Dada a pertinência do assunto em causa, não tenho dúvidas que a interpretação desta minha escrita suscitará controvérsia. Uns dar-me-ão razão, outros não. Respeito e aceito, natural e pacificamente, a diversidade de opiniões e ações.
Declaro que no meu quintal há uma cadela, que tem vida de cadela. Sem correntes nem restrições recorrentes. No quintal faz a sua vida, não lhe faltando a comida, a bebida, o tratamento convencional legal, tendo com os donos o relacionamento e normal. Aquele que deve existir entre o ser humano racional e um animal. Vivendo e convivendo neste seu mundo, apresenta-se sempre alegre, divertida e bem nutrida. Não incomoda os vizinhos, nem provoca qualquer alarido.
Também, na aldeia, mesmo não vivendo em permanência, procuro dar aos gatos que vagueiam pelo quintal e pelos “baixos” da casa rural, normal apoio para a sua sobrevivência. Sem qualquer restrição que de gatídeos lhes retire a condição.
Sendo oriundo do meio rural, fui educado para ter com os animais, de estimação ou não, o devido e inerente relacionamento, respeitando sempre a sua condição, sem desvirtuar qualquer conceito ou interpretação da humanização. Um gato é um gato, um cão é um cão. E pronto.
Evidentemente, sem colocar em causa os seus direitos, os quais, como os das pessoas, devem ser sempre respeitados. É que, muitas vezes, assistimos a cenas e a comportamentos, que se tornará difícil perceber, se serão racionais os afetos e humanos os sentimentos.
Entre muitas outras cenas, no dia a dia é frequente ver pessoas a passear os seus animais de estimação, não se coibindo de, irresponsavelmente, os espaços públicos conspurcar e poluir, sem qualquer restrição do lugar ou ocasião. Áreas ajardinadas, propícias ao lazer dos idosos e das crianças, ou seja onde qualquer ser humano se poderá divertir e saudavelmente permanecer. Porém, nestes ou noutros locais, que deveriam estar limpos e asseados, com facilidade nos deparamos com cheiros nauseabundos a urina e excrementos de canídeos abandonados, que se tornam constrangedores e de implicações perigosas na saúde pública potenciadores. É verdade que já assisti a cenas de evidente responsabilidade educativa e de sentido de urbanidade de pessoas que estimam os seus cães, ou gatos, em plenos jardins da cidade. Todavia, uma boa parte, mesmo de quem se deveria exigir mais educação cívica e respeito pelos outros, pelo asseio, limpeza e até pela arte, não se coíbe de se pavonear no acompanhamento da passeata dos seus canídeos, promovendo o alçar da perna e dos excrementos dos bichos, o descarte.
Imagine-se uma criança, ou um adulto, sobretudo idoso, de ventre apertado, forçado a “satisfazer as necessidades” num jardim, o quanto seria censurado. Isto para não falar das ladrarias, tantas vezes infernais, que intimidam quem passa na rua, incomodam as vizinhanças e outras coisas mais. Há, até, jardins que dispõem de WC para os animais de estimação, o que não acontece para as pessoas, mas que, mesmo assim, não são usados.
Evidentemente que muitos irão dizer que existe legislação punitiva. Mas que interessa se a mesma não é habitualmente cumprida?!... Pior do que não haver regulamentação é quando existe e não se põe em ação.
Gosto muito da minha cadela, mas quero que ela continue a ser cadela e que ninguém se sinta incomodado com o viver dela!...
Nuno Pires
in:mdb.pt
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(Henrique Martins)
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