Ligadas aos animais, correm muitas superstições, das quais bastantes se incluíram noutros lugares. Agora ficam aqui reunidas umas, mais características, tanto de carácter geral como de aplicação a um ou outro animal.
Crê-se (por exemplo, em Mangualde e Lisboa) que é bom ter animais em casa, pois certas doenças, e até a morte, vão para eles, em vez de atacarem as pessoas.
Na Idade Média a imaginação viveu imenso de crenças com base na vida dos animais, a que se atribuía influência, por vezes decisiva, na vida humana.
Na literatura portuguesa da época encontram-se referências a obras com aqueles temas, em que se procurava na história natural o que parecesse mais útil à instrução religiosa, pelo seu interesse alegórico:
– os bestiários e os volucrários,
– manuais de história natural,
– escritos com intuitos moralizantes.
Quando nasce um animalzinho, em Pragança, baptizam-no, isto é, dão-lhe um nome e uns dias depois: Cabana (de galhos tortos), Riscada, Preta, Sara (de cor branca junto da boca!).
A cada cordeirinho ou cabrito põem-lhe uma cornicha ao pescoço, por causa do quebranto. E também quando um animal tem diarreia atam-lhe ao rabo uma fita encarnada.
O efeito maravilhoso do chifre é vulgarmente acreditado: um colocado na lareira repele os feitiços que queiram fazer ao dono da casa ou à sua família – Crê-se em Santa Eulália de Fermentões, concelho de Guimarães.
Superstições e crenças religiosas
Frequentemente as superstições confundem-se com as crenças religiosas. Aceita-se (Évora, etc.) que o hálito das vacas é santo, porque Jesus nasceu junto de uma.
Quem promete cereais para uma festa manda-os pendentes de um jugo levado por dois bois. Os bois jungidos vão na frente da procissão, às vezes em grande número – por exemplo, quinze (Felgueiras, concelho de Moncorvo).
Santo Antão é protector do gado cabrum, lanígero e vacum. Quando há uma epidemia no gado, o dono deste promete uma rês ao santo para a epidemia passar. Na véspera da festa vai com o gado dar voltas à igreja, que tem as portas abertas: a primeira rês que se escapa para a igreja é a que fica pertencendo ao santo (Parede, concelho de Alfândega da Fé).
Em Tolosa, S. Marcos é advogado do gado vacum; Santo Amaro protege especialmente as ovelhas e cabras, e a ele prometem um borrego, se o gado se criar bem. Santo António é advogado de todo o gado.
Patrono dos pastores
O patrono dos nossos pastores é S. João, que é representado com um cordeiro. Os pastores da serra da Estrela, nesse dia, vão lavar o gado ao rio.
No Jarmelo, os pastores fazem cruzes, com anil ou almagre, na lã, para não dar o mal às ovelhas e para não entrarem as bruxas com ele.
Quando nasce um borrego ou um cabrito, se é esperto dizem: «Tão castiço que é! Benza-o Deus!» ou «Santo António o guarde!». Se é fraco, dizem apenas: «Tão rélezinho que é!» (Não dizem «Benza-o Deus!»). No tempo das festas, os pastores levam o gado em volta da ermida, e às vezes nas procissões.
Em Seia há uma reza a S. Romão para espantar os lobos, mas S. Romão é advogado contra os cães danados. Também responsam os lobos, no Barroso, para não irem atacar o gado, quando ele fica no monte.
Parece que é o responso de Santo António, mas a pessoa que me informou só se lembrava das seguintes palavras: «… se o bicho tivesse a boca aberta, que não a pudesse fechar; se a tivesse fechada, não a pudesse abrir…»
Fonte: Etnografia Portuguesa – vol.VI, J. Leite de Vasconcelos (texto editado) | Imagem de destaque: Jean Baptiste Thomas. Bendición de los animales en San Antonio Abad. Roma, 1823.
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