Quintanilha Rock: atingiu a maioridade o festival ibérico, amigo da natureza e onde do cardápio só faz parte a verdadeira comida transmontana.
O Quintanilha Rock, que decorre na aldeia brigantina que lhe dá nome, começou quinta-feira e estendeu-se até sábado. O evento tem agitado as águas do Maçãs, no Colado, a pouco mais de quilómetro e meio da localidade, mas de há dois anos para cá, antes de pôr o rio a mexer, tem subido à própria aldeia para que os festivaleiros conheçam os recantos de Quintanilha e para que os locais o assumam como um evento seu.
Para Manuel Fernandes, filho da terra, trazer o festival à aldeia “é uma alegria”, já o evento em si “é uma maneira de desopilar no verão”, até porque “durante o ano isto está morto”. E desengane-se quem acredita que a azáfama incomoda pois “o barulho desperta a energia que aqui há adormecida”.
Sentado num amontoado de pedras, à porta de uma das adegas que se abriu, no primeiro dia, José Miranda, na aldeia nascido e criado, ia contando que “os visitantes fazem falta”. Note-se que não era poucos os que iam entrando e saindo para provar vinho e comer presunto.
Além do assento, Duarte Tomé também partilhava opinião com o conterrâneo. “Ficamos muito contentes de ver cá tanta gente”, assumiu.
Henrique Martins não é da aldeia mas “é como se fosse” e para ele, presença assídua no festival, desde os seus primórdios, a receber festivaleiros e locais, enquanto ia partindo presunto e trocando conversa, contava que o que o distingue dos demais é o “encontro intergeracional”.
Nem só de música se faz um festival assim. O aroma da comida transmontana, feita ao lume, em potes ou na grelha, é uma das memórias que o Quintanilha Rock deixa aos festivaleiros. Pelas mesas do Colado, onde as refeições são comunitárias, não faltou feijoada de javali, galo no pote e trilogia de porco bísaro. Entre repetentes e novatos, quem por aqui passa não fica indiferente.
Pedro Rodrigues conhece o festival desde os primeiros tempos e faz questão de vir porque “é muito familiar” e “as pessoas são muito acessíveis”. Pela primeira vez em Bragança, mas da Guarda, veio José Moreira. O festival representa o que encontrou quando se mudou para Trás-os-Montes: “acolhimento” e “disposição” das gentes para “ajudar”.
O Quintanilha Rock que,quando o mudaram para o Colado, paredes meias com o Maçãs, lhe chamaram Rock in Rio, começou por “brincadeira”.
Antigamente era uma noite e integrava a festa do Santo da Viola, padroeiro da juventude. “Faziam-se dois dias de festa e um era dedicado ao rock”, começou por relembrar Leonor Afonso, da organização. “Primeiro foi no campo de futebol e depois começou a acontecer no rio e transformou-se no que hoje conhecemos”, assinalou. E voltamos à adega para recuperar uma frase exemplificativa do começo do rock em Quintanilha.
A fazer companhia a Henrique Martins estava um dos fundadores. Manuel Lopes, de Bragança, diz que isto “foi uma maluquice”.
Lembraram-se e pronto...
Mas tem havido cada vez mais gente? “Não queremos que isto tenha gente, queremos que tenha boa gente. É um festival de nós para vós”, frisou.
O Quintanilha Rock marcou a maioridade com a presença de mais de 30 músicos locais. E neste ano, em que se sopraram as 18 velas, a aldeia, que recebeu cerca de seis mil pessoas, deu-se ainda a conhecer através de cartas de amor que lhe foram escritas à mão pelos locais e depois musicadas para todos ouvirem.
Uma das principais novidades desta edição foram as várias iniciativas que decorreram no sábado, direccionadas para pais e filhos. Raiva Rosa, Cassete Pirata, Fast Eddie Nelson e Whales foram alguns dos nomes do cartaz de 2019.
Carina Alves
in:jornalnordeste.com
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