Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Naquele tempo, tinha muito medo do Deus do senhor padre.
Era um olho grande que, por entre as nuvens, tudo via… até o pecado de tirar uma pedra de açúcar do pacote que a mãe guardava secretamente no armário para os dias nomeados…. E o inferno tão perto, no fundo do nosso poço de corda.
Depois fui à catequese, e o medo maior foi Lutero, que no catecismo ardia medonho nas profundezas dos abismos, na companhia dos demónios.
Mais tarde, perdi os medos… e Deus é somente pura bondade, liberto dos textos escritos por homens que são fruto dum tempo, duma cultura e duma circunstância.
E Lutero é somente um homem… filósofo… que ousou pensar.
… Ah, as indulgências…
E o dominicano Johann Tetzel, na Alemanha, não se calava:
“Assim que a moeda no cofre tilinta, a alma do purgatório salta.”
E Lutero argumentou… e noventa e cinco teses abriram fendas no silêncio. contra a venda piedosa das indulgências.
Mas, a bula Decet Romanum Pontificem caiu sobre Martinho Lutero e o Papa lançou-o fora da comunhão dos santos.
No entanto… felizmente… a salvação não é moeda, nem decreto, é gesto, é entrega…
Não apenas Fé… mas Obras… mãos que se estendem:
“Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber...”
Assim fala, manso, o Nazareno humilde.
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.


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