Em Portugal, 33% do olival já é intensivo ou super-intensivo. Os ambientalistas alertam para as consequências: erosão do solo e poluição da água.
Cerca de um terço (33%) do olival português já é cultivado em regime intensivo e super-intensivo – avançou ao SOL fonte oficial do Ministério da Agricultura.
A maior parte, esclarece o gabinete da ministra Assunção Cristas, «são olivais novos», que ocupam já uma área de 21 mil hectares, quase todos no perímetro de rega do Alqueva. Mas também há reconversões de oliveiras tradicionais e centenárias para os dois novos modos de produção intensiva. Aliás, das 91.598 toneladas de azeite anuais que o Governo estima que se produzam em 2020, mais de metade (58.544 toneladas) será proveniente de olivais em sistema intensivo, no Alentejo.Cerca de um terço (33%) do olival português já é cultivado em regime intensivo e super-intensivo – avançou ao SOL fonte oficial do Ministério da Agricultura.
A «invasão» das pequenas oliveiras – que atingem entre 50 cm a um metro de altura, e têm uma concentração de mais de 1. 500 árvores por hectare – está, porém, a alarmar os produtores de olival tradicional, com origem milenar em Portugal, e os ambientalistas.
Em Trás-os-Montes, por exemplo, os olivicultores garantem não ter hipótese de competir com o sistema super-intensivo do Alentejo – região que já detém o maior olival do país, com 49% do total, segundo dados do Ministério da Agricultura.
«Infelizmente, em Trás-os-Montes não há nem sistemas de rega nem escala», explica Francisco Pavão, da Associação de Olivicultores de Trás-os-Montes e Alto Douro, onde se concentra 22% do olival português. Os números não deixam dúvidas: «Temos 37 mil olivicultores para 84 mil hectares de olival. Dá pouco mais de dois hectares por produtor».
Para fazer face à concorrência alentejana, em Trás-os-Montes a aposta tem sido diferenciar o produto. «Produzimos azeite tradicional, biológico, com Denominação de Origem Protegida, e apenas com as três castas nacionais. As castas exóticas [típicas dos sistemas intensivo e super-intensivo] não se adaptam aos clima de sequeiro» – explica Francisco Pavão.
A necessidade de regadio em grandes quantidades é, aliás, uma das principais questões a acirrar ânimos entre ambientalistas e produtores de olival intensivo e super-intensivo.
10 anos de vida em vez de centenas
Eugénio Sequeira, da Liga de Protecção da Natureza (LPN), avisa que «a necessidade constante de água deste tipo de produções tem custos demasiado elevados» para o planeta. «Como em qualquer produção intensiva, o controlo de pragas é mais difícil. Utilizam-se mais fertilizantes, mais herbicidas, que vão deteriorar a qualidade das águas subterrâneas por longos anos e deteriorar os solos. É criminoso» – explica.
Domingos Patacho, da Quercus, lembra também que o olival intensivo «está a arrasar plantas raras por causa dos herbicidas». «E em poucos anos desaparecem solos que levam milhares de anos a formar-se» – conclui, referindo-se ao facto de estas oliveiras terem uma duração média de vida de dez anos.
Os produtores respondem com dados. Depois de em 2007, terem chegado ao país várias empresas espanholas para explorar estes sistemas, começou o boom destes olivais com castas exóticas, que está a mudar a paisagem alentejana. A qualidade do azeite, garantem os produtores, não está em causa. Mas aumentou a quantidade.
Só o grupo Sovena, um dos principais produtores do país (que comercializa o Oliveira da Serra) detém entre Elvas, Avis e Ferreira do Alentejo nove mil hectares em sistema super-intensivo, e outros mil em intensivo: «O olival de regadio aproveita a água mas de forma muito controlada», garante Luís Folque, administrador do grupo. E acrescenta: «De todas os cultivos de regadio, é o que consome menos água e menos fertilizantes». Com o investimento de 200 milhões de euros, o gestor estima atingir, em 2016, as 18 mil toneladas de azeite.
Segundo dados do Governo, desde 2007 foram submetidos ao PRODER 325 projectos para implementar olival intensivo, representando 214 milhões de euros de investimentos – da UE chegaram 79 milhões de euros em ajudas aos agricultores portugueses.
Mas, lembra Eugénio Sequeira da LPN, está a repetir-se o que «aconteceu com as culturas cerealíferas no Alentejo» e com as produções intensivas em Espanha: «Este tipo de culturas dá muito dinheiro a curto prazo, mas depois vai degradar tudo». «Foi o que Espanha fez em muito pouco tempo. Preencheu as suas quotas de produção intensiva e ficou sem terrenos agrícolas de qualidade», salienta.
Sónia Balasteiro in SOL, 2012-11-01
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