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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O Natal em Trás-os-Montes

Celebrar o Natal em muitas localidades do Nordeste Transmontano é regressar às festas da Antiguidade Pagã. Uma vivência com elos de ligação que restam, ao cabo de dois milénios de cristianismo, ao ritual cíclico das festividades agrárias do solstício do Inverno (quando o sol toca o ponto mais a sul do Equador, altura em que a estação fria principia no hemisfério Norte). Perante estes dados faz todo o sentido o provérbio popular citado na região transmontana: “ande o frio por onde andar, no Natal há-de chegar”. Os elementos integrantes das Festas dos Rapazes, de Santo Estevão (26 de Dezembro), do Ano Novo ou dos Reis, realizadas no período compreendido entre o Natal e a Epifania, reportam-nos às antigas festas solsticiais. Festas pagãs que, com o tempo, foram «cristianizadas» e que sobreviveram em harmoniosa convivência com as celebrações cristãs da Natividade. 
Nos últimos dias do Advento, tempo litúrgico que precede o Natal, cantam-se, nalgumas Igrejas, as «Novenas do Menino». Uma tradição antiga que tem ainda alguns seguidores - caso de Esposende, freguesia do Mar. Bem junto à Igreja constrói-se um presépio onde a imagem do menino só era colocada na manhã do dia 25 de Dezembro. Durante o período antecedente, os cristãos entoavam versos alusivos ao messiânico nascimento do Menino Jesus. Mais longe do litoral, na região do Fundão, durante o Advento tinha lugar o tradicional «tim-teri-nó», um costume sonoro que consistia nos homens e rapazes da aldeia (Capinha) tocarem o sino da Igreja quase ininterruptamente até ao Natal. 
Festa do Velho em Mogadouro 
Na zona de Mogadouro realiza-se a festa do Velho, Caramono ou Chocalheiro. Uma actividade que tem o seu inicio no dia 24 de Dezembro, com as pessoas a concentrarem-se à meia noite junto da grande fogueira de Natal, que se acende no largo da aldeia. Antes de se acender o lume, dois rapazes («velho» e «mordomo») percorrem a aldeia para “pedir o cepo” para “a fogueira do menino”. Actualmente com os novos meios de transportes, este «peditório» realiza-se de tractor. Na aldeia de Vale de Porco, zona de Mogadouro, esta tradição ainda é vivida mas ao longo da noite sagrada e no dia seguinte “não há música de gaiteiros, nem cantigas, nem bailaricos, apenas a alegria do povo, espontânea, amiga e fraterna” – refere o livro Festas e Tradições Portuguesas. 
O «velho», uma figura ritual, medonha e assustadora, é desempenhado por um dos dois mordomos da festa que na manhã do dia 25 de Dezembro, juntamente com o outro mordomo, faz um peditório para o Deus Menino. No dia de Ano, 1 de Janeiro, os papéis invertem-se e o peditório destina-se a Nossa Senhora da Conceição. Tanto no Natal como no dia de Ano Novo, as ofertas são leiloadas no adro da Igreja. 
Os adereços desta figura emblemática raramente passam de ano para ano e o fato é feito à base de serapilheira, com carapuça, cinto de couro munido de chocalhos, para anunciar a sua presença aos habitantes da aldeia. Esta indumentária completa-se com uma «caramona» talhada em madeira, com dois chifres na testa e uma serpente esculpida que lhe sai da boca. Esta tradição realiza-se também noutras aldeias vizinhas da região com pequenas particularidades. 
Os “caretos”, “máscaras”, “carochos” ou “chocalheiros” (designações que variam de localidade para localidade) tornam-se seres superiores, mágicos ou proféticos, gozando de uma liberdade quase sem limites, com a faculdade de «castigar» ou criticar. Criticas públicas aos males sociais, expurgam a comunidade, purificam-na e preparam-na para o novo ano que se aproxima. Danças, gritos e chocalhadas e críticas sociais institucionalizadas são ritos que o mascarado executa no desempenho das suas funções. 
Festa de Santo Estevão ou dos Rapazes 
A festa do Santo Estêvão, também denominada festa dos Rapazes, insere-se no contexto das festas nordestinas realizadas no ciclo dos 12 dias, do Natal aos Reis. Neste período - que engloba o solstício do Inverno - são várias as aldeias que experimentam o tempo festivo destacando-se Grijó de Parada, Parada, Serapicos, Agrochão, Babe, Rio d’Onor e Ousilhão. 
A festa realiza-se todos os anos, nos dias 25 e 26 de Dezembro e nela toma parte toda a comunidade - homens, mulheres e crianças. A organização é promovida pelos rapazes ou moços da aldeia, de preferência solteiros. Insere-se no âmbito das festas do 1.º ciclo - as festas de Inverno - por estar relacionada com as épocas do ano, com as estações e com os fenómenos meteorológicos que lhe estão associados. 
A festa na localidade de Ousilhão é religiosa envolvendo cerimónias de carácter cristão - missa cantada e procissão em torno da capela em honra de Santo Estêvão - protomártir dos alvores do cristianismo, e cerimónias que, aparentemente, nada têm de cristão, nomeadamente a eleição de indivíduos que exercem temporariamente certos cargos dignitários - “rei”, “vassais”, e, por vezes, “bispo”. 
A atenção dispensada a este período tem levado ao estabelecimento de relações destas festas, como refere o Abade de Baçal, com «as festas saturnais celebradas pelos romanos durante 5 ou 7 dias, começadas a 17 de Dezembro, em honra de Saturno, com grandes brincadeiras e mostras de alegria». Diz ainda o mesmo autor que às saturnais se agregaram as das juvenais, uma festa que era celebrada pela gente moça no dia 24 de Dezembro com canto bródio e patuscada. Refere também que estas costumeiras atingiram o apogeu na Idade Média na Festa dos Loucos que era celebrada por clérigos de ordens menores, diáconos e sacerdotes durante 12 dias, desde o dia de Natal até ao dia de Reis. Também lhe chamavam Festas das Calendas, por serem celebradas principalmente no dia 1 de Janeiro, e ainda Festa dos Subdiáconos. 
Símbolos cristãos com carga profana 
Nestes rituais, a população da região transmontana também realiza festas onde o «pão» é colocado em destaque. Pão que aparece na sua forma mais artística, a rosca, em forma de estrela (evocando o sol, a estrela mais brilhante que se pretendia homenagear); rosca de pão pela qual correm os rapazes (os principais participantes na festa), pela qual dançam e lutam corpo a corpo. Rosca que é entregue, como prémio, ao vencedor; rosca de pão que se incorpora na liturgia da missa e da procissão, se leiloa no adro da igreja ou na praça pública, se parte, se reparte e se come preceitualmente por todos. Vestígios das festas do Inverno no Nordeste Transmontano. 
Outro elemento importante nas tradições natalícias são as festas da música tradicional que brota da gaita de foles ou da flauta pastoril, ritmada pelo tamboril e pelo bombo. Nos momentos solenes da festa, sagrados ou profanos, nos rituais da liturgia cristã ou na dança dos pauliteiros, a música é essencial porque a tradição ainda é o que era e não há festa sem gaiteiro.

Agência Ecclesia

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