segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Dizeres e Ditos na carta Gastronómica de Bragança

Justina Fernandes
Sr.ª Dona Justina Fernandes, 94 anos, vive em França.
Vivia-se como calhava. Agora as pessoas não têm falta de nada. Trabalha-se pouco. Comia-se pão centeio todos os dias, o pão trigo era para a festa. Cozi pão pela primeira vez aos 13 anos.
Peneirava desde os 11 anos, os farelos saltavam-me aos olhos, iam para os porcos.
Se uma pessoa estava doente matava-se um franguinho, fazia-se uma canja. Cozinhava para os engenheiros das Minas do Portelo. Assava cabritos, fritava polvo depois de o cozer, fazia bolinhos de bacalhau, pato assado no forno.
A Espanha ia buscar chinelos, um senhor espanhol trazia-lhe o pimento (colorau) porque era melhor que o nosso.
Criou perus nas bordas do rio, dava-lhe couves e urtigas cozidas com farelos. Fazia o fumeiro, conservava os salpicões e as chouriças em congalhos, na adega. Nos anos de muito gelo a carne ficava melhor.
Fritava as trutas na sertã em azeite, temperadas com um bocadinho de sal e louro (punha louro em tudo).
As pessoas ricas comiam mais, mas o modo de fazer o comer era igual aos dos pobres.
Nos casamentos matava-se uma vitela, fazia-se grande variedade de comeres sempre de carnes.


Julieta Barros
Sr.ª Dona Julieta Barros, 77 anos, vive em Bragança. A manteiga vinha de Travanca em bicas.
Comia mais trigo que centeio. Coziam no forno duas arrobas pão, de cada vez. A doceira tinha a alcunha de Rata. Guardava-se a comida na mosqueira.
Aprendeu e gosta de confeccionar compotas, marmeladas, geleias e bolos. As compotas são base de refrescos. Também cozinhava empadas de sardinha. A marmelada fazia-se num tacho de cobre.
Na sua casa comiam arroz de bacalhau, congro temperado com alho e azeite, açorda de bacalhau, carapaus, capatão, pescada pequena, polvo curado, sável de escabeche, enguias e trutas da mesma forma. As rabas têm de ser boas, descascam-se, cortam-se às fatias e acompanham bacalhau. As azedas, beldroegas e merugens são boas para saladas, as beringelas coziam-se levemente, depois faziam-se filetes. Comia-se caldo verde durante todo o ano. Repolgas estufadas sozinhas, ou acompanhadas com batatas cozidas.
Foi funcionária dos Correios.

Carta Gastronómica de Bragança
Autor: Armando Fernandes
Foto: É parte integrante da publicação
Publicação da Câmara Municipal de Bragança

Sem comentários:

Enviar um comentário