Reputo elemento complementar para a seriação dos costumes nacionais enumerar as diversas «ervas místicas», umas constituindo verdadeiros amuletos, outras atributadas de virtude medicinal.
Se bem que, na cantiga referida por Eça de Queiroz
Em manhã de S. João
o certo é que se torna sobremodo arrojado catalogar todas aquelas que de facto o sejam, sob o ponto de vista popular.
Não pode, pois, revestir pretensões a exígua coletânea que damos agora e perante a qual seria justificada a desaprovação dos botânicos, ou ainda, a dos ervanários.
Um dia, Ramalho Ortigão, que soube, como poucos, servir a nossa terra, não teve mão em si que não firmasse um rosário de «sanjoaneiras», onde há quadras, como estas, típicas:
S. João botou chamados
Para ressurgirem os mortos
Da ala dos namorados.
S. João tocou trombeta
Para dar noivas aos noivos
Da antiga nau Catrineta.
S. João tocou tambor
Para acordar almas de freiras
Que morreram por amor.
Pois bem! Com não menor carinho pelos costumes humildes do rincão bem amado, eis o que, em jornadas por diferentes pontos, apreciei, quanto a «ervas místicas».
Possível é que a mesma planta surja com dois ou três nomes diferentes, outorgados pelas várias regiões onde lhes colhi a designação.
A destrinça, todavia, não cabe ao escritor que a si unicamente se reserva a tarefa de constatar o facto, pelo que a ele se prende de nobremente tradicional:
Eis, pois: Alecrim, alfádega, alfazema, almíscar, arruda, funcho, erva-doce, erva-cidreira, hortelã-pimenta, maçã camoeza, manjericão, manjerona, malva-rosa, murta, nêveda, limonete, rosmaninho, salva, segurelha, serpão, tomilho, trevo, vergamota.
E não nos despedimos, por enquanto, do inquérito, que prosseguirá a seu tempo.
Fonte: “Terra Portuguesa”, nº27-28 – Out-Nov de 1918
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