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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 30 de julho de 2019

PORTUGAL NAS ROTAS DE GULLIVER

Jonathan Swift garantiu celebrada memória com o seu olhar sarcástico sobre a sociedade do seu tempo, nos fins do século XVIII, quando se vivia num verdadeiro caldo histórico, mistura de utopias a realizar logo ali com as inevitáveis expressões de soberba, inveja, preguiça e cobardia que não têm dado mostras de definhar neste mundo.
O seu personagem Gulliver é protagonista de viagens a territórios exóticos, artifício literário para reflectir sobre questões do mundo real. A primeira viagem foi a Lilliput, onde tudo era pequeno, corpo e alma das criaturas, governadas por imperador mesquinho, dado a crueldades para impor uma ordem que emanava das suas caprichosas convicções.
Uma das leis mais intrigantes determinava o lado certo para partir um ovo, norma que esteve na origem de um conflito latente, depois ostensivo, violento e sanguinário, levando o próprio Gulliver a fugir a sete pés antes que fosse cumprida uma sentença que o tornaria cego. 
É interessante imaginar hoje uma nova viagem de Gulliver, desta vez ao nosso país, onde se tropeça na pequenez por todo o lado, não na física, porque as últimas décadas fizeram crescer as criaturas, mas nessoutra diminuta alma, que não cresce com papas, bolos, hotdogs e hamburgers. Curiosamente o designativo latino para pequeno é parvo.
Podemos estar num caminho perigoso quando nos confrontamos com frenesins ululantes de grupos fanatizados a exigir mais e mais regras, proibições, aumentos de penas máximas e humilhações públicas se não veem satisfeitos os seus desígnios, muitas vezes a imitar as festas da santa inquisição e com ânimo de participar em lapidações à maneira da que foi descrita nos Evangelhos, no episódio de Maria Madalena, afinal práticas de todos os dias por esses mundos fantásticos das diversas arábias, que continuam a castigar com pau e pedra quaisquer assomos de liberdade.
No Portugal de 2019 não faltaria inspiração ao escritor irlandês. Desde logo a tremenda ousadia do tratamento discriminatório das criaturas do reino, umas impantes de direitos, outras infestadas de desgraças, aquelas tratadas com luvas de seda, estas com botas cardadas a pisar os calos da miséria e do abandono. Enquanto pelas lisboas tudo vai um mar de rosas, um cidadão de Penhas Juntas, para se deslocar à sede de concelho (Vinhais), só o poderá fazer uma vez por semana, precisa de marcar o táxi colectivo e terá que desembolsar três a cinco euros na ida e outros tantos na volta.
Entretanto alguns iluminados dedicam-se a parir novíssimos direitos, manipulando a benevolência geral e rapidamente se arrogam a condição de novos profetas, hirsutos, rubicundos, apontando a unhaca em todas as direcções. Elegeram as beatas dos cigarros como o maior pecado do universo, mas não se preocupam com a trampa espalhada por todo o lado, que prejudica a convivência urbana e favorece a pestilência, porque entendem, eles e os seu apaniguados, os animais de estimação como brinquedos de sangue quente.
Valia a pena encher-lhes as ruas das capitais com vacas indianas para que pudessem sentir os efeitos desse primeiríssimo pecado que é a soberba.


Teófilo Vaz
in:jornalnordeste.com

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