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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

O INVERNO E SUA UTILIDADE

Quem terá inventado o Inverno e para que serve? Quando fomos expulsos do paraíso terrestre, nesse local, o que se sabe é que era sempre Primavera e Verão: uma sucessão de dias magníficos, luminosos, cheios de sol, amenos e tépidos, até mesmo algo quentes por volta do meio-dia. Todos os cantos de pássaros e vastidões de verduras, coloridas de florzinhas, suavizavam a austeridade mineral do big bang que precedera a Criação propriamente dita seguida de todos os equipamentos e acompanhantes animais de todas as espécies. 
O Génesis não fala em nenhum momento das estações frias e intermediárias. Nem do Outono fresco em que começam a murchar as belezas do mundo nem dos Invernos rugosos que beliscam e endurecem tudo aquilo em que tocam. O programa de Adão e Eva não compreendia nada disto. Ficou claro portanto, desde o início, que a mais bonita das estações, na terra, não poderia durar muito.  
Os arrepios da carne e os calafrios não enganam sob o efeito maléfico do Inverno com os seus ventos escorregadios, as suas trombas de água gelada ou de neve que tarda a fundir.
Não passa duma fuga permanente o Inverno. Nunca deixa ninguém sossegado nem o espírito descansado através do suave ar purificado. Bate forte, martiriza, vergasta as portas das nossas casas, fustiga as nossas janelas geladas, espalha por todo o lado um cinzento radicalmente triste e sem perspectivas e vai reinando através do barulho que vai espalhando. É perverso o Inverno. E teimoso. Para que serve então? Acentua as desigualdades e torna-as aos pobres ainda mais insuportáveis. A sua única vantagem é, nesta ótica, conduzir o nosso olhar na sua direcção e estimular pequenos reflexos solidários com os nossos semelhantes mal alojados, pouco aquecidos, mal alimentados. Fiquemos por aqui. Não é alegre o Inverno quando os cortejos gelados circulam pelas ruas da aldeia, pelos nossos cemitérios. Mais uma tia, mais um amigo, mais um…“mais velho”, “muito novo”.    
A sua única utilidade, pelo que parece: é ensinar-nos, pela sua imposição, a virtude da paciência e a sabedoria da espera. Sabemos pertinentemente que o Inverno não pode durar mais do que uma estação, com os seus longos e escuros dias nas duas extremidades, entrada e saída.
Pela experiência, sabemos que se trata dum túnel com duas saídas e que a recompensa das nossas esperas, são praias de luz acrescida, da aurora ao pôr-do-sol. Ninguém o ignora; enquanto ele nos castiga, as plantas e os animais aproveitam para se preparar – com um ar de quem dorme – para um renascimento primaveril, para uma ressurreição dos ramos e das folhas, asas de verdura e de cor, alegrias renovadas. 
Basta esperar. Com toda a confiança, por bem encostados que estejamos num cantinho do mundo, pequeno e recuado. Esperar é uma arma que não engana nunca aqueles que sabem utilizá-la. Os impacientes acabam sempre por tropeçar no tapete, escorregam no chão vidrado, constipam-se com a mínima corrente de ar. Apanham todo o tipo de vírus. Os que têm paciência, estes, insensíveis à dor das manhãs frias e das noites trespassadas de humidade, esperam pela saída com a calma lentidão dos produtos que saem do frigorífico para serem descongelados. Estes sábios entre os sábios são os melhor colocados para acolher antes dos outros a chegada muito previsível do momento climático mais extraordinário do nosso planeta: a Primavera!
A primavera bendita em que o frio nos impediria por pouco de acreditar ainda, na permanência provada desta perspectiva, na ideia de que em confiança, a Primavera triunfará atrás do cinzento, do nevoeiro cerrado e do vento gelado, no momento escolhido pelos planos misteriosos da natureza: as flores, a suavidade, as nuvens brancas, as doçuras do mel e do azul do céu tal é o primeiro ensinamento do Inverno, este mestre é a esperança.



Adriano Valadar
in:jornalnordeste.com

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