Era o tempo da 1.ª Greve Geral de Estudantes, à qual o Liceu Nacional de Bragança aderiu a seguir ao Liceu de Setúbal e ao de Vila Real.
15 dias de Greve. Nada se destruiu, só se construiu. Colocámos vidros novos nas janelas do Liceu em substituição dos que estavam partidos, com dinheiro que conseguimos angariar entre aqueles que estavam do lado da Greve. Limpámos acessos e caminhos públicos ao Liceu assim como o espaço ajardinado dentro dos muros. As raparigas limpavam o chão e as paredes. Ficou tudo "quase" a brilhar. Aproveitámos bem o tempo enquanto esperávamos que o Governo regressasse à média de 12 valores para podermos dispensar de exame. Posteriormente exigíamos que a média de 10 fosse suficiente para passar de ano sem exame. Foram dias e noites duras porque era preciso estar às 9 horas da manhã nas RGAs. Eu e outros, dormimos muitas vezes no palco do Salão de Festas enrolados nos panos de boca de cena para não falharmos no início das sessões sempre muito participadas. O Liceu estava em polvorosa. Não havia aulas mas os alunos participavam em muitas actividades culturais e desportivas organizadas para ocupar o período da greve.
No início, a maioria dos Pais estava contra a Greve Geral e chegámos mesmo a ter pistolas apontadas à cabeça em sessões de esclarecimento que efectuámos à noite. Depois, fomos ganhando terreno e recebendo sinais de apoio. Já nenhum aluno tentava sequer entrar para as salas de aula. Os piquetes de greve, dos quais eu era o responsável, uma das muitas responsabilidades que tivemos que assumir uma meia dezena de colegas e acima de tudo amigos, e nos quais a rapaziada do Lar da Goulbenkian era a principal força e, os primeiros a chegarem, já que estavam logo ali ao lado, podiam começar a desmobilizar. Já nem os professores tentavam ir às aulas. Desistiram de encontrar as salas de aula, vazias.
Era também o tempo dos saneamentos daqueles professores que, de uma maneira ou outra, considerávamos ligados ao anterior regime.
Os professores mais “duros” ou mais rigorosos e que eram, “quase”, odiados pela maioria dos alunos, nunca foram alvos de saneamento. Nesse aspecto particular, honra nos seja feita, soubemos distinguir as coisas e esse facto granjeou-nos muitas simpatias de professores, pais, funcionários e consequentemente da população da cidade. Fizemos, menos-mal, o que tinha que ser feito na altura.
Num livro, recentemente editado em Bragança, fala-se no saneamento do Reitor. Isso não corresponde à verdade. A figura do Reitor já nem existia porque foi logo extinta pós 25 de Abril e se existia na teoria, era uma figura completamente irrelevante...nem me lembra quem era e/ou se era.
Informação e contra-informação.
Os partidos, os movimentos, as associações, produziam comunicados uns atrás dos outros nas velhinhas máquinas de escrever em teclado nacional hcesar, ou nas mais modernas azert de teclado internacional. Os que tinham acesso a algumas instituições, como era o Paço Episcopal e a sua Casa de Trabalho, já conseguiam fazer uns trabalhos em Offset.
(H.M.)
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(Henrique Martins)
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