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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

A HISTÓRIA DA FERA


 Era uma vez um homem que ia por um caminho fora e encontrou um homem morto, naquele sítio, estava um galgo, um leão, um corvo e uma formiga para dividirem entre eles, em partes iguais, o homem morto. Ao verem chegar aquele homem diz o leão para o galgo:
- Olha, vem ali um homem, vamos chamá-lo para que nos parta este homem e ficarmos todos contentes.
O homem partiu o morto dividindo-o pela bicharada, dando a cabeça à formiga e dizendo:
- Pega, tens ai muito que comer e casa para viver!
Ao corvo deu-lhe as tripas, ao galgo deu-lhe os quartos e ao leão deu-lhe o lombo.
No final, ficaram todos contentes com a sua parte, ao que o homem resolve perguntar:
- Então ficaram todos contentes?
Respondendo o leão:
- Ficamos! Podemos ir embora?
O homem respondeu que sim e foi-se embora, quando já ia um bocado longe, diz o leão para o galgo:
- Então, o homem esteve aqui com tanto trabalho a dividir a carne por entre nós e não lhe pagamos nada?! Tu galgo vais dar uma corrida para o homem voltar cá.
O galgo foi chamar o homem que voltou para trás, dizendo-lhe o leão:
- Então, estiveste aqui com tanto trabalho e não te pagamos nada?
O homem responde:
- Vós não tendes nada que me pagar!
- Temos sim, tens aí uma caixinha?
O homem respondeu que sim, o leão puxou de um cabelo e deu-o ao homem dizendo-lhe que quando se sentisse aflito para puxar por ele dizendo: “valha-me aqui o rei dos leões”, transformando-se, assim, em leão.
O galgo fez o mesmo e disse ao homem:
- Pega lá este pêlo, quando vires alguma coisa que te agrade e que te fuja, puxas pelo pêlo e dizes: “valha-me o rei dos galgos”, transformando-te em galgo e apanhando tudo.
O corvo arrancou uma pena sua dando-a ao homem:
- Pega lá esta pena, quando quiseres agarrar alguma ave puxas pela pena e dizes: “valha-me o rei dos corvos e transformas-te no rei dos corvos, apanhando o que tu quiseres.
A formiga coitadinha teve de arrancar um corninho e dá-lo ao homem:
- Toma lá este corninho quando quiseres fugir de alguém, puxas por este corninho e dizes: “valha-me a rainha das formigas” e transformas-te em formiga, podendo esconderes-te num buraquinho.
O homem transformou-se em tudo o que lhe disseram e lá continuou todo contente, chegou a um alto onde andavam dois irmãos a baterem-se, ao ver aquilo disse:
- Andais aqui a bater-vos porquê?
- É por causa destas botas.
- Então por causa destas botas é preciso baterem-se?!
- Oh! Senhor, estas botas têm muito valor, são mágicas, levam-nos onde nós quisermos.
Então, o homem explica-lhes:
- Eu tenho aqui esta bola, quando a atiro pela ladeira abaixo, o primeiro que a apanhar fica com as botas.
Os irmãos concordaram com a proposta, enquanto foram os dois atrás da bola o homem calçou as botas e disse:
- Botas, quero ir para aquele sítio.
As botas obedeceram e lá o levaram, o homem ficou, assim, muito feliz pelos novos poderes. O homem foi à pesca e apareceu-lhe o rei dos peixes que o agarrou levando-o ao fundo do mar. Na casa do rei dos peixes o homem abriu a porta de um quarto e saiu de lá uma mulher, com a qual esteve a conversar muito, e nisto ela diz-lhe:
- Nós nunca vamos sair daqui, porque para sairmos temos que matar uma fera que há numa serra perto da cidade de Berlim, mas não há ninguém que a consiga matar, porque ela é muito grande e come tudo. Depois de a matar sai de dentro da fera uma lebre a fugir e é preciso correr muito para a apanhar, de dentro da lebre sai, também, uma pomba a voar precisando-se apanhar a pomba e tirar-lhe um ovo que lá tem, depois é preciso trazer o ovo para a matar o rei dos peixes e só depois é que podemos sair daqui. Diz o homem para a mulher:
- Pois custe o que custar tenho que arranjar esse ovo.
O homem pediu um mês de licença ao rei dos peixes para o deixar ir à cidade. O rei dos peixes deixou-o sair, mas disse-lhe que tinha só esses dias, tendo que estar lá nessa data para voltar para o fundo do mar.
O rapaz foi logo para a cidade de Berlim, ao chegar lá encontrou uma casa para servir que era de um príncipe, falou com este e ajustou-se para andar lá com o gado.
No entanto, o patrão disse-lhe para não ir para a serra com o gado, pois havia lá uma fera que o comia a ele e ao gado. Mas o rapaz não quis saber e foi logo direitinho a ter com o gado, entrou para a cerca enquanto o gado comia ele foi para a entrada do buraco a chamar pela fera:
- Ó fera anda cá para fora que eu quero lutar contigo. Valha-me aqui o rei dos leões.
Lutaram, lutaram, até que cada um caiu para o seu lado até que se cansaram e cada um caiu para o seu lado de cansaço.
A fera ia a entrar para o seu buraco dizendo para o leão:
- Se eu tivesse aqui um bocado de pão matava-te a ti e ao rei leão.
Respondendo o rei leão:
- Se eu tivesse aqui um beijo de uma donzela, um copo de aguardente e uma bola quente matava-te a ti serpente.
A filha do príncipe para o outro dia foi atrás dele a espreitá-lo para ver onde ele ia, quando viu entrar o gado ela foi logo para os portões e viu o rapaz a transformar-se num leão, estando a ver lutar os dois até ao fim, ouvindo depois dizer à fera:
- Se eu tivesse aqui um bocado de pão matava-te a ti e ao rei leão.
Respondendo de seguida o leão:
- Se eu tivesse aqui um beijo de uma donzela, um copo de aguardente e uma bola quente matava-te a ti serpente.
A rapariga ouviu isso tudo quando nisto viu o rapaz a transformar-se outra vez na pessoa, seguindo para casa.
Pela noite fora a rapariga levantou-se e foi cozer a bola, de manhã o rapaz tinha uma bola quente, um beijo de aguardente e o beijo dava-lho ela.
O rapaz voltou a levar o gado direitinho à cerca, a rapariga foi atrás dele com a aguardente, a bola e o beijo para lhe dar. Quando o leão estava a lutar com a fera a rapariga aproximou-se do rapaz quando os viu tombar cada um para seu lado dando o que trazia consigo ao leão, ao recuperar as forças o leão dirigiu-se logo à fera para a matar.
Depois ele e a rapariga abriram a fera saindo de lá uma lebre, ao ver isto o rapaz puxou do pêlo que o galgo lhe tinha dado e disse:
- Valha-me o rei dos galgos.
Ele transformou-se num galgo apanhando de seguida a lebre, de dentro desta saiu uma pomba a voar e ele puxou da pena do corvo e disse:
- Valha-me aqui o rei dos corvos.
E logo apanhou a pomba, mas de dentro dela ainda retirou um ovo, dirigindo-se depois os dois para casa contando o que se tinha passado ao príncipe, mas este não queria acreditar na história. O príncipe queria que o rapaz casasse com a sua filha, mas este negou visto ter de voltar para casa do rei dos peixes.
O rapaz, quando voltou para o fundo do mar, contou à rapariga tudo o que lhe tinha acontecido até então e os poderes que tinha arrecadado, foi aí que a rapariga teve
uma ideia:
- Então amanhã quando o rei dos peixes vier falar comigo ele fica de pé à minha frente, enquanto tu te transformas em formiga e sobes por mim até ao peito dando-me o ovo para a mão que eu dou-lho com ele na testa para o matar.
No outro dia o rei dos peixes foi a falar com a rapariga e esta deu-lhe com o ovo na testa como combinado, fazendo com que o rei dos peixes morresse.
O rapaz e a rapariga foram libertados, querendo esta agora casar com ele, mas o rapaz tinha outros planos, casando-se sim, mas com a filha do príncipe.

RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localização geográfica: PAÇO DAS MÓS – ORIGEM + 60 anos.
Título: CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005

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