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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 28 de julho de 2019

Recordando Bragança de antigamente

Por: Humberto Pinho da Silva
(colaborador do "Memórias...e outras coisas..."

Acedendo a instâncias de familiar, em abrasadora tarde de Agosto, abalei para o Nordeste, em busca de Bragança; cidade que assistiu a parte da minha juventude.
Quantas décadas correram desde a última visita? Não sei!; quatro?, talvez mais…quase meio século!…
Tinha vinte anos; era jovem, e o coração transbordava de ilusões…O destino levou-me a Trás-os-Montes; e em Bragança permaneci quatro anos, que foram longos e monótonos.
Quis Deus que encontrasse nessas agrestes paragens: aconchego e amor. Aconchego de mãe, e o amor de três maravilhosas crianças, que não sendo minhas irmãs, amei-as como se fossem.
Apeei-me, sobretarde, na moderna rodoviária. Ai de mim! Julgava reconhecer a cidade!… mas necessitei de aturadas pesquisas…
Como se transformou a minha querida cidade!… A vetusta estação ferroviária - agora extinta,- metamorfoseou-se, lavou o rosto, aperaltou-se com graciosos e originais bancos.
Desci à Praça da Sé - pensando de mim para mim: para onde foi a Bragança dos meus verdes anos?!… - Graças a Deus, o afamado clube lá estava sobre o elegante “Chave D’Ouro”,assim como a Sé (agora catedral), o “Café Central”, o “Flórida” e a livraria, modernizada, do Sr. Silva…mas... o Montepio, o Liceu, para onde foram?!…
Enveredei por Abílio Beça, caminhando para o Seminário.
A custo atentava descortinar estabelecimentos, lojistas da minha juventude, mas o esforço foi vão.
A Avenida do Sabor - outrora elegante e snobe, - não passa agora, de vereda desarrumada, com muitas casas delapidadas.
Estaquei na deserta residência do Dr. Pires - nos anos sessenta ouvia-se chilrear irrequietos petizes ; mais a baixo, a do Dr. Flores, com o jardinzinho, onde brincava a bela e meiga menina dos totós, transformado em horta mal cuidada.
Nesse peregrinar pelo passado, cheguei à cidadela. Pelo caminho “vi” - como os olhos se enganam! - “velhos” rostos de meninas que frequentaram o “Sagrado Coração de Jesus”….Como se assemelham! Como a vida se repete!...
Bragança ataviou-se. Está mais cuidada, mais graciosa, mais formosa.
O Fervença e o jardim - onde jovens casadoiros passeavam outrora em quentes noites de Verão, - ganharam espaço, tornando-se quase irreconhecível.
Valeu-me o “Floresta”, velho “amigo”, onde saboreei, nos anos sessenta, apetitosos pratinhos de camarão…
O Loreto alindou-se de sóbrios candeeiros à antiga, e a linha férrea deu lugar à Avenida Sá Carneiro; mas…vieram-me as lágrimas aos olhos… - a humilde Rua da Boavista ficou mutilada!…salvou-se, ainda bem, a casa onde vivi…
Enquanto deambulava, recordei figuras populares do passado: a senhora da Moagem, que me saudava com afecto; o Dr. Artur Flores, que tomava o cafezinho no “ Chave D’Ouro”; o Major Montanha; o Sr. Silva, da livraria; o Sargento Mário, de Vinhais; o Padre Telmo; o Professor Bi; o Sr. Manuel do “Café Lisboa”; a simpática menina da Agência de Viagens; a elegante Fátima; o bondoso Mané…e tantos, que a memória não guardou, mas o coração conserva.
E nesse deambular pelo passado, pareceu-me escutar, destacada da vozearia do café, a voz cheia, forte do Dr. Flores - o melhor médico de então, que sempre tinha a formula, que só ele conhecia, para sarar os males. 
O Dr. Artur Flores parecia estar sempre zangado. Constava que possuía um coração de oiro. Dentro daquele austero Homem, que muitos temiam e tremiam, havia alma generosa, pronta a acudir carenciados…desprotegidos da sorte.
Que saudades sinto da minha pequenina cidade! Bragança das Cantarinhas!, das festas e romarias!, das casas e varandas de madeira!,dos becos tortos e ruas estreitas!, de endiabrados estudantes!, de meninas de olhos cinza e pele cor de centeio!… Que saudades Deus meu! Como é refrigério para a alma recordar esses velhos, e sempre presentes, tempos!…


Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

1 comentário:

  1. Magnifico..recordo a cidade assim da mesma forma eu que tambem vivi na rua da Boavista durante quarenta e dois anos. Nao condeno o progresso... pena estar tao aliado a poderes financeiros que muitas das vezes nao olham da melhor forma para preservar a paisagem urbana de entao.

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