A exposição com 100 desenhos e 2 pinturas de Silva Porto é um dos motivos de interesse deste museu em Bragança.
“Silva Porto_100 desenhos e 2 pinturas”, no Museu Abade de Baçal - D.R. |
O Ministério da Cultura, liderado por Pedro Adão e Silva, anunciou, por estes dias, a criação de um organismo para gerir Museus e Monumentos Nacionais, com o objetivo de tornar mais ágil e operacional o funcionamento quotidiano dos equipamentos, tutelados pela administração central.
A mudança é urgente e necessária, por isso elogiada à partida, considerando que todos conhecemos a burocracia e a falta de autonomia administrativa que dificulta o cumprimento da missão destes patrimónios que prestam serviço público e para todos os públicos.
Dos equipamentos, anteriormente dependentes da Direção Geral do Património Cultural (DGPC), decidiu-se excluir, passando estes, previsivelmente, para tutela municipal, no âmbito da delegação de competências em curso em várias áreas, o Museu D. Diogo de Sousa e Museu dos Biscainhos (Braga), o Museu das Terras de Miranda e a Sé de Miranda (Miranda do Douro), o Museu do Abade Baçal e a Domus Municipalis (Bragança).
Curiosamente, trata-se de equipamentos de municípios liderados por executivos PSD ou coligação PSD+CDS. Os ministérios da Cultura e da Coesão Territorial alegam que as coleções e o âmbito destes museus e monumentos são regionais ou locais, não se enquadrando no conceito criado para o racional da nova empresa.
Em minha opinião, tal assunção não corresponde à verdade, revelando desconhecimento do teor e riqueza destas coleções e da História dos monumentos, considerando ainda que havia outros a integrar a nova estrutura de gestão como, por exemplo, o Museu de Aveiro / Santa Joana.
Outro aspeto que merece reflexão é o facto de a região do interior transmontando ficar excluída do raio de ação cultural da tutela central, o que é sintomático de um pensamento centralista e de uma ausência de visão integrada do território que é Portugal.
Debrucemo-nos sobre o Museu do Abade Baçal, fundado em 1915, tendo tido como diretor, entre 1925 e 1935, o bragantino Abade de Baçal (1865-1947), reconhecido arqueólogo, historiador, etnógrafo e genealogista. Pela relevância do trabalho desenvolvido por este sacerdote, o museu ganha, em 1935, o seu nome, homenageando-o eternamente.
A diversidade das suas coleções inclui, por exemplo, a incorporação do legado de Guerra Junqueiro (1850-1923), também ele transmontano, natural de Freixo de Espada à Cinta, que inclui um vasto conjunto de mobiliário e pintura. Seguem-se os legados de Trindade Coelho (1861-1908) e de outros notáveis, devendo mencionar-se a coleção de numismática, constituída por duas mil moedas nacionais.
Focando-nos na pintura, merece referência o facto de se encontrarem representados todos os grandes artistas do Naturalismo português e, entre eles, Silva Porto (1850-1893), artista que ficou na História da Arte pelas suas cores vibrantes e generosas. E, sobretudo, por um percurso notável que incluiu uma vasta formação com passagens pela Escola Industrial, tendo depois ingressado na Academia Portuense de Belas Artes onde frequentou vários cursos e com classificações sempre de excelência: obteve 18 valores a Escultura e Pintura Histórica e 20 a Arquitetura.
Na exposição “Silva Porto_100 desenhos e 2 pinturas”, com curadoria do novo diretor deste museu, Jorge da Costa, apresenta-se, partindo da obra que integra a coleção do Abade de Baçal e de uma obra do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, em jeito de retrospetiva, desenhos que atestam a excelência e a qualidade de Silva Porto, artista que viajou e estudou em Paris, passou por Itália, deixando uma obra indelével no contexto da História da Arte nacional e internacional.
A amplitude das coleções, os factos que levaram à sua constituição e o trabalho sistematizado que tem sido feito para promoção das mesmas e sua valorização no contexto nacional e internacional, são sinais da sua relevância que em muito ultrapassa o local ou regional.
Interessa, a partir daqui perceber se há margem para uma reversão desta decisão e, sobretudo compreender que as autarquias nem sempre reúnem competências e orçamento para gerir equipamentos com esta relevância, devendo, primeiro, apresentar os seus planos municipais de cultura e reestruturar os seus quadros de recursos humanos, adequando-os, sob todos os níveis, aos desafios desta intenção de transferência de competências.
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