quarta-feira, 4 de abril de 2012

“Os hospitais não podem fazer todos o mesmo”


Poucos meses depois da tomada de posse, António Marçoa, garante que a criação da Unidade Local de Saúde do Nordeste representa uma oportunidade para “combater o paradigma do ‘hospitalocentrismo”.
Jornal Nordeste (JN) – Com a criação da Unidade Local de Saúde do Nordeste, os cuidados hospitalares vão estar mais próximos dos doentes?
AM – Quem vai estar próximo dos utentes é quem já está, que são os cuidados de saúde primários, que têm aqui uma hipótese de combater o paradigma do “hospitalocentrismo”. Um bom sistema de saúde não é aquele que faz o tratamento curativo, mas aquela que se preocupa com a prevenção e o que faz a promoção da saúde. Estrategicamente, é mais importante apostar nos cuidados de saúde de proximidade, porque a maior parte da população necessita é de apoio nos cuidados de saúde primários e só uma pequena parte é que, depois, se desloca aos cuidados hospitalares.
Na nossa região, pelas suas características e dimensão geográfica, os cuidados primários estão nos centros de saúde e não nos hospitais, que muitas vezes até estão muito distantes das populações.
JN – Então as populações podem contar com mais e melhores cuidados nos centros de saúde...
AM – Podem, porque a interligação entre os cuidados primários e os cuidados hospitalares vai beneficiar os utentes. Isto fará com que, muitas vezes, os utentes nem sequer precisem de se deslocar ao hospital.
JN – Os utentes poderão, por exemplo, contar com os centros de saúde a funcionarem em horário mais alargado, ou adivinham-se mais cortes?
AM – Quando se fala em cortes, temos que ter em conta aquilo que é o respeito pelo contribuinte. Aquilo que nós dizemos não é efectuar cortes, mas tornar o serviço o mais eficiente possível. Depois de efectuarmos uma análise, se verificarmos que um serviço é demasiado oneroso para aquilo que está a fazer, eu vou tentar torná-lo mais eficiente. Se as pessoas entenderem isso como corte, também não é correcto. O que adianta ter determinado serviço disponível se depois ele não é utilizado, se está a gerar custos elevadíssimos? Se tivermos momentos sistematicamente mortos num SAP, provavelmente não vou deixar que se estenda para lá do necessário à custa do erário público e do contribuinte. Muitas vezes isto não é entendido pelas populações e é encarado como corte. 
Estamos a avaliar todas as necessidades para saber se a afluência justifica manter os horários de funcionamento tão prolongados, na certeza de que nunca haverá reduções para metade. Teremos que ver se há algumas franjas em que não seja preciso manter os mesmos recursos. 
“Estamos a avaliar todas as necessidades para saber se a afluência justifica manter os horários de funcionamento tão prolongados [nos Centros de Saúde]”
JN – Ao haver um ajustamento será sempre para menos e nunca para mais, não é?.
AM – À partida será para menos, mas se nós verificássemos que havia horários afluência extraordinários e tempos de espera exagerados, teremos que aumentar o horário. Infelizmente, ou felizmente, não se tem verificado isso.
JN – Presumo que esse método se aplique ao horário de funcionamento e aos números de profissionais afectos a cada serviço...
AM – Fizemos uma análise e verificámos que existe uma disparidade como do simples para o triplo na dotação de técnicos de centro de saúde para centro de saúde. Ora, isto não se compreende. Se há centros de saúde que conseguem funcionar bem com uma dotação relativamente mais baixa, porque não implementar esta estratégia noutras unidades? Não podemos cair na tentação de pensar que a ULS é uma agência empregadora ou serve outros fins que não aqueles que nós desejamos.
JN – O problema, então, é a má distribuição dos técnicos e não a quantidade de técnicos.
AM – De facto, verificámos que há centros de saúde com técnicos e assistentes operacionais a mais e unidades que estão no limite da carência. Um exemplo é o de Torre de Moncorvo, que necessita de um reforço de assistentes operacionais. Este trabalho que estamos a fazer nos centros de saúde, também já foi feito nos hospitais, onde concluímos que há serviços com carência e outros nem tanto. 
Já fizemos uma visita a mais de metade dos centros de saúde e concluímos que há sítios onde nos dizem que determinados técnicos são imprescindíveis e outros onde nos disseram que não precisavam desses técnicos. Isto é muito estranho. 
No meio disto tem que haver rigor técnico. Não vamos aceitar aquelas verdades, em que é necessário um terapeuta da fala, um dentista e um fisioterapeuta para cada centro de saúde, quando muitas vezes um terapeuta da fala consegue dar resposta a quatro concelhos. É esta avaliação que estamos a fazer. Tentaremos sempre ocupar correctamente o tempo dos técnicos de saúde, organizando-os de modo a servirem vários concelhos próximos.


in:jornalnordeste.com

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