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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 7 de maio de 2016

PARA CÁ DO MARÃO

O dito popular “Para lá do Marão, mandam os que lá estão” [na ótica de quem vive no litoral] poderá ter alimentado a ideia generalizada – e o ego de alguns transmontanos – com toda a carga simbológica que representa, que devido ao seu isolamento de longos séculos, com difíceis acessos, isso remetia-os para uma sensação de poder e de “independência”, sendo implícita a rejeição do poder centralizado da muito afastada capital do país. E foi esse poder centralizado que, por demasiado tempo, pareceu desconhecer a realidade e as necessidades “para lá do Marão”, agudizando o fosso entre o litoral e esta região do interior.
Em boa hora, em plena monarquia, nos anos de 1885 e 1886, o ministro Emídio Navarro, com a tutela das pastas das Obras Públicas, Comércio e Indústria, deu indicações para se avançar “com o estudo de todas os caminhos de ferro de via estreita na zona de Trás-os-Montes”, que viria a dar origem, anos mais tarde, às linhas do Douro, Tâmega, Corgo, Tua e Sabor. Foram obras gigantescas, em termos de esforço orçamental, para um país muito debilitado economicamente. Mas também é certo que foram obras que vieram facilitar a vida às populações próximas de tais vias e desenvolver a região e o próprio país, já que permitia o escoamento de variados produtos, com incidência nos produtos agrícolas e nos provenientes da extração mineira e florestal. Nos anos oitenta, do século passado, tudo se desmoronou, por opção política e desinvestimento neste tipo de infraestruturas, levando a novo retrocesso e a algum marasmo, aqui e ali com algumas iniciativas autárquicas pontuais dignas de registo, já em plena democracia, como que a querer reavivar a ideia do citado dito popular.

Foi este território apelidado de “Reino Maravilhoso”, pela mão e genialidade de Miguel Torga, que referiu nos seus escritos “(…) De repente, rasga a crosta de silêncio uma voz de franqueza desembainhada: Para cá do Marão, mandam os que cá estão!... [claro, na ótica de um transmontano] Sente-se um calafrio. A vista alarga-se de ânsia e de assombro. Que penedo falou? Que terror respeitoso se apodera de nós? Mas de nada vale interrogar o grande oceano megalítico porque o nume invisível ordena: - Entre!

A gente entra e já está no Reino Maravilhoso.”

Hoje, precisamente neste sábado, é inaugurada uma importante obra que fura, durante cerca de seis quilómetros, o “oceano megalítico”. Eu chamar-lhe-ia “encrespado e tortuoso oceano megalítico”, ao centrar a atenção na conhecida Estrada Nacional 15, quando tinha necessidade de a percorrer, acompanhando aquele serpentear na Serra do Marão. É certo que vai perder a importância estratégica que deteve durante imensos anos, e que deixarei de ver, lá bem no alto, aquela panorâmica inesquecível de cortar a respiração. Apesar das derrapagens orçamentais, das peripécias que levaram à suspensão das obras e a que tivessem uma duração final de sete anos… também é certo que, a partir de domingo, o Túnel do Marão passa a ter um importante papel na aproximação entre o litoral e o interior transmontano, mesmo com a decisão das portagens definidas por quem está “para lá do Marão” [na ótica de um transmontano].

Acredito que, com este túnel, não fará mais sentido continuar-se a debater e a rebater: “Para lá…” ou “Para cá do Marão (…)!”

Outra coisa também acredito: quando atravessar o túnel no sentido Porto – Vila Real, irei lembrar-me sempre que estou a entrar no Reino Maravilhoso! E pensar como Torga: “Esta terra é a própria generosidade ao natural. Como um paraíso, basta estender a mão”.



Jorge Nuno
in:birdmagazine.blogspot.pt

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