Moraes, filha de Ruy Martinz, ou Pirez de Moraes, desta cidade, de quem fala o Conde D. Pedro, tit. 48, § 1.º, e Haro, Nobiliário genealógico, tomo I. L. 3. cap. 4, e da ascendencia dos Pimenteis por todo o tit. 35 trata o Conde D. Pedro... Diz Haro supra, fol. 135 verso, que o tumulo de Martim Affonso Pimentel está junto ao altar do Sancto Christo, e assim era quando escreveu; agora fica junto ao de S. Braz porque o Sancto Christo se trasladou para a capella-mór».

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(550) Santuário Mariano, tomo V, livro III, p. 645.
(551) Sobre a genealogia desta nobre família publicou o erudito Francisco de Moura Coutinho um bem documentado estudo em A Pátria Nova, semanário de Bragança, desde 6 de Maio a 10 de Junho de 1908.
(552) BORGES – Descrição Topográfica….
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É curiosa, por mostrar o modo de celebrar as festividades nessa época, a seguinte notícia que copiámos da acta da mesa do Senhor Jesus de S. Vicente, de 2 de Março de 1649. Segundo ela, para a festividade da Santa Cruz (3 de Maio) «o Juiz da confraria daria a cera e seda aos mordomos e mais officiaes, para que todos juntos armem a Igreja o melhor que possa ser – mais daria tres touros para se correrem na vespera da festa, com seus palanques feitos – outro mordomo na vespera da festa, nessa noite, fogo bastante para lançar da torre com suas luminarias – outro, uma comedia, com todos os seus apparatos, – outro, uma dança na vespera da festa, até ao fim da procissão – outro, o escrivão, que dava as cruzes e pendões que pudesse trazer para a procissão».

MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA

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