Francisco Gaspar seguiu as pisadas do pai e tornou-se comerciante. A aprendizagem começou cedo, aos 11 anos já trabalhava numa mercearia e ganhava 100 escudos por mês. “Fui trabalhar para uma mercearia de Freixo, eu nem chegava à balança, veja um miúdo com 11 anos, naquele tempo podia-se trabalhar com 11 anos, hoje não , e o meu patrão punha-me um caixote do sabão, vazio e mandava-me subir para o caixote e pesar. A primeira coisa que eu pesei nunca mais me esquece, foram 5 tostões de pimento”.
Depois de cumprido o serviço militar regressou a Freixo para o ofício que tinha deixado. As folgas na mercearia só ao domingo e a partir das 17h. “Para namorar a minha mulher só depois das cinco da tarde nos domingos e a minha esposa nesse tempo estava numa aldeia em Fornos e eu tinha que ir a namorá-la. Comprei uma mota, destas Zundap, metia um basqueiro, e comprei-a em 2ª mão, porque o dinheiro era pouco”.
Com a Revolução de Abril, Francisco também decidiu revolucionar-se, confessa, e com 30 anos monta o seu primeiro negócio. “Ao revolucionar-se o povo eu também me revolucionei, saí do meu patrão e estabeleci-me, num senhor que tinha um café que se chamava senhor Ferreira e ele é que me disse [olha eu alugo-te os baixos do café e a parte de cima, em cima fazes um armazém e em baixo fazes a mercearia], e assim foi”. A vida foi melhorando e Francisco de mercearia passou a ter um supermercado, vai para mais de 20 anos, negócio que mantém atualmente, mas que é gerido pelo filho.
Já reformado, Francisco acompanhou a profunda transformação que se deu no negócio. “Hoje as compras são totalmente diferentes do meu tempo. Hoje existe a internet, o meu filho compra “on-ile”, ou como se diz”. As distâncias nos transportes das mercadorias e no contacto com os fornecedores encurtaram-se com a vinda das novas tecnologias. Bem diferente do tempo em que ia no comboio a carvão e tinha de levar duas camisas, uma para a viagem, que ficava preta do combustível e outra que vestia quando ia negociar com os vendedores.
Aos 71 anos Francisco conheceu o negócio como poucos. Estas alterações agora acompanha-as de longe e diz, que para estas coisas do “online” é preciso ter uma “cabecinha de ferro”.
Texto: Joana Vargas
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