A Soraia Martinho faz parte desta nova geração que se viu sem trabalho em Portugal e decide arriscar a longas milhas de casa. Educadora de infância, sem trabalho estável, surgiu a oportunidade, como boa transmontana, não hesitou e foi para Angola trabalhar. A Raízes foi saber as disparidades sociais e laborais com que se deparou Soraia desde que chegou a África.
De Vinhais para Angola
Uma vez que em Portugal não conseguia estabilidade a nível de trabalho, quando surgiu a oportunidade de emigrar para Angola, Soraia Martinho decidiu arriscar. Natural de Vinhais, a jovem conta que uma simples ida ao supermercado é completamente diferente em Angola. Realidades diferentes que a Raízes foi conhecer.
Da pacata vila de Vinhais no distrito de Bragança a jovem decide mudar radicalmente de vida e ir viver para Angola, no continente africano. “Uma vez que em Portugal não conseguia estabilidade a nível de trabalho, quando surgiu a oportunidade de emigrar para Angola decidi arriscar. África sempre foi um objectivo para mim. Nunca consegui perceber muito bem porquê mas sempre senti uma ligação muito forte à cultura africana”, explica à Raízes Soraia Martinho.
Educadora de infância foi sempre a profissão de sonho de Soraia Martinho mas depois da licenciatura no Instituto Politécnico de Bragança em 2010 percebeu que não ia ser fácil arranjar um emprego estável na área. “Tive experiêcias fantásticas na área em Portugal. Estive numa academia de crianças. Mais tarde trabalhei também no Jardim de Infância Cáritas Diocesana de Bragança e no Jardim de Infância da Santa Casa da Misericórdia de Vinhais. E durante alguns meses trabalhei também na Comissão de Proteção de Crianças e Jovens em Risco”, conta a transmontana.
Apaixonada por Crianças
“Sempre tive uma enorme vontade de trabalhar com criança, o gosto pela educação de infância foi surgindo gradualmente até que quando chegou a altura de me candidatar ao ensino superior, apenas me candidatei para o curso de educação de infância. Durante o curso não tive qualquer dúvida de que era exactamente o que queria”, refere Soraia Martinho que vive em Angola desde Janeiro.
Como se vive em Angola?
“Angola é muito diferente a quase todos os níveis. As maiores diferenças sem dúvida são no trânsito e na limpeza. Principalmente Luanda é uma cidade carregada de lixo e mau cheiro, realidades tão diferentes do nosso país”, conta a educadora de infância.
Uma simples ida ao supermercado em Angola é também muito diferente. Aqui em Luanda os produtos são poucos e escassos e demora imenso tempo até voltarem a repor, além disso os preços são muito elevados”, explica Soraia que mudou muitos dos seus hábitos desde que vive em Angola.
“É um país que, neste momento, está a passar por uma enorme crise. Não é fácil mantermo-nos cá, o kwanza desvaloriza cada vez mais, a escassez dos alimentos também é cada vez maior, os preços exorbitantes, a criminalidade, tudo que em Vinhais não se sente, Tudo é diferente, por isso não existem maiores diferenças, não há comparação possível. Neste momento a minha vida aqui continua sobretudo pelo amor que ganhei a Angola”, afirma Soraia Martinho.
Inicialmente o choque de culturas e de diferenças de realidades é inevitável. “Felizmente tive uma óptima adaptação e nunca ponderei voltar atrás na minha escolha. Sem dúvida que é um choque de culturas muito grande mas, como sempre se ouve dizer, Angola ou se ama ou se odeia, não existe meio-termo e eu posso dizer que já amo”, exclama a jovem.
Na escola
Soraia é coordenadora pedagógica. “ Em colégios angolanos as educadoras e vigilantes (angolanas) trabalham em contexto sala e as expatriadas trabalham como coordenadoras, visto aqui em Angola não é preciso formação para ser educadora”, explica a jovem que tem a função de coordenar e planificar, preparar e auxiliar as actividades realizadas bem como ajudar as “tias” (como são chamadas ali as educadoras e vigilantes) a nível pedagógico. Neste momento está a coordenar cinco salas: um berçário, uma sala de um ano e três salas de dois anos.
Quando questionamos Soraia sobre as diferenças numa sala de um jardim de infância em Angola e em Vinhais, ela reforça a ideia de “que não há comparação possível entre Portugal e Angola, são realidades diferentes, prioridades muito distintas. O método de ensino também é bastante diferente”, conta.
“O que mais difere é mesmo o método de trabalho. Aqui as educadoras de sala não planificam, quem planifica somos nós, coordenadoras, com a cooperação delas. Aqui trabalhamos sempre centradas nas Inteligências Múltiplas.
Ainda que isso aconteça de forma diferenciada, de criança para criança, influenciado por múltiplos factores, no qual não é menos relevante o contexto de desenvolvimento, nomeadamente entre outros o contexto cultural”, acrescenta.
Quanto ao futuro a jovem de Vinhais diz só regressar se a mandarem embora, entre risos e um ar emocionado de quem deixa os seus à procura de uma vida melhor.
Por Joana Martins Gonçalves
Revista Raízes
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