José Joaquim Barrigão |
Na aldeia, Milhão, um ano houve uma seca tão grande que não permitiu colher nada. Morriam os animais, os porcos, tudo. Ele tinha dez anos.
Comiam favas com azeite, o chouriço estava alto! Cozinhavam grão-de-bico (gravanços), lentilhas e batatas. Para ter arroz necessitavam de senha para o levantar (época de racionamento). E arroz não mata a fome. O butelo comia-se no Entrudo, se havia. Enquanto não veio o adubo o pão era uma espigueta pequena. Na Páscoa matava-se um cordeiro, comia-se folar. Se por acaso morresse um cordeiro também ia… Caça se pudesse caçava, o problema era a guarda. Ia dar uma volta, apanhava uns pássaros, um coelho, laçava uma lebre. Já estava!
No seu casamento matou uma vitela, um cordeiro, batatas e pão foram a companhia.
Nessa altura já casa estava farta.
A matança era a grande festa, juntava-se a família e os amigos para ajudarem. Bebia-se muito vinho maduro, até cair. Nas festas comia-se borrego e vitela. Jogava-se o fito, os paus, a barra e o ferro.
Nas ceifas trabalhava-se alegremente, cantava-se muito. Comia-se pouco, mas muitas vezes ao dia. Nas malhas era igual, as malhadeiras aparecerem em 1945, ou 46.
Depois da apanha das castanhas e das azeitonas, o Inverno era o melhor tempo para descansar. Do cerejo ao castanho, bem eu me amanho, o pior é do castanho ao cerejo.
Alimentavam-se os porcos dando-lhe abóboras, castanhas, rabões folhas de negrilho com água e farelos. Comiam melhor do que eu, agora!
Apanhava peixes com uma marreta. Batia com a marreta numa pedra e os peixes ficavam de papo para o ar. A Espanha ia buscar carne (mais barata), chocolate, colorau e vinho.
Morriam muitas crianças, só havia anjos, os padres andavam sempre a enterrar.
José Acácio Gama Vara |
Os avós viviam a dois quilómetros de Gimonde. Tinham muita fruta: malápios, cerejas brancas embroesas, melancias, melões e morangos. Ao fim de semana vinha a vender a fruta a Gimonde, num cesto de vime. Gosta de cozinhar, mas é melhor a confeccionar comida (cozido à portuguesa, feijoada e rancho) para muita gente, do que para pouca.
Carta Gastronómica de Bragança
Autor: Armando Fernandes
Foto: É parte integrante da publicação
Publicação da Câmara Municipal de Bragança
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