Há céus e espaços novos!
Enterre-se o passado com piedade...
Mas o olhar ...no futuro!”
In FLEBUNT EUNTES , Antero de Quental
---------------------------------------------------------------------------------------------------
Um destes dias apanhei um valente susto quando ouvi um primeiro-ministro de um país (que não é , de facto, o país mais evoluído de África) anunciar que os naturais desse país são “pouco profissionais”. Ufa, ainda bem que esse país não está no espaço EURO, nem tão pouco organiza campeonatos de futebol com o mesmo nome...
Em Trás-os Montes, dificilmente ouvimos alguém queixar-se das filas de trânsito, ou dos carteiristas; são problemas da “civilização” que , felizmente, ainda estão muito reduzidos nesta região.
De igual forma, facilmente ouvimos alguém dizer que “temos uma região de belas paisagens”, “boa comida” e “melhor bebida”.
Mas, como diria alguém que me é muito próximo, falando da sua Região “Nos Açores, paisagens para encantar a vista sempre as tivemos, mas só isso não alimenta.”. E esta é a pedra angular.
No caso dos Açores, o que “alimenta” aquela Região é de facto a Autonomia. Em Portugal, por causa de mapas de conveniência, acabou por sair derrotado um ideal, que tem de estar cada vez mais vivo. E com cada vez maior vigor, agora que o Municipalismo se tornou uma batalha perdida, por falta de meios e por fracas vontades.
Cada dia que passa , sobem de tom as frases de desânimo que ouvimos na Região, e salvo pequenos oásis em franco desenvolvimento, como Macedo de Cavaleiros (talvez o mais paradigmático), Bragança ou Vila Real, o que vemos são cidades, vilas e aldeias moribundas e anémicas, mercê de uma sangria crónica , cujo tratamento alguns insistem em adiar.
No mundo da “aldeia global”, o transmontano tem critérios de conforto semelhantes aos de um lisboeta, ou aos de um portuense, nos quais as condições naturais da Região pouco interferem.
Não pode ser exigido ao transmontano, que não exerça os seus direitos Constitucionais, que lhe conferem a igualdade aos outros cidadãos deste país. Sem sarcásticas alusões a Orwell.
Da boca dos membros da nobre espécie do Homem Transmontano ( à qual pertencemos com orgulho) há frases que eu gostaria de ouvir . Algumas, não seriam novidade; outras, não o são em muitas outras partes do país. Deixo alguns exemplos, certo de que muitos outros ficarão esquecidos.
1. “Eu tenho 7 anos e na minha aldeia há muitos meninos com quem eu brinco”.
2. “... e ando na Escola da minha aldeia.”
3. “..Ah, e nos tempos livres navego na Internet.”
4. Tirei um curso Superior e arranjei emprego na minha terra.
5. (Em Chaves) Tenho que ir a Braga, à Universidade; se for pela A7 estou lá em menos de uma hora.
6. Na IP4, desde que colocaram os separadores centrais e passamos a ter duas faixas de cada lado, os acidentes diminuíram imenso.
7. No Centro Cultural Barrosão está a decorrer o ciclo de cinema de Visconti.
8. Este fim de semana , na I Liga temos os derbys Benfica-Sporting e Chaves-Bragança.
9. A maioria dos meus familiares que estava na França e na Alemanha já voltaram a Portugal.
10. Não há rios poluídos nesta Região, porque agora aposta-se no Turismo a sério!
11. A Linha do Tâmega foi reforçada com novas carruagens de comboio.
12. (Num Hospital) Quero uma consulta para o médico dos olhos; quando tenho? No mês que vem ?!!”
13. A minha pensão é maior que o ordenado mínimo.
14. ...e o Estado aumentou a comparticipação nos meus remédios
15. Trás-os-Montes está cheio de vida!
P.S.: Claro está que continuamos a dispensar a Lili Caneças e outros que tais que abundam nas grandes cidades. Assim como os transportes públicos superlotados, a caminho dos subúrbios onde tantos transmontanos vivem. Numa (ir)realidade que dá para outra(s) crónicas.
Sem comentários:
Enviar um comentário