sábado, 19 de junho de 2021

Grifos no PNDI: o nascer das novas gerações

 "A escarpada parede é uma enorme pintura abstrata em diversos tons de amarelo, e nem apetece daqui sair enquanto houver luz". Assim descreveu José Saramago, no livro "Viagem a Portugal", as escarpas sinuosas do vale do rio Douro, na fronteira com Espanha, um santuário onde colónias de grifo (Gyps fulvus) encontram o local ideal para viver, nidificar e gerar a sua descendência.

Grifos nas arribas do rio Douro. Still de vídeo.

Nas fragas íngremes que ladeiam este rio, que une muito mais do que separa, onde as sombras dançam projetadas nas arribas, ocultando e revelando a biodiversidade que aqui ocorre, o nascer das novas gerações de grifo está envolto numa sucessão de atos cujo palco principal se encontra em pleno Parque Natural do Douro Internacional (PNDI): cópula, nidificação, postura de ovos, incubação, nascimento das crias, provisão de alimento e cuidados com os descendentes e defesa do território.

A equipa do projeto Sentinelas - Rede de Monitorização de Ameaças para a Fauna Silvestre (www.sentinelas.pt) teve a oportunidade de captar imagens únicas e comportamentos, em estado selvagem, de grifos no PNDI durante a época de reprodução de 2021, nomeadamente no final do mês de março, em ações de monitorização dos grifos-sentinelas marcados com emissor GPS e anilhas no âmbito do projeto. Um dos protagonistas do vídeo é o grifo Arco, marcado na Zona de Proteção Especial (ZPE) Douro Internacional e Vale do Águeda no dia 18 de novembro de 2019.

O grifo é uma espécie gregária que se reproduz em colónias e que nidifica sobretudo em escarpas rochosas de grandes dimensões. Os seus ninhos, feitos principalmente nas saliências ou pequenas cavernas nas escarpas, podem ser reutilizados em anos sucessivos. Em Portugal, esta espécie está classificada como “Quase Ameaçada”. A utilização de iscos envenenados, a redução da disponibilidade de alimentos, a diminuição do aproveitamento pecuário extensivo, a perturbação humana, a eletrocussão, a degradação dos habitats, a perseguição humana e a instalação de parques eólicos são as principais ameaças para esta espécie.

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