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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Memórias Orais - Francisco Gaspar

“O meu pai estabeleceu-se em Freixo com uma peixaria. Era um negociozinho que não dava muito dinheiro mas dava para sustentar a família. Depois às vezes sobravam muitas sardinhas e a minha mãe tinha que as fritar todas para não se estragarem então éramos sete irmãos e tínhamos que aproveitar as sardinhas. Então quando sabiam melhor era quando íamos ao cinema, naquele tempo já havia cinema, isto em 52, 53 já tínhamos cinema em Freixo mas era uma carrinha que vinha cá que era o “Cinelis Vila Flor”, que vinha cá e que trazia aqueles filmes da Amália Rodrigues, de António Silva, Vasco Santana, o Homem do Ribatejo, eu com dez anos já ia ao cinema”.
Francisco Gaspar seguiu as pisadas do pai e tornou-se comerciante. A aprendizagem começou cedo, aos 11 anos já trabalhava numa mercearia e ganhava 100 escudos por mês. “Fui trabalhar para uma mercearia de Freixo, eu nem chegava à balança, veja um miúdo com 11 anos, naquele tempo podia-se trabalhar com 11 anos, hoje não , e o meu patrão punha-me um caixote do sabão, vazio e mandava-me subir para o caixote e pesar. A primeira coisa que eu pesei nunca mais me esquece, foram 5 tostões de pimento”.
Depois de cumprido o serviço militar regressou a Freixo para o ofício que tinha deixado. As folgas na mercearia só ao domingo e a partir das 17h. “Para namorar a minha mulher só depois das cinco da tarde nos domingos e a minha esposa nesse tempo estava numa aldeia em Fornos e eu tinha que ir a namorá-la. Comprei uma mota, destas Zundap, metia um basqueiro, e comprei-a em 2ª mão, porque o dinheiro era pouco”. 
Com a Revolução de Abril, Francisco também decidiu revolucionar-se, confessa, e com 30 anos monta o seu primeiro negócio. “Ao revolucionar-se o povo eu também me revolucionei, saí do meu patrão e estabeleci-me, num senhor que tinha um café que se chamava senhor Ferreira e ele é que me disse [olha eu alugo-te os baixos do café e a parte de cima, em cima fazes um armazém e em baixo fazes a mercearia], e assim foi”. A vida foi melhorando e Francisco de mercearia passou a ter um supermercado, vai para mais de 20 anos, negócio que mantém atualmente, mas que é gerido pelo filho. 
Já reformado, Francisco acompanhou a profunda transformação que se deu no negócio. “Hoje as compras são totalmente diferentes do meu tempo. Hoje existe a internet, o meu filho compra “on-ile”, ou como se diz”. As distâncias nos transportes das mercadorias e no contacto com os fornecedores encurtaram-se com a vinda das novas tecnologias. Bem diferente do tempo em que ia no comboio a carvão e tinha de levar duas camisas, uma para a viagem, que ficava preta do combustível e outra que vestia quando ia negociar com os vendedores. 
Aos 71 anos Francisco conheceu o negócio como poucos. Estas alterações agora acompanha-as de longe e diz, que para estas coisas do “online” é preciso ter uma “cabecinha de ferro”.

Texto: Joana Vargas



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