Há falta de engenheiros civis em Portugal. Segundo contas da ordem, era necessário que, anualmente, se formassem cerca de 800, mas o número não passa dos 300.
Segundo Bento Aires, presidente do Conselho Diretivo da Ordem dos Engenheiros da Região Norte, no distrito de Bragança a situação é dramática. “Em cima do problema do país, agravamos o problema da coesão territorial e da equidade de oportunidades. O Interior tem de acordar, despertar para a coesão territorial e conseguir atrair profissionais. A região tem de se levantar, de conseguir atrair talento, atrair os nómadas digitais. As tecnologias de informação são agnósticas, não têm região, não tem país. Por isso, o Interior tem um longo caminho a percorrer para conseguir atrair também estes profissionais”.
Apesar de a Engenharia Civil ter uma taxa de empregabilidade perto dos 100%, a procura pela licenciatura não é a desejada. Ainda assim, Bento Aires diz que, nos últimos tempos, há mais alunos a procurar a área, sobretudo no Litoral do país. E admite que a profissão é cada vez mais valorizada. “A nível regional lançámos, no início deste, o Pacto para a Qualificação e Valorização do Trabalho dos Engenheiros, que já foi subscrito por cerca de 30 empresas, que representam cerca de 4 mil engenheiros, e aquilo que podemos dizer é que de janeiro a junho conseguimos garantir que o salário médio da engenharia, onde se inclui também a construção, pelo menos subiu 5%, ou seja, num semestre subiu mais do que a taxa de inflação para um ano”.
Na sexta-feira, além de Bento Aires, de visita à Delegação de Bragança da Ordem dos Engenheiros esteve o bastonário da ordem. Fernando de Almeida Santos esclareceu que, além de ser necessário captar jovens para os cursos, é preciso criar condições para que não emigrem. “Temos, por exemplo, pouca gente a ir para os cursos de engenharia tradicionais. Temos de fazer um esforço com as escolas para captar mais gente para essas áreas de atividade. Depois temos muitas universidades a patrocinarem a externalização dos recém-formados para empresas no estrangeiro. Acho que o Estado português, aqui, tem de dar um sinal claro que se investe em universidades públicas e em conhecimento de portugueses, os primeiros anos têm de ser cá. E aqui tem de haver uma política que não é da ordem, a ordem tem alertado, pode co-ajudar, mas não é suficiente. E depois há a outra questão, que é o retorno do talento. Só na Holanda, numa empresa de 14 mil, há mais de mil engenheiros portugueses”.
Neste momento, uma das apostas é atrair jovens estrangeiros. “Precisamos, nos próximos 10 anos, de cinco mil engenheiros civis em Portugal, que não os temos. E esse é o drama. E, portanto, nós temos que ir buscar fora e a maior parte das vezes. Para dar um exemplo, as empresas de serviços de engenharia, mais de 10% dos quadros superiores, neste momento, já são de gente que vem ao abrigo de protocolos de reciprocidade, promovidos pela ordem dos engenheiros”.
A engenharia civil é a que passa os piores dias mas, segundo a ordem, sobretudo em Bragança, é fundamental despertar para as engenharias mais tradicionais, a agronómica e florestal.
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