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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Bragança - Construindo “um mundo melhor”

Uma necessidade de ajudar portadores de deficiência profunda, um grupo de pais entusiasmados com a ideia de que seria possível dar aos seus filhos melhor qualidade de vida sem terem de sair da terra natal e um Bispo Diocesano que deu a ideia e acreditou que seria possível construir em Bragança um mundo um bocadinho melhor foram alguns dos acasos providenciais que levaram à criação da Associação de Pais e Amigos do Diminuído Intelectual (APADI) de Bragança.
No passado dia dez a Associação comemorou 30 anos numa festa que reuniu sócios e simpatizantes; festa na qual estiveram presentes D. António Montes Moreira Bispo Diocesano e D. António José Rafael, Bispo Emérito de Bragança-Miranda, ao qual a direcção da APADI agradeceu o empenho que colocou na criação da instituição. A D. António Rafael, a APADI ofereceu um quadro realizado pelos utentes, como forma de homenagem e agradecimento pelo contributo fundamental que deu à criação da Associação. Satisfeito, o Bispo Emérito recordou que este movimento que ajudou a criar contribui para que conhecesse melhor o trabalho de várias instituições semelhantes. E nesse âmbito, “é uma coisa que me impressionou sempre a maneira como se desenvolve solidariedade”, disse.
Movimento nasceu a partir de um grupo de pais
Tudo começou com um reduzido grupo de pais que necessitavam de apoio para darem aos seus filhos uma melhor qualidade de vida. No distrito de Bragança não havia uma única instituição que pudesse dar resposta a crianças portadoras de deficiência intelectual profunda. Havia o Centro de Educação Especial, para responder a situações de dificuldades de aprendizagem, mas não para casos profundos.
Celina Mesquita, uma das sócias fundadoras e obreira da APPADI, explicou ao Mensageiro que o facto de ter uma filha com deficiência profunda num colégio em Lisboa a levou a falar com D. António Rafael, na altura Bispo da diocese, para lhe pedir que lhe apresentasse o director de um centro para estas crianças em Fátima. Na altura, a esta mãe preocupada, Fátima parecia mais perto do que Lisboa. D. António, ainda assim, considerou que mais perto do que isso seria Bragança. “Ele disse-me :eu não lhe apresento ninguém porque a senhora tem capacidade para fundar uma instituição em Bragança”, explicou. Ainda um pouco reticente, Celina Mesquita falou com outros pais que tinham filhos em situações semelhantes.
A APPADI deu então os primeiros passos, através grupo de amigos que partilhavam problemas no Paço Episcopal, colocado à disposição por D. António Rafael. “De maneira que foi assim que surgiu e depois foi como uma bola de neve. Foi surgindo da boa vontade de toda a gente, dos amigos, dos pais, dos familiares”, acrescentou.
Passados 30 anos, esta sócia fundadora fica satisfeita por saber que foi construída uma obra que dá resposta a 77 utentes e respectivas famílias; fica satisfeita também pelos postos de trabalho criados e “pelo mundo em que se vive, que eu acho que é um mundo feliz para os nossos utentes”. Neste aniversário, Celina Mesquita fez votos para que a instituição continue a dar cada vez melhores respostas aos utentes, e “continue a lutar para que as pessoas olhem para os nossos utentes como cidadãos com todos os direitos. Eles não são uns maluquinhos como algumas pessoas teimam em chamar, são cidadãos que têm direitos, como quaisquer outros, têm as suas necessidades, precisam de carinho.
O que nós queremos é que continue assim e melhore, até quando pudermos. Agora também é altura de começarmos a dar lugar aos mais novos para continuar a obra, que esta obra é de todos”, sublinhou.
Aumento de capacidade
Inicialmente foi construído um edifício de raiz, destinado a albergar um lar que tinha capacidade para 37 crianças e jovens. A capacidade do lar esgotou em pouco tempo. A idade dos utentes foi aumentando e novos utentes foram dando entrada na instituição. Por esse motivo, foi necessário construir um segundo edifício, com uma nova ala de dois pisos. A ampliação compreendeu a instalação de novos serviços como a sala de snoozer, destinada a ajudar utentes com crises de agitação psicomotora, uma sala de fisioterapia e de actividades ocupacionais.
Para equipar a fisioterapia, António Gonçalves , presidente da instituição, recordou o apoio que tem sido prestado pelo Lions Clube de Bragança.
Entre os amigos da APPADI, além do Lions Clube, o responsável enunciou o contributo de artistas da região, sobretudo de Graça Morais, que “tem oferecido muitos quadros e tem participados nas nossas actividades com muita regularidade”, afirmou. Outra dos modificações dos últimos anos foi a instalação de uma sala multifunções e a construção de uma estufa, destinada à realização de actividades agrícolas e de jardinagem. A introdução de novos espaços permitiu aumentar a qualidade dos serviços e manter de forma permanente actividades recreativas e culturais, como o canto, teatro, ateliers de artes plásticas e costura, entre outras.
Os resultados desses actividades pode por vezes ser apreciados em participações que os utentes fazem em iniciativas promovidas por outras entidades, fora da instituição.
Actividades diversificadas
Os produtos dos ateliers de costura e artes plásticas podem ser adquiridos por quem pretenda deste modo dar um contributo a esta instituição de solidariedade social. Os trabalhos são desenvolvidos no CAO (Centro de Actividades Ocupacionais) e nos almoços anuais de aniversário é costume realizar-se uma exposição. Mas o CAO não se destina apenas a realizar trabalhos, nem a APADI é um lugar onde as pessoas são “deixadas”. “Esse centro de actividades ocupacionais destina-se a valorizar, potenciar as capacidades que as pessoas têm.
Uma pessoa que não conseguia comer, caminhar, se com algum apoio nosso conseguirmos que coma sozinha, se vista e execute algumas tarefas da sua vida diária é uma grande vitória, é como qualquer um de nós tirar um curso superior”, referiu António Gonçalves. Carla Gomes, psicóloga e directora técnica da APADI explicou-nos que é extremamente importante este trabalho para a valorização e reabilitação para integração dos utentes, mas também para a divulgação de todo o trabalho que se faz nestas instituições na área da deficiência. Se ao nível das deficiências profundas, que são aquelas com que liga habitualmente a instituição, é difícil a integração no mercado de trabalho, mas isso não significa que estas pessoas não possam realizar trabalho válido, desde que devidamente acompanhadas.
Segundo indicou, o mais difícil do seu trabalho, como directora técnica, é ver alguns utentes perder capacidades que tinham e ver outros com vontade de fazer coisas que são incapazes. Por outro lado, “o mais motivador é ver o sorriso deles, ver que se contentam com muito pouco. Nós, muitas vezes, deparamo-nos com situações complicadas e não temos aquela força”, sublinhou.
A professora Telma é responsável pelas artes plásticas. Ensina a pintar, a reciclar papel e outros materiais, para fins artísticos. No atelier fazem-se velas, arranjos florais, pinta-se sobre tela, fazem-se ganchos, centros de mesa, e muitas outras coisas úteis e belas, feitas muitas vezes de coisas velhas, canas, ramos e folhas caídas que os utentes recolhem muitas vezes nos passeios promovidos pela instituição. “Há utentes que conseguem pintar, outros conseguem transformar a pasta, outros só conseguem fazer a pasta de papel. Depois uma pessoa tem que adequar o jeito de cada utente àquilo que pretendemos fazer. Uma peça pode ter o trabalho de dois, três, quatro utentes”, explicou. O fundamental, para eles é “ver uma peça acabada. É uma conquista, sobretudo quando fazemos exposições e as peças são vendidas. Ficam extremamente contentes, porque o trabalho deles deu algum lucro”.
A professora que trabalha com os tecidos e madeiras explicou também que, se nem todo o trabalho consegue ser feito por todos os utentes, também é certo que, entre os não utentes, os mestres de costura são uma minoria. Há, ainda assim, entre eles, quem cosa bainhas e passe a ferro na perfeição. Aqui é também muito explorado o trabalho da combinação de cores. Normalmente os matérias usados são oferecidos por fábricas de confecção.
Todos os casos têm que ter resposta
Com 77 utentes em Lar Residencial e 17 no CAO a APADI encontra-se com lotação esgotada. Por esse motivo, António Gonçalves vê com bons olhos o surgimento de outras iniciativas particulares de solidariedade social, na área da deficiência, que vão surgindo, não só no concelho de Bragança, como também Macedo de Cavaleiros e Mirandela. “Para nós essas iniciativas irão certamente constituir uma mais-valia, se as encararmos como iniciativas que se podem articular connosco, no funcionamento das várias instituições”, disse.
Por seu lado, a APADI deverá também alargar a resposta em regime de ambulatório. Mas esse é um projecto do futuro que António Gonçalves não quais adiantar, até porque vai haver eleições internas na Associação, no próximo mês de Novembro. Por vezes é difícil para esta instituição pioneira no distrito dar resposta a todas as situações para as quais é solicitada.
Os casos mais emergentes, a nível social, como as situações de abanano, maus tratos vários e dependência grave têm que ter sempre uma resposta, o que obriga a instituição a “alguma ginástica”. Esses casos são chagam à APADI através da Segurança Social, dos tribunais, mas também de particulares e outras entidades públicas e privadas.
Por: Ana Preto
16 outubro 2009
in:mdb.pt

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