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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Ou da Barca!... Ou Ti Bnadito!...

Era no tempo da apanha, em que o rio gelado pela fúria das invernias e das neves derretidas na serra da Sanábria impunha respeito, indo pelas bordas e levando o meio cheio.

As maiores incertezas assaltaram o Ranhiço, quando passou o S. Sebastião. Depois, foi andar de mata cavalos até ao «Alto da Maravilha», que hoje é cruzado pela A4. Passada a Maravilha (maravilhoso mar de Oliveiras medievas), o protesto do Ranhiço andar a altas horas da noite era dada pelo afouto latir dos cães da «Azenha do Riça». Duzentos metros à frente lançou o primeiro grito a «barar» a gélida noite: - Ooouuuu!... E avançava com o coração apertado, apenas escoltado, à direita, pelo enorme muro de xisto da Quinta do Pinto Azevedo. Aqui o grito foi mais forte e o muro agigantou-se e viu-se encurralado entre um muro ligado à fraga e pela frente o marulhar baixinho da correnteza que parecia conversar com a amarradoura e o ancoradouro, indiferente ao intruso. Tomado de pavor ou morre ali regelado ou continua a gritar: - Oooouuu, barqueiro!... Ooouuu da Barca!... Ooouuu!...

Depois, passados longos e longos minutos ouvia-se a contra-senha: - Já bou!... Era o sinal de esperança e de certeza de uma noite dormida debaixo de telha.

Mais uns minutos lobrigou um vulto do lado de lá do rio que desentupia os bofes com umas tossidelas e os passos a estremunhavam a terra batida. Por fim rangiam os cadeados a ser atirados contra as travessas do casco da barca. A barca mexia-se, o ferrão do bareiro chapeava a cada bareirada para a frente e um gemido esforçado do Bnadito, e mais outro e estava no ancoradouro de lá: - Deus nos dê boa noute! – Boa noute nos dêa Deus!, E fizeram a viagem de regresso.

Tenho saudades da Casinha era residência do barqueiro a travessia estava sempre garantida. O Ti Bnadito ou o Ti João Pedro, sem resmungarem, davam a barca a qualquer hora do dia ou da noute, algum retardatário da «Bila», a não ser que o Tuela se enfurecesse e fosse de monte a monte, em que eram precisos dois ou 4 barqueiros, de bareiros bem retesados.

A Casinha era um pequeno e exíguo casebre onde dormia o barqueiro. Sucedeu aos dois últimos barqueiros, com barco próprio, o Acácio da M.ª Rosa e depois, da (companheira) Estrela.

Ainda tenho algumas saudades da Taberna do Policarpo e da filha Gracinda, nunca os vi de mau humor, sempre agradáveis, para a gente da minha aldeia.

Tenho saudades de ver os carros de bois carregados entrarem na barca passando por cima de duas grandes pranchas movediças e depois ser alavancada rumo à outra margem. Dos rebanhos de gado a atravessar na Barca grande, bem enterrada na água, carregada de canhonas e cordeiros que iam para a feira (dos 3, 14 ou 25).

Chelas era um pequeno porto fluvial, antes da construção da Ponte da Formigosa e das camionetas de mercadorias entrarem em Mirandela. Por ali se escoava grande parte dos carretos que vinham da corda de Cabanelas até Vinhais.

Chelas tinha uma estação de carretagem e escoamento dos produtos agrícolas.

Hoje o que me dói mais é a memória de legado carregado de história local ser ignorado. A toponímia da ponte foi infeliz, como deixa muito a desejar a que assinala a maioria das ruas e largos. A toponímia é uma janela luminosa da história local.




Jorge Lage
in:atelier.arteazul.net

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