sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Rifões Populares

Os rifões populares são a expressão da sabedoria do povo, da sua experiência pessoal e colectiva, do seu sentir e das suas emoções, havendo-os de todo o tipo e referentes a várias situações. Muitos deles são ditos de geração em geração e são conhecidos de todos os portugueses. Outros há que são criados e conhecidos apenas em determinadas regiões.
José Ricardo Marques da Costa, em 'O Livro dos Provérbios Portugueses', da Editorial Presença, faz uma abordagem absolutamente notável a este assunto, reflectindo um pouco o que acontece com cada um de nós, coleccionadores de ditames.
Para cada ocasião tenha um provérbio sempre à mão. A frase é uma pescadinha de rabo na boca: vem num livro de provérbios. Um dos quais é: para cada ocasião tenha um provérbio sempre...
Como é útil conhecer os dizeres populares, publicou-se em 1999 O Livro dos Provérbios Portugueses, de José Ricardo Marques da Costa (Editorial Presença). Isto é, a necessidade aguça o engenho. O livro esgotou-se. Isto é, a boa fazenda nunca fica por vender. Logo, J. R. Marques da Costa se pôs a fazer a 2ª edição, melhorada.
Isto é, o apetite aumenta conforme se vai comendo. E é assim que, como diz o autor no prefácio, ele chegou às 33 892 entradas, muito mais do que se pensava serem os ditados portugueses. Isto é, a quem bem trabalha, Deus ajuda, facto que é revisto e aumentado numa nota no fim do prefácio, onde se diz que os ditados chegaram a 34 000. Isto é, quem por fia mata caça.
A obra saiu bem, apesar das dificuldades - a pesquisa era árdua, pois a maioria dos clássicos do saber popular (Aquilino, Torga...) e dos escritores urbanos (Cardoso Pires, José Rodrigues Miguéis...) já tinha sido bem investigada. Isto é, para bom obreiro não há má ferramenta. O Livro dos Provérbios Portugueses é um conseguido volume, de quase mil páginas. Isto é, gordura é formosura. 
J. R. Marques da Costa entendeu juntar adágios, anexins, ditados, máximas, sentenças e rifões, enfim, todos os ditos concisos que generalizam verdades, sejam elas princípios morais (aforismos), sejam frases populares (provérbios), juntou tudo. Isto é, quem tem força é que levanta peso.
O livro é apresentado em duas partes: uma, com recolha alfabética; outra, organizada por temas. Isto é, com jeito e com arte irás a toda a parte. A primeira começa no A. Isto é, a 1000 anos viverás, a 2000 não chegarás. E acaba no Z.
Isto é, zurra o burro, deitam-lhe o cabresto. A segunda parte começa no tema abades. Isto é, ao médico, ao letrado e ao abade, falar verdade. E vai até ao tema zurrar. Isto é, quando o burro zurrar, mete-lhe logo o cabresto ou cabeçada. Se ficássemos só por essa amostra, poderia dizer-se que é um livro de tolices. Isto é, ditos ocos, ouvidos moucos. Mas, na verdade, a maioria das outras máximas são sábias. Isto é, não há rifão velho se é dito a propósito.
O Livro dos Provérbios Portugueses tem ainda um pequeno suplemento com aqueles provérbios que não jogam em equipa. Isto é, cada qual é que sabe onde lhe aperta a bota. Compreende-se como seria difícil arranjar um par para não há fum-fum nem funeta. Ou nunca vi milheiro verde em buraco de parede.
Uma das vantagens deste tipo de livros sábios é recordarem-nos termos antigos, por isso há um glossário no fim, isto é, algo que me diz que astroso é um desgraçado e mangoneiro é um preguiçoso. Tudo isto vale ao autor e ao editor, e por exemplar, 47,50 €. Isto é, mais vale cavar com a língua do que com a enxada.
Ditame, do Lat. dictamen, s. m., máxima de moral, de prudência; aquilo que a consciência e a razão ditam; ordem; aviso; regra; doutrina.
Provérbio, do Lat. proverbiu, s. m., máxima expressa em poucas palavras, tendo-se popularizado; sentença moral; adágio; rifão; ditado, anexim; pequena comédia em que se desenvolve um rifão ou sentença moral.
Anexim, do Ár. annexid, coplas recitadas; s. m., dito sentencioso; rifão; adágio.
Rifão, dissimilação de refrão; s. m., provérbio; adágio; anexim.
Refrão, do Prov. refranh; s. m., estribilho; adágio; anexim.
Aforismo, do Lat. aphorismu < Gr. aphorismós, delimitação, s. m., proposição; máxima; rifão; sentença que em poucas palavras encerra um princípio moral.
Axioma, do Lat. axioma + Gr. axíoma, opinião, dogma, s. m., proposição evidente; proposição que não carece de demonstração; máxima; sentença.

Outras obras descobertas em pesquisa na Internet:

•O grande Livro dos Provérbios, José Pedro Machado, Círculo de Leitores, Lisboa, 1997
•A Sabedoria dos Provérbios, de António Estanqueiro, da Editorial Presença
«A Sabedoria dos Provérbios» consiste numa selecção de cerca de 2500 provérbios portugueses que se referem essencialmente à vida das pessoas e das instituições. Este livro não analisa a origem nem discute a mensagem dos velhos provérbios portugueses. Pretende, apenas, contribuir para a divulgação de uma parcela popular que merece ser conhecida e saboreada por todos.

•O Livro dos Provérbios, de Salvador Parente, Círculo de Leitores, 2005 (contém 41.697 provérbios)
•Rifoneiro Português, de Pedro Chaves
•Provérbios e Ditos Populares, de José Alves Reis, 1996
•Provérbios Portugueses, António Moreira, 1996
•Dicionário das Origens das Frases Feitas, Orlando Neves, 1992
•Dicionário de Máximas, Adágios e Provérbios, Jayme Rebelo Hespanha, 1936
•O essencial sobre os provérbios medievais portugueses, de José Mattoso
•O livro dos provérbios, de António Mota, Vila nova de Gaia,2000, Gailivro
No site http://www.citador.pt/ há (em 9 de Março de 2007) Acesso Directo a 14.400 citações, 1.950 reflexões e pensamentos, 5.000 provérbios, 225 adivinhas, 1.493 actualidades e 452 opiniões de leitura.
Segundo Salvador Parente, o registo de nascimento de cada provérbio é muito difícil de se encontrar, embora cada um deles resuma frequentemente a filosofia duma época e defina a idiossincrasia de uma bem determinada gente.
A Obra do Abade de Baçal «Memórias Arqueológico- Históricas do Distrito de Bragança» dedica várias páginas ao tema dos rifões populares e locuções adverbiais.
Diz ele que os provérbios, também conhecidos de rifões, anexins, adágios, sentenças, exemplos, ditados, máximas, parémias, apotegmas e aforismos, encerram a filosofia de um povo sintetizada em breves conceitos por forma elegente, irónica, metafórica, alegórica, rimada, faceta e jogralesca, que muito elucidam a etnografia das nossas gentes, caracterizando o grau da sua mentalidade. É enorme a sua importância e deles se serviram os filósofos antigos de todos os povos, os poetas, os legisladores e os sacerdotes para divulgar as suas doutrinas. Sócrates e Platão testificam a sua utilidade e Viço chama-lhe a linguagem dos deuses.
Refere as obras portuguesas que na altura se haviam publicado sobre provérbios:

•Filosofia Moral tirada de alguns provérbios, de Padre Frei Aleixo de Santo António, 1640;
•Adágios Populares, de Padre António Delicato, 1651 (é a colecção mais antiga da nossa língua);
•Feira de anexins, de D. Francisco Manuel de Melo, 1875;
•Florilégio dos modos de falar e adágios da língua portuguesa, de Padre Bento Pereira, 1655;
•Vocabulário Português e Latino, de Padre D. Rafael Bluteau, 1712 a 1728;
•Apotegmas, de Pedro José Súpico, 1720;
•Nova Floresta, de Padre Manuel Bernardes, 1706 a 1728;
•Ensaio Fraseológico...sentenças, provérbios e máximas da língua portuguesa, de Francisco António da Cunha de Pina Manique, 1856;
•Ensaios Etnográficos, de José Leite de Vasconcelos, tomo II, pág. 227 e ss. e tomo III, págs. 51, 307 e 335.
No tomo V apresentou alguns provérbios relacionados com judeus. Alguns correm em língua galega, fenómeno que se dá também no nosso cancioneiro, em razão da comunidade de origem e língua. Muitos provérbios parecem contraditórios, olhando apenas à letra, mas não o são tanto. Grande parte deles têm similares, quanto ao pensamento, noutros do latim e da Bíblia; todavia, o saiete vem-lhe do modo como o povo os concebe e expressa.
Daremos apenas conta de alguns dos rifões publicados pelo Abade de Baçal para não dispensar a sua consulta, elegendo os que nos pareçam mais engraçados e diferentes:

☺ A cabra e a azenha são de quem a ordenha
☺ A galinha onde tem os ovos ali tem os olhos
☺ A ovelha que mais corre não é a que mais come
☺ A primeira hóstia sabe sempre ao ferro
☺ A quem coze e amassa não furtes a lenha nem a fogaça
☺ À sombra dos ciganos comem os aldeanos
☺ Ao cura e ao juiz o diabo lho diz
☺ Asno morto cevada ao rabo
☺ Barba ruiva uma diz e outra cuida
☺ Boi morto, vaca é
☺ Cada moucho a seu soucho
☺ Cada um enterra o seu pai como pode
☺ Cem esmolas não valem um jantar
☺ Contas na mão e o diabo no coração
☺ Dá Deus o frio conforme a roupa
☺ De Pedro a João poucas diferenças vão
☺ Digo-te a ti sogra para que entendas tu nora
☺ Duro com duro não faz bom muro
☺ É fino, mas não caça ratos
☺ Em tempos de guerra, mentiras por mar e por terra
☺ Fidalgos, galgos e calvos, vê-los e arrenegá-los
☺ Filho da cidade, filho da iniquidade
☺ Gente de vila mais panelas que comida
☺ Honra e proveito não cabem num saco
☺ Ir buscar lã e voltar tosquiado
☺ Lume ao pé das estopas, vem o diabo e assopra-as
☺ Mal de muitos consolo é
☺ Moleiro que muito maquia perde a freguesia
☺ Nunca o invejoso medrou nem quem ao pé dele morou
☺ O hóspede e o carneiro aos três dias tomou cheiro
☺ O pai impertinente torna o filho desobediente
☺ O valente morre na mão do fraco
☺ Para cura novo sacristão velho
☺ Pelas obras e não pelo vestido é o homem conhecido
☺ Porta aberta o justo peca
☺ Quem adiante não olha, atrás fica
☺ Quem diz o que quer, ouve o que não quer
☺ Quem escuta de si ouve
☺ Quem nos dá um osso não nos quer ver morto
☺ Vale mais a pior avença do que a melhor sentença

Além desses, o Abade de Baçal apresenta provérbios interessantes sobre a agricultura e economia doméstica, a alimentação, o casamento, os filhos, o homem e a mulher, a medicina, a mesa, metereológicos e sobre os meses do ano, tais como:
☺ Ainda que arreganhes os dentes não comes a semente
☺ Casa que não é bem ralhada não é bem governada
☺ No tempo das uvas cada um às suas
☺ Para ser bom ano de pão hão-de vir sete neves e um nevão
☺ Quem ara e fia ouro cria
☺ Vale mais pão duro que vinho maduro
☺ O casamento e a mortalha no céu se talha
☺ Quem tem filhas e ovelhas não pode falar das alheias
☺ Carros velhos e mulheres novas dão cabo dos homens
☺ Quem com água se cura pouco dura
☺ Geada na lama, água na cama
☺ Janeiro, meia tulha e meio palheiro
☺ Fevereiro quente traz o demo no ventre
☺ Março trovejado, ano melhorado
☺  Abril frio e molhado, enche o celeiro e farta o gado
☺ Uma água de Maio e três de Abril valem por mil
☺ Junho foice em punho
☺ Em Julho faz a cigarra barulho
☺ Quem em Agosto ara riqueza prepara
☺ Em Setembro ardem os montes e secam as fontes
☺ Quando o Outubro for erveiro, guarda para Março palheiro
☺ Pelos Santos pingam os trampos
☺ Natal ao soalhar e Páscoa ao luar

Fonte: Sítio da Câmara Municipal de Mirandela

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