Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 5 de março de 2022

O Cego e o mealheiro | Conto Tradicional do Povo Português


 “Era uma vez um cego que tinha ajuntado no peditório uma boa quantia de moedas.

Para que ninguém lhas roubasse, tinha-as metido dentro de uma panela, que guardava enterrada no quintal, debaixo de uma figueira.

Ele lá sabia o lugar, e quando ajuntava outra boa maquia, desenterrava a panela, contava tudo e tornava a esconder o seu tesouro.

Um vizinho espreitou-o viu onde é que ele enterrava a panela, e foi lá e roubou tudo.

Quando o cego deu pela falta, ficou muito calado, mas começou a dar voltas ao miolo para ver se arranjava estrangeirinha para tornar a apanhar o seu dinheiro.

Pôs-se a considerar quem seria o ladrão, e achou lá para si que era por força um vizinho.

Tratou de vir à fala, e disse-lhe:

– Olhe, meu amigo, quero-lhe dizer uma coisa muito em particular que ninguém nos oiça.

– Então que é, Senhor Vizinho?

– Eu ando doente, e isto há viver e morrer, por isso quero-lhe dar parte que tenho algumas moedas enterradas no quintal, dentro de uma panela, mesmo debaixo da figueira. Já se sabe, como não tenho parentes, há-de ficar tudo para vossemecê, que sempre tem sido bom vizinho e me tem tratado bem. Ainda tinha aí num buraco mais umas peças, e quero guardar tudo junto, para o que der e vier.

O vizinho ouviu aquilo, e agradeceu-lhe muito a sua intenção e naquela noite tratou logo de ir enterrar outra vez a panela de dinheiro debaixo da figueira, para ver se apanhava o resto das peças ao cego.

Quando bem o entendeu, o cego foi ao sítio, encontrou a panela e trouxe-a para casa, e então é que se pôs a fazer uma grande caramunha ao vizinho, dizendo:

– Roubaram-me tudo! Roubaram-me tudo, Senhor Vizinho.

E daí em diante guardou o seu dinheiro onde ninguém por mais pintado dava com ele.”

Teófilo Braga, Contos Tradicionais do Povo Português – Porto – 1883 (texto editado)

Sem comentários:

Enviar um comentário