Trás-os-Montes e Alto Douro foi sempre a província mais isolada e esquecida de Portugal. E no entanto da região saíram inúmeros governantes.
Enfim, decorriam os primeiros anos da década de 80, tempo de “vacas gordas» quando o governo de má memória (já veremos porquê), encabeçado por Cavaco Silva decidiu construir uma via que reduzisse o tempo de viagem de Bragança até ao Porto, estimada em mais de 5 horas em média. Apareceu assim o IP4 cujo troço entre Amarante e o Alto de Espinho foi inaugurado em 17 de Dezembro de 1988.
Mal dimensionado, e, repare-se bem que com custos semelhantes poderia ter sido construída desde logo a actual A4. Assim não sucedeu e rapidamente a via mostrou ser um campo da morte. Entre 1996 e 2015, registaram-se 1.273 acidentes com vítimas, apenas no troço compreendido entre Amarante e Vila Real. Destes acidentes resultaram 136 mortos, 200 feridos graves e 1.807 feridos ligeiros (JN, 06.05.2016), alguns deles destroçando famílias inteiras, o que obrigaria à criação da Associação de Utilizadores do IP4 e à colocação de separadores centrais, tornando-a, na prática, numa estrada nacional para vencer «o mar de pedras» que Miguel Torga descreve como ninguém.
Se por um lado os Transmontanos e seus visitantes se livraram das sinuosas e perigosas curvas do Marão, viram-se por outro lado envolvidos em problemas novos relacionados com o gelo, o nevoeiro e a neve, com o consequente congestionamento do tráfego, à semelhança do que acontecera na antiguidade moderna.
Eis porque o governo de José Sócrates, nos primeiros anos do novo milénio, decidiu finalmente «desencravar» Trás-os-Montes e Alto Douro, construindo várias autovias (IC5 Pópulo-Miranda do Douro; IP2 Macedo de Cavaleiros-Guarda; A24 Viseu-Chaves -Espanha com ligação para a região minhota), e de entre elas, a mais importante; a A4 «Autoestrada da Justiça», ligando o Porto a Bragança e Espanha. Viu bem, foi um visionário porque se trata da principal via de acesso de Portugal à Europa Central, aumentando simultaneamente os níveis de segurança e com portagens a preços suportáveis, segundo informa a comunicação social nesta altura.
Sobre este assunto, Júlia Rodrigues (deputada por Bragança) também diz, e bem, que se trata de “Um investimento que terá óbvio retorno para o desenvolvimento socioeconómico do interior, fundamental para a coesão territorial…” (Jornal Nordeste, 19.04.2016).
Contudo não foi fácil vencer a «barreira psicológica do Marão» devido aos interesses económicos e ao posicionamento de certas «forças políticas» que pretenderam sobrepor os interesses privados aos interesses públicos. A obra começada em 2009 (envolveu a construção do maior túnel rodoviário da península Ibérica com uma extensão de cerca de 6 km e níveis mundialmente reconhecidos em termos de segurança), esteve parada por diversas vezes e chegou a ser dada como perdida.
Se, no primeiro caso a paragem nos pareceu de alguma maneira «legítima» obrigando a intensas e demoradas negociações, no segundo caso, o governo de Passos Coelho (transmontano de Vila Real) viria a bloquear a construção do túnel em 27 de Junho de 2011, inviabilizou assim o uso adequado da autovia, e os trabalhos só viriam a ser retomados, por pressão de Bruxelas, ainda assim com enormes custos acrescidos às contas iniciais.
É caso para exclamar: - Que falta de visão política e que desprezo pelas próprias raízes, em nome de um Portugal endividado para cuja dívida a região nunca contribuiu, embora tivesse, e tem, o direito de se endividar como as demais.
Por isso mesmo, e porque os transmontanos e o país estão agora de parabéns, prestamos o nosso tributo a José Sócrates, o único governante que de facto fez alguma coisa pela sua e nossa região, nas palavras de Francisco Ribeiro:
«Só um visionário…lança o projeto Plano Tecnológico, com ele cria as condições para o desenvolvimento tecnológico em varias áreas que Portugal hoje desfruta. Entende que só com um projeto estratégico de desenvolvimento e conhecimento, que inclua o interior, Portugal se desenvolve, chama o Prof. Mariano Gago para ser o rosto dessa ideia. E assim foi durante os seus mandatos muita coisa de bom aconteceu até que 2008 surgiu e não poupou ninguém… ».
Por: Orlando Felix
in: Correio Transmontano no Facebook
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(Henrique Martins)
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